sábado, 26 de agosto de 2017

100 anos da revista A INFORMAÇÃO GOYANA

CENTENÁRIO DA REVISTA “A INFORMAÇÃO GOYANA” (1917-2017)


por XIKO MENDES (Cadeira 6)

Agora, neste sete de setembro de 2017, celebraremos 90 anos da Pedra Fundamental da Nova Capital do Brasil. O fato remete ao compromisso do Estado Republicano inscrito no artigo 3º da Constituição Federal de 1891 quando, mediante emenda apresentada pelo deputado teuto-catarinense Lauro Müller, tornou-se obrigatória a responsabilidade do Governo em construir uma nova sede para nosso país no interior. Antes, em 1877, já tinha estado aqui no Planalto Central, o historiador e diplomata Francisco Adolpho de Varnhagem (1816 – 1878), o Visconde de Porto Seguro, o nosso primeiro ventríloquo na defesa sincera e efetiva da interiorização da capital.
Há 140 anos, ele passou todo o primeiro semestre de 1877 morando em Formosa-GO e dali andou em cima de muares percorrendo e estudando o espaço no qual, em 1960, seria construída Brasília. Desse apego atávico-brasílico do Visconde às terras planaltinas, surgiram dois livros: “Memorial Orgânico” (1849) e “A Questão da Capital: Marítima ou no Interior?”, leituras indispensáveis para quem busca (re)interpretar essa “Brasília Subterrânea” cuja historicidade pré-DF foi bem evocada, em 1994, por Paulo Bertran, na obra lapidar “História da Terra e do Homem no Planalto Central”. Nela, esse goiano-anapolino-sírio-libanês-cerratense, faz narrativa singular sobre um território que há 60 anos, em 1957 – data da transferência, não da capital, mas do Distrito Federal, para o “meio-centro” de Goiás – hospedaria os poderes da União.
Pois bem... depois de tanto preâmbulo, é importante lembrar que junto ao Relatório da Missão Cruls (1892-1894) – incontestável documento-base para entender os desejos da elite política nacional sobre a REInvenção do Brasil nos anos 1960/70 (combinação de Ditadura com destruição do Cerrado vendido ao Agronegócio, mais torturas, exílios e volta de uma suposta “nova república com uma demo-cracia que ainda não mostrou a que veio) – acrescento outro documento fundamental para entender a “Brasília Subterrânea”. Lembro-me aqui da famosa-anônima revista “A INFORMAÇÃO GOYANA”. Fundada no Rio de Janeiro em 1917 (ano do Centenário das Greves que abalaram o pacto Cafeicultura-Indústria no eixo carioca-paulistano), essa revista, editada por Americano do Brasil e Henrique Silva, falava de Goiás para um Brasil-Literâneo-Alienado-Centralizado com olhos que ainda não tinham se desgarrado da Baía da Guanabara e do Porto de Santos (pontos mais próximos para contatos da burguesia brasileira com a Europa e o mundo-ventrílogo que  ainda falava Francês).
A revista, que circulou até o início da década de 1920, trazia enfoques editoriais de singular importância para mostrar à elite míope litorânea como é que se vivia bem longe das praias atlânticas, no oco do Mundo-Brasil onde triunfava, no anonimato e na “braveza rústica do Sertão”, um povo trabalhador, mistura cabocla-mameluca entre bandeirantes, pecuaristas, mineradores e etnias indígenas acossadas ou cooptadas para juntos parirem uma nação tapuia-tupiniquim-CERRATENSE, que resultou nisso que somos depois de Brasília no Planalto Central.
Como parte desse projeto editorial maluco-utópico que juntou dois sonhadores (um com nome-sobrenome-adjetivo das Américas; outro com nome que evoca o infante D. Henrique, aquele velho português que incendiou corações adormecidos no Portugal de 1415, marco-zero das navegações europeias que chegaram às Américas no final daquele século XV), a revista “A INFORMAÇÃO GOYANA” comemora SEU CENTENÁRIO em 2017, em meio ao anonimato cívico de sua efeméride, graças ao silêncio amnésico da elite política brasileira e da tal “elite intelectual e acadêmica” que diz (re)interpretar o Brasil-Profundo a partir, por exemplo, de Euclides da Cunha (autor de “Os Sertões”, em 1902) ou de Guimarães Rosa (autor de “Grande Sertão: Veredas”, em 1956 – ano de posse presidencial do JK). Mas não conseguem celebrar dois intelectuais que há cem anos falavam de um Brasil desconhecido da elite litorânea.
Americano do Brasil e Henrique Silva assim como os CEM ANOS DE SUA REVISTA “A INFORMAÇÃO GOYANA” passam ao largo da memória nacional como se nenhuma contribuição tivessem dado ao Brasil antes dessa Brasília de hoje da qual emergem (ou submergem?) tantos governantes medíocres.  Foi esse “AMERICANO” (DO BRASIL) que plantou a semente de um novo país, obrigando o cumprimento do artigo 3º da CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1891: no CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, ao meio dia, em sete de setembro de 1922, era lançada na então Planaltina (cujo nome faz cem anos em 2017), a hoje anônima PEDRA FUNDAMENTAL DA NOVA CAPITAL DOS “ESTADOS UNIDOS DO BRASIL” (esse era na época o nome-sobrenome macaqueado que tínhamos e com o qual nos apresentávamos ao Mundo de uma Europa enriquecida com as riquezas ameríndias levadas entre as águas do Atlântico, o mesmo mar-oceano que até hoje ofusca/entorpece a visão de Estado que ainda governa o povo como se os políticos estivessem de olho para a praia e de costas para nós, o Goiás-Sertão, o Brasil-Sertão-Enigma, do qual já nos falavam Frei Vicente do Salvador – 1564/1636: “um país que anda como caranguejo, sem desgarrar-se da praia”).

A revista “A INFORMAÇÃO GOYANA” é um marco editorial único para se entender esse Brasil antes da Brasília que transmutou-se no Planalto Central. Que vocês, meus leitores, juntem-se a mim e celebrem, diante do silêncio amnésico da elite política e acadêmica, esses cem anos de um projeto de comunicação que mostrou Goiás para o Brasil-Litorâneo e cobrou dos governantes da época que honrassem a Constituição de 1891.

Nenhum comentário: