segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

*O CORPO
(Joésio Menezes)

Sábado, dez horas da manhã...
O corpo de um jovem jazia estendido no asfalto quente. Fora atropelado por um carro em alta velocidade cujo condutor fugiu sem prestar socorro.
Os bombeiros, que haviam chegado ao local cerca de vinte minutos após o chamado, isolaram a área e cobriram com um pequeno lençol branco o corpo ensanguentado do rapaz.
A poucos metros dali, o pé direito de um tênis de marca que, com o impacto do atropelamento, saiu do pé da vítima.
Curiosos aglomeravam-se. Alguns querendo ver o corpo; outros tentando reconhecê-lo.
As Polícias Rodoviária e Militar também chegam ao local e a primeira providência tomada é desviar o trânsito a fim de evitar outros acidentes.
Chegam os peritos... Medem daqui, calculam dali, analisam de lá e anotam tudo numa pequena prancheta. A essa altura, os bombeiros já haviam identificado o corpo: Renato da Silva Filho, dezoito anos, estudante de Antropologia, filho de Renato da Silva e de Maria Isolda da Silva, residente no Condomínio Canaã, bairro nobre da cidade.
Poucas horas mais tarde, o corpo é levado para o Instituto Médico Legal.
Chega, então, o momento de dar a notícia aos familiares. Mas quem seria o “mensageiro da morte”?
A viatura do Corpo de Bombeiros pára em frente a uma casa de dois pavimentos. O condutor do carro desce e toca a campainha da casa dos “Silva”. Um homem com um pequeno curativo na testa e ataduras no punho direito abre o portão.
- Pois não!...
- O senhor Renato da Silva, por favor!
- Sou eu mesmo!... Em que posso ser útil?
- Boa tarde, senhor! Sou o sargento Ignácio, do Corpo de Bombeiros.
- Pois não, sargento! O que o traz até aqui?
- Hoje, por volta das oito horas da manhã, houve um atropelamento na estrada que dá para o centro da cidade.
- Mas... que ligação tenho eu com esse atropelamento?
- A vítima, senhor!
- Por quê?... Quem é a vítima?
- Seu filho...Renato da Silva Filho.
- Meu filho?... Não, não pode ser!...
- Desculpe-me a frieza, senhor, mas é ele mesmo. Eis os seus documentos.
O senhor Renato estende a mão trêmula e recebe os documentos. Confere-os. De fato, eram do seu filho. Incrédulo, olha para o sargento e pergunta:
- Conseguiram ver o carro? Anotaram a placa? Prenderam o responsável?
- Não!... Mas segundo testemunhas era um carro importado, azul-safira, conversível. Não há muitos desses carros aqui na cidade. Mais cedo ou mais tarde o encontraremos.
- É o que espero! – responde secamente.
- Poderia acompanhar-me ao IML para o reconhecimento do corpo, senhor? - pergunta o sargento.
- Claro!... - responde Renato com a voz embargada - Espere-me só um pouco, vou trocar de roupa.
- Pois não, senhor, esteja à vontade. Ficarei aguardando-lhe na viatura.
Renato, cabisbaixo e com os olhos encharcados, entra em casa. Lentamente sobe os degraus da escada que leva ao andar de cima. Dirige-se ao seu quarto. Senta-se na cama. Desolado, fixa o olhar no nada por alguns segundos. Levanta-se bruscamente e dirige-se até a janela dos seus aposentos. Olha para o BMW conversível, azul-safira, estacionado na garagem dos fundos. O paralama dianteiro direito amassado; o parabrisa quebrado... Volta à cama. Senta-se. Abre a gaveta do criado. Pega um reluzente Taurus, calibre 38, cano longo. Confere se está carregado. Está!... Encosta-o no seu ouvido direito. Puxa o gatilho...
Um estampido seco ecoa pelos cômodos da luxuosa casa. As poucas pessoas que lá estavam correm para ver o que aconteceu... Minutos depois, entra no quarto o sargento Ignácio, que encontra todos estarrecidos com a cena: um corpo ensanguentado; olhos arregalados; o tronco sobre a cama, caído para o lado esquerdo; as pernas dependuradas; uma foto do filho na mão esquerda; o Taurus na outra.
O sargento Ignácio, enquanto liga do celular para a polícia, dirige-se à janela do quarto. Olha para a garagem dos fundos e vê o conversível azul-safira. Vira-se para onde está o corpo e, negativamente, sacode a cabeça.

