CENTENÁRIO DA
REVISTA “A INFORMAÇÃO GOYANA” (1917-2017)
por XIKO MENDES
(Cadeira 6)
Agora, neste sete
de setembro de 2017, celebraremos 90 anos da Pedra Fundamental da Nova Capital
do Brasil. O fato remete ao compromisso do Estado Republicano inscrito no
artigo 3º da Constituição Federal de 1891 quando, mediante emenda apresentada
pelo deputado teuto-catarinense Lauro Müller, tornou-se obrigatória a
responsabilidade do Governo em construir uma nova sede para nosso país no
interior. Antes, em 1877, já tinha estado aqui no Planalto Central, o
historiador e diplomata Francisco Adolpho de Varnhagem (1816 – 1878), o
Visconde de Porto Seguro, o nosso primeiro ventríloquo na defesa sincera e
efetiva da interiorização da capital.
Há 140 anos, ele
passou todo o primeiro semestre de 1877 morando em Formosa-GO e dali andou em
cima de muares percorrendo e estudando o espaço no qual, em 1960, seria
construída Brasília. Desse apego atávico-brasílico do Visconde às terras
planaltinas, surgiram dois livros: “Memorial Orgânico” (1849) e “A Questão da
Capital: Marítima ou no Interior?”, leituras indispensáveis para quem busca
(re)interpretar essa “Brasília Subterrânea” cuja historicidade pré-DF foi bem
evocada, em 1994, por Paulo Bertran, na obra lapidar “História da Terra e do
Homem no Planalto Central”. Nela, esse
goiano-anapolino-sírio-libanês-cerratense, faz narrativa singular sobre um
território que há 60 anos, em 1957 – data da transferência, não da capital, mas
do Distrito Federal, para o “meio-centro” de Goiás – hospedaria os poderes da
União.
Pois bem...
depois de tanto preâmbulo, é importante lembrar que junto ao Relatório da
Missão Cruls (1892-1894) – incontestável documento-base para entender os
desejos da elite política nacional sobre a REInvenção do Brasil nos anos
1960/70 (combinação de Ditadura com destruição do Cerrado vendido ao
Agronegócio, mais torturas, exílios e volta de uma suposta “nova república com
uma demo-cracia que ainda não mostrou a que veio) – acrescento outro documento
fundamental para entender a “Brasília Subterrânea”. Lembro-me aqui da
famosa-anônima revista “A INFORMAÇÃO GOYANA”. Fundada no Rio de Janeiro em 1917
(ano do Centenário das Greves que abalaram o pacto Cafeicultura-Indústria no
eixo carioca-paulistano), essa revista, editada por Americano do Brasil e
Henrique Silva, falava de Goiás para um Brasil-Literâneo-Alienado-Centralizado com
olhos que ainda não tinham se desgarrado da Baía da Guanabara e do Porto de
Santos (pontos mais próximos para contatos da burguesia brasileira com a Europa
e o mundo-ventrílogo que ainda falava
Francês).
A revista, que
circulou até o início da década de 1920, trazia enfoques editoriais de singular
importância para mostrar à elite míope litorânea como é que se vivia bem longe
das praias atlânticas, no oco do Mundo-Brasil onde triunfava, no anonimato e na
“braveza rústica do Sertão”, um povo trabalhador, mistura cabocla-mameluca
entre bandeirantes, pecuaristas, mineradores e etnias indígenas acossadas ou
cooptadas para juntos parirem uma nação tapuia-tupiniquim-CERRATENSE, que
resultou nisso que somos depois de Brasília no Planalto Central.
Como parte desse
projeto editorial maluco-utópico que juntou dois sonhadores (um com
nome-sobrenome-adjetivo das Américas; outro com nome que evoca o infante D.
Henrique, aquele velho português que incendiou corações adormecidos no Portugal
de 1415, marco-zero das navegações europeias que chegaram às Américas no final
daquele século XV), a revista “A INFORMAÇÃO GOYANA” comemora SEU CENTENÁRIO em
2017, em meio ao anonimato cívico de sua efeméride, graças ao silêncio amnésico
da elite política brasileira e da tal “elite intelectual e acadêmica” que diz
(re)interpretar o Brasil-Profundo a partir, por exemplo, de Euclides da Cunha
(autor de “Os Sertões”, em 1902) ou de Guimarães Rosa (autor de “Grande Sertão:
Veredas”, em 1956 – ano de posse presidencial do JK). Mas não conseguem
celebrar dois intelectuais que há cem anos falavam de um Brasil desconhecido da
elite litorânea.
Americano do
Brasil e Henrique Silva assim como os CEM ANOS DE SUA REVISTA “A INFORMAÇÃO
GOYANA” passam ao largo da memória nacional como se nenhuma contribuição
tivessem dado ao Brasil antes dessa Brasília de hoje da qual emergem (ou
submergem?) tantos governantes medíocres.
Foi esse “AMERICANO” (DO BRASIL) que plantou a semente de um novo país,
obrigando o cumprimento do artigo 3º da CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1891: no
CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, ao meio dia, em sete de setembro de
1922, era lançada na então Planaltina (cujo nome faz cem anos em 2017), a hoje
anônima PEDRA FUNDAMENTAL DA NOVA CAPITAL DOS “ESTADOS UNIDOS DO BRASIL” (esse
era na época o nome-sobrenome macaqueado que tínhamos e com o qual nos
apresentávamos ao Mundo de uma Europa enriquecida com as riquezas ameríndias
levadas entre as águas do Atlântico, o mesmo mar-oceano que até hoje
ofusca/entorpece a visão de Estado que ainda governa o povo como se os
políticos estivessem de olho para a praia e de costas para nós, o Goiás-Sertão,
o Brasil-Sertão-Enigma, do qual já nos falavam Frei Vicente do Salvador –
1564/1636: “um país que anda como caranguejo, sem desgarrar-se da praia”).
A revista “A
INFORMAÇÃO GOYANA” é um marco editorial único para se entender esse Brasil
antes da Brasília que transmutou-se no Planalto Central. Que vocês, meus
leitores, juntem-se a mim e celebrem, diante do silêncio amnésico da elite
política e acadêmica, esses cem anos de um projeto de comunicação que mostrou
Goiás para o Brasil-Litorâneo e cobrou dos governantes da época que honrassem a
Constituição de 1891.
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