*3º colocado no Concurso Literário Internacional “Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete”, promovido pela Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayete-MG, em 2009.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

BARRIGA
(Mary Anita Pina Marques)
Barriga
Barriga do amor
Barriga, de que me queixo?
Barriga que dá na vista
Barriga depois da briga
Barriga que dá direitos...
Barriga sem preconceitos
Barriga bonita!
Barriga... barrigas.

E quantas há com barriga?
E quantos querem estar na barriga?
E quantas querem estar de barriga?
E quantos rejeitam barriga?

Parir!
Alimentar
Ou ser a espiã do mundo?
De medo chora pra perder
A barriga!
Ou choro ouvir
Ao sair da barriga...

Barriga não há defeito!
Barriga, te curto tanto
que de vida me encanto
e de ti me enfeito!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O VOO DA AVE
(Lourdes Silva)
Voa, bela ave, ao sol e vento...
Corta o tempo e some na amplidão,
Leva contigo, no bailar das asas,
A saudade que me aperta o coração.

Voa... o teu momento é canto,
O teu lema é a liberdade,
Sente o frescor que vem das nuvens,
Esquece o estilingue da maldade.

Teu voo altivo e resoluto
É grito de revolta e de pesares.
Voa, ave, com coragem insana
Atravessa os campos enxergando os mares.

Voa... veja apenas céu e água,
Barcos perdidos, espumas do mar...
Limpa o teu coração nos ares,
Solta o teu canto e torna a regressar.

Ó minha ave, meu hino,
Tu és para mim lealdade.
Voa na amplidão dos sonhos
Voltando no apelo da saudade!...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ÁGUAS EMENDADAS (NEPSO - NOSSA ESCOLA PESQUISA SUA OPINIÃO)-IBOPE.

Governo do Distrito Federal – GDF

Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (SEDUMA)

Instituto Brasília Ambiental – IBRAM
Estação Ecológica de Águas Emendadas – ESECAE
Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião – NEPSO/Instituto Paulo Montenegro (IPM)
Curso “REEDITOR AMBIENTAL – IV”
Responsáveis: EILA, FRANCISCO e XIKO MENDES, professores do Centro de Ensino Fundamental Pompílio M. de Souza

Projeto

AGENDA 21

MESTRE D’ARMAS 2008


Diagnóstico Socioambiental: Construindo Perspectivas para elaborar a Agenda 21 da Comunidade Mestre d’Armas a partir do Centro de Ensino Fundamental Pompílio Marques de Souza, Planaltina – DF.

Brasília – DF, Novembro de 2007

O POVO têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, BEM DE USO COMUM DO POVO e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao PODER PÚBLICO e à COLETIVIDADE o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações”.

(Artigo 225 da Constituição Federal de 1988).
Aos Moradores do Condomínio Mestre d’Armas,
com a certeza de que juntos podemos transformar este bairro numa comunidade sustentável.


1. Apresentação

O presente projeto de pesquisa foi realizado por professores e alunos do Centro de Ensino Fundamental Pompílio Marques de Sousa, localizado no Condomínio Residencial Mestre D’Armas, comunidade periférica da cidade de Planaltina, que fica no norte do território do Distrito Federal. Este condomínio localiza-se na margem esquerda do córrego Mestre D’Armas cujas nascentes formadoras estão dentro da Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESEC-AE), unidade de conservação de proteção integral com gestão subordinada ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram), da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (SEDUMA), do Governo do Distrito Federal (GDF).

Essa escola passou a existir a partir do ano letivo de 2005 e, apesar de ser registrada como unidade de ensino fundamental, ela oferece diferentes modalidades de ensino-aprendizagem, que vão das séries iniciais ao ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Este projeto é parte do projeto “Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião – NEPSO”, desenvolvido em nível nacional pelo INSTITUTO PAULO MONTENEGRO (IPM).

Participaram desse Projeto os alunos do Projeto SUPERAÇÃO JOVEM, desenvolvido dentro da citada unidade de ensino em parceria com o INSTITUTO AIRTON SENA. Os alunos, total de 25, pertencem em sua maioria às turmas de Ensino Médio, e alguns deles às turmas de Ensino Fundamental, séries finais.

A realização deste Projeto foi conseqüência tanto da vontade dos professores da escola em ampliarem conhecimentos na área de Educação Ambiental para os alunos desta unidade de ensino quanto também porque o condomínio citado fica numa área de grande vulnerabilidade ambiental, na zona de amortecimento da ESEC – AE.

Os questionários foram elaborados e aplicados junto à comunidade do Condomínio Residencial Mestre d’Armas pelos referidos alunos do Projeto Superação Jovem com supervisão dos professores Xiko Mendes, Francisco Messias e Eila, que lecionam na citada escola e participam do curso REEDITOR AMBIENTAL IV, na ESEC-AE – curso de capacitação profissional para atuação pedagógica em Educação Ambiental realizado mediante parceria da SEDUMA com a Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal.

2. Justificativa

Este Projeto foi realizado em função da necessidade de construir junto à comunidade residente do Condomínio Mestre D’Armas um nível de consciência ambiental capaz de transformá-la em ator social importante no processo de elaboração de políticas públicas sustentáveis para o bairro e, sobretudo, fazer com que se elaborem de forma participativa DIRETRIZES PEDAGÓGICAS para um programa sistemático de EDUCAÇÃO AMBIENTAL nas duas unidades de ensino localizadas em seu território.

Os problemas socioambientais do Condomínio são visíveis e exigem cuidados urgentes. A comunidade ainda utiliza o sistema de fossas, boa parte das pessoas ainda faz uso de cisternas ou poços artesianos como alternativa de consumo de água e o sistema de esgotamento sanitário foi iniciado em 2006 pelo GDF, mas a obra permanece inconclusa sem beneficiar os moradores.

O Condomínio, como toda periferia em metrópole em franco crescimento demográfico como Brasília, carece de infra-estrutura urbana. Poucos são os equipamentos públicos comunitários, não há estrutura de lazer e esporte para a comunidade, não há asfalto, a coleta de lixo ocorre em sistema precário, o córrego Mestre D’Armas vem sendo progressivamente poluído... E tudo isso, somado à falta de planejamento urbano e gestão ambiental, contribui para o aumento dos níveis de vulnerabilidade ambiental da comunidade no entorno da ESEC – AE.

Desenvolver projetos como este de OPINIÃO PÚBLICA que realizamos é fator preponderante não só como diagnóstico das condições socioambientais da comunidade, mas como parâmetro necessário à tomada de iniciativas governamentais e por parte das escolas ali situadas no sentido de buscarem, por meio de parcerias institucionais, o melhoramento da qualidade de vida ambiental para os moradores.

3. Objetivos

a) – Gerais:

• Despertar a comunidade residente no Condomínio Mestre d’Armas para a promoção de projetos pedagógicos de Educação Ambiental e políticas públicas de desenvolvimento local integrado sustentável que possibilitem a criação de uma consciência conservacionista na área em questão.

• Fazer com que a comunidade e as escolas do Condomínio valorizem o patrimônio natural da ESEC – AE como um bem também da comunidade.

b) – Específicos:

• Reunir informações preliminares por meio dos questionários de opinião pública cujos resultados possibilitem à construção de debates sobre a inclusão de um PROJETO PEDAGÓGICO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL que formule, discuta e execute um projeto de AGENDA 21 LOCAL no ano letivo de 2008 no Condomínio tendo como referencial de ação a unidade de ensino onde estudam os filhos dos moradores do bairro.

• Envolver a participação de alunos, pais, direção, funcionários e professores da unidade de ensino na discussão de propostas ecopedagógicas voltadas para a abordagem local da realidade vivenciada pelos alunos do Condomínio.

4. Público – Alvo

• Moradores do Condomínio Residencial MESTRE D’ARMAS.

5. Metodologia baseada nas exigências do Projeto “Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião – NEPSO”, do INSTITUTO PAULO MONTENEGRO (IPM).

• Uso de vídeos com enfoque socioambiental para debates entre os professores e alunos do Projeto de Pesquisa de Opinião Pública.

• Uso de textos sobre AGENDA 21 LOCAL, entre outros, com o fim de preparar os alunos para a elaboração e aplicação dos questionários de opinião pública.

• Uso de questionários semi-estruturados com a identificação do Perfil dos Respondentes e questões envolvendo temas-problema na relação homem-meio ambiente no Condomínio Mestre D’Armas.

• Visitas de reconhecimento do bairro monitoradas em várias ruas do Condomínio pelos alunos do Projeto SUPERAÇÃO JOVEM sob supervisão dos professores – coordenadores do Projeto.

• Visita de campo monitorada dos alunos supracitados à ESEC – AE.

• Uso de fotografias para montagem do Painel de Imagens das situações-problema encontradas durante a pesquisa de campo e de opinião pública.

• Tabulação dos dados constantes dos questionários com posterior montagem de PORTFÓLIO.

• Montagem de stand’s para apresentação dos resultados da pesquisa de opinião pública pelos alunos durante congresso local organizado sob coordenação do Programa de Educação Ambiental da ESEC – AE.

6. Cronograma de Execução em 2007:

• Abril e maio: discussão teórica sobre temas-problema identificados como possíveis alvos de um projeto de Agenda 21 Local.

• Junho e 1ª quinzena de julho: Visitas monitoradas.

• Agosto: Elaboração dos questionários de opinião pública.

• Setembro: Aplicação dos questionários.

• Outubro: Tabulação dos questionários e análise dos resultados.

• Novembro: divulgação da pesquisa de opinião pública.

7. Análise dos Resultados da Pesquisa de Opinião Pública referente ao projeto “AGENDA 21 MESTRE D’ARMAS – 2008”

Com o fim de diagnosticar possíveis problemas socioambientais e, a partir deles, construir perspectivas de abordagem ecopedagógica com o fim de montar em 2008 um projeto de Agenda 21 na escola, vinte cinco alunos do Centro de Ensino Fundamental Pompílio Marques de Sousa (CEF Pompílio), que já participam do Projeto Superação Jovem, parceria desta unidade de ensino com o Instituto Airton Sena, saíram a campo para realizar a pesquisa de OPINIÃO PÚBLICA integrante do NEPS0 – Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião – promoção do Instituto Paulo Montenegro (IPM). Sob supervisão dos professores Xiko Mendes, Francisco Messias e Eila, foram aplicados cem questionários, sendo vinte em cada uma de cinco ruas escolhidas no bairro. Para melhor refletir o universo pesquisado, fizeram parte da amostragem quatro ruas laterais e uma rua central.

O NEPSO constatou que a maioria dos moradores respondentes reside no Condomínio Mestre d’Armas há mais de dez anos, pertence ao sexo feminino, tem entre 26 e 40 anos, e ensino fundamental incompleto. Tal fato reflete a existência de uma comunidade periférica cujos chefes de família deslocam-se, diariamente, para mercado de trabalho fora do bairro não acompanhando de perto a rotina de seus problemas. Mostra também que é uma população que aspira o exercício de cidadania sustentável com a garantia de direitos como acesso à educação já que poucos têm curso superior, por exemplo.

A comunidade mestredarmense tem plena consciência de que o bairro onde moram é parte do Bioma Cerrado. Porém, o NEPSO identificou um problema fundamental para o entendimento dos problemas socioambientais da área: a maioria não soube responder, com precisão geográfica, a qual bacia hidrográfica pertence as águas do córrego Mestre d’Armas, que dá nome ao Condomínio. Por estar localizado na região das Águas Emendadas, zona de recarga hídrica que conflui nascentes para as bacias do São Francisco, Prata e Tocantins-Araguia, a população se dividiu em atribuir aos rios Paranã, Maranhão e São Bartolomeu o destino das águas do lugar onde moram. Como a BACIA HIDROGRÁFICA é considerada pela Lei das Águas como unidade de planejamento nas políticas públicas sobre o tema, saber que as águas do bairro deslocam para o São Bartolomeu é indispensável.

A população também mostrou-se dividida quando perguntada sobre que relação estabelece com a Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESEC – AE), que fica próxima ao bairro. Parte dos moradores não a conhece porque nunca foi lá, outra parte já visitou ou MANIFESTA INTERESSE EM CONHECÊ-LA e outros 25% não sabem do que se trata. A divisão praticamente igual de opiniões sobre esta unidade de conservação é pressuposto essencial para que as escolas da área trabalhem em parceria e com a ESEC – AE na realização de projetos de educação ambiental, vitais para a boa convivência da comunidade com o meio ambiente ali preservado.

Para a população, o MAIOR PROBLEMA DO CONDOMÍNIO MESTRE D’ARMAS na relação do povo com o meio ambiente é a falta de saneamento básico com cuidados ambientais. Embora a maioria declarou que as fossas de residência sejam forradas nos lados com manilha ou tijolos, o NEPSO identificou que a reivindicação prioritária dos moradores não é, contraditoriamente, a implantação do sistema de rede de esgoto já instalado, mas ainda sem funcionamento, e, sim, a pavimentação asfáltica do bairro.

Esses dados revelam, por um lado, a vontade dos moradores em ter um bairro com infra-estrutura urbana quando citam o asfalto que, entretanto, impermeabiliza o solo. Mas ao mesmo tempo apontam preocupações ecológicas importantes com os impactos ambientais de saneamento sem gestão ambiental sobre a Microbacia Córrego Mestre d’Armas. Ao se preocuparem com a poluição do subsolo urbano do bairro, os moradores também afirmaram que o lixo seco ou molhado, na maioria dos domicílios, não é separado em sacos diferentes, mas é todo transportado para fora do lote.

Mais de 75% dos entrevistados ignoram se as duas escolas públicas existentes no bairro desenvolvem algum tipo de debate que focalize os problemas socioambientais do Condomínio. Essas escolas e os moradores são responsabilizados pela falta desses debates não obstante parte deles ter respondido que a comunidade não reivindica a realização desses debates. Cerca de 75% deles, igualmente, acham que se a comunidade do bairro for chamada pelas escolas para debater o assunto, a PARTICIPAÇÃO POPULAR ESTARÁ GARANTIDA.

Essa informação de que os moradores manifestarão interesse de participar dentro da escola de debates sobre temas socioambientais é elemento prioritário para a discussão, elaboração e execução de ações de educação ambiental voltadas para a realização de um projeto de AGENDA 21 LOCAL no bairro. O NEPSO constatou que apesar de 45% não saber o conceito de agenda 21, metade dos entrevistados tem interesse em saber o que é ou já possui vaga idéia do que seja um projeto dessa natureza.

Essa pesquisa de opinião pública sinaliza, principalmente, para a unidade de ensino em questão, a necessidade de construir de forma coletiva um PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO onde a concepção de educação buscada para os alunos moradores do bairro não seja em absoluto dissociada dos PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL e ECONÔMICO-CULTURAL do povo ali residente.

Discutir o uso e ocupação do solo urbano, os efeitos físico-químicos do lixo e a possibilidade de um projeto de coleta seletiva, debater os problemas decorrentes da falta de saneamento ambiental, o assoreamento e poluição do Córrego Mestre D’Armas, a definição de áreas verdes e de lazer nas quadras, o ajardinamento de espaços de convivência dentro das escolas, a arborização de ruas e quintais, reforçar a valorização de uma relação harmoniosa entre a comunidade do Condomínio e a Estação Ecológica de Águas Emendadas, conhecer os impactos ambientais do crescimento urbano desordenado em área de risco ambiental com elevado índice de vulnerabilidade como é o caso em questão... são várias, entras tantas outras, questões vitais a serem obrigatoriamente incluídas em um PROJETO DE AGENDA 21 LOCAL como experiência positiva vivenciada e direcionada para um Modelo de Desenvolvimento Local Integrado Sustentável em microestruturas comunitárias como esta que foi objeto da presente pesquisa.

Espera-se que os resultados desta pesquisa façam parte do banco de dados do CEF POMPÍLIO como eixo norteador de futuros debates orientados para a montagem da AGENDA 21 como projeto pedagógico de educação ambiental com amplo alcance social neste bairro onde a unidade de ensino está localizada. Espremido entre o leito do córrego Mestre D’Armas, duas rodovias e a Estação de Águas Emendadas, o bairro tem, felizmente, sua expansão urbana limitada pela falta de espaço físico, o que por um lado parece positivo, mas, por outro, aumenta a pressão antrópica sobre os recursos ambientais existentes. Daí a necessidade de transformar a comunidade residente em parceira de projetos que promovam a consciência ecológica por meio de ações educativas que instiguem a vivência de práticas sustentáveis na relação entre homem e natureza. A escola tem a responsabilidade de construir este debate.

HISTÓRIA DO VALE DO RIO URUCUIA EM MINAS GERAIS.

Rio Urucuia, filho do Velho Chico

“O URUCUIA vem dos montões oestes. [...]. O GERAIS corre em volta. Esses Gerais são sem tamanho. [...]. [...]. Viemos pelo URUCUIA. [...]. O chapadão – onde tanto boi berra. Daí, os GERAIS, com o capim verdeado. Ali é que vaqueiro brama, com suas boiadas espatifadas. [...] Vaqueiros todos vaquejando. O gado esbravaçava [...]. O URUCUIA não é o meio do Mundo?”. (Guimarães Rosa: 1988, 1, 59, 428).

Prof. Xiko Mendes
(da ACAMIA PLANALTINENSE DE ETRAS, Academia de Letras do Noroeste de Minas, em Paracatu, da Academia de Letras e Artes do Planalto, em Luziãnia-Go, e da Associação Nacional de Escritores, em Brasília-DF).


I – LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA:

A Bacia hidrográfica do rio Urucuia nasce na Serra Geral de Goiás, fronteira desse Estado com Minas Gerais. Suas águas vão deslizando entre morros e chapadões, no sentido oeste-leste até chegar ao rio São Francisco (Velho Chico). Os córregos que formam suas nascentes estão nos municípios de Formosa e Cabeceiras, em Goiás, e Buritis – MG. Geologicamente, a maioria dos tipos de solo dessa bacia é parte da Formação Urucuia, que apresenta idade variável entre 80 e 50 milhões de anos.


São onze os MUNICÍPIOS PERTENCENTES À BACIA DO URUCUIA: além de Buritis e Cabeceiras, Formoso, Arinos, Chapada Gaúcha, Pintópolis, Uruana de Minas, Urucuia, Riachinho, Bonfinópolis de Minas e São Romão.

Localizada na margem esquerda do rio São Francisco – o rio dos currais, da integração nacional e do encontro e desencontro entre mineradores e pecuaristas – a bacia hidrográfica em questão também é integrante do AQÜÍFERO URUCUIA. Trata-se de um grande reservatório de águas subterrâneas que ainda dispõe de pouquíssimos estudos hidrogeológicos e por isto é pouco conhecido inclusive entre os próprios municípios que ele abrange.

Este aqüífero ocupa uma extensão de 500 Km. Sua área de abrangência começa no Alto Urucuia onde estão os rios formadores desta bacia como o Piratinga e o São Domingos.

“...na Literatura, o Aqüífero Urucuia foi sempre descrito como entidade de potencial exploratório restrito ao se considerar: condição morfológica de tabuleiros elevados, arenitos com fina granulometria e espessuras restritas das camadas” (BONFIM & GOMES, acesso no site www.cprm.gov.b/rehi/congresso/aqüífero-urucuia.pdf dia 31/12/05).


Estão dentro do Aqüífero Urucuia quase toda a Bacia do Urucuia (MG), toda a Bacia do Carinhanha, as nascentes do rio Corrente (goiano, integrante da Bacia do Paranã), o Sudeste de Tocantins, alguns municípios do extremo sul do Maranhão e Piauí, e principalmente todo o território do Oeste da Bahia onde se encontra 75% da área de abrangência totalizando 120 mil Km2. O aqüífero tem em média 400 metros de profundidade chegando a 1.500 M na área sul de abrangência, ou seja, no Alto Urucuia onde estão os rios de Formoso, Arinos e Buritis. Os poços perfurados chegam a ter uma vazão de 400m3/h variando de 10 a 12m3/h/m. Os ciclos de produção agrícola insustentáveis se forem mantidos com o uso de fertilizantes e agrotóxicos comprometerá a existência desse aqüífero, pois ao contrário das águas superficiais (as do leito do rio) que se decantam em menos tempo, as do subsolo, por seu deslocamento lento, são ainda mais suscetíveis à poluição ambiental.

II – FORMAÇÃO HISTÓRICA

A história do URUCUIA – este grande vale afluente da margem esquerda do rio São Francisco – está diretamente vinculada à colonização do Centro-oeste do Brasil e do Norte de Minas. Com a descoberta de ouro em Minas Gerais em 1694, cresceu progressivamente a penetração de garimpeiros, tropeiros, pecuaristas e aventureiros de toda espécie para o Sertão, sobretudo após a descoberta também do ouro em Goiás e Mato Grosso nas décadas de 1720/1730. Esse fluxo de pessoas e mercadorias transformou o Vale do Urucuia em trevo de contatos entre as regiões mineradoras do Centro-oeste e os Currais do São Francisco, zona de criação de gado que ia do norte de Minas à região Nordeste. Essas relações comerciais, políticas, culturais e até familiares se intensificaram com a oficialização, em 1736, por D. João V, da Estrada Real Picada da Bahia (MENDES: 2002, 139-144).


Essa estrada ligava Salvador-BA, então Capital do Brasil, a Vila Bela da Santíssima Trindade, então Capital do Mato Grosso, na fronteira do nosso país com a Bolívia, num percurso de aproximadamente 2.630 Km que atravessava o centro da Bahia, além de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. O Vale do Urucuia era o ponto de encontro ou interseção dos vários caminhos ou picadas dessa estrada real por meio do Registro Fiscal de Santa Maria do Paranã na fronteira entre Formoso e Flores de Goiás, e do Registro Fiscal da Lagoa Feia, na divisa Formosa-GO/Buritis, ambos instalados também em 1736. Esses postos de fiscalização serviam para administrar o recolhimento de impostos reais e para controle do tráfego evitando o contrabando.

Paralelamente à descoberta de ouro, a expansão da pecuária nordestina pelo rio São Francisco e seus afluentes como o Urucuia se consolidou a partir da década de 1690 quando alcançou o Norte-Noroeste de Minas passando pelo Oeste da Bahia até chegar em Goiás, no Vão do Paranã. Da Bahia os pecuaristas da Casa da Torre (família Garcia d’Ávila) e da Casa da Ponte (família Guedes de Brito), de Goiás a Casa de Grijó (família Cerqueira Brandão) no Paranã e do Norte-Noroeste de Minas os pecuaristas da família CARDOSO se tornaram co-responsáveis pelo intercâmbio entre o comércio de ouro e o de gado. O Urucuia, por causa disto, se tornou região de grande movimentação rodoviária e econômica do Brasil-Colônia e até inaugurar Brasília e desativar essa estrada real com a construção da rodovia BR-O20 (ARAÚJO: 2007, 69).

É dentro desse contexto que se deu a ocupação do Vale do Urucuia a partir do Norte de Minas por meio das cidades de São Romão, existente desde os anos 1690 e transformada em cidade em 1719, e a partir de Paracatu após a descoberta de ouro nesse município oficializada em 1744. Contratado para auxiliar o capitão do mato Domingos Jorge Velho no combate aos índios Cariris, no Ceará, e aos negros quilombolas de Palmares, em Alagoas, o Tenente-Coronel MATIAS CARDOSO DE ALMEIDA e dois membros de sua parentela desceram o rio São Francisco no início dos anos 1690, provenientes de São Paulo, e no retorno se fixaram no Norte de Minas com a instalação de fazendas e fundando cidades como São Romão, Januária e Montes Claros, dentre outras. O URUCUIA SE TORNOU PROPRIEDADE DOS CARDOSO.

Com o fim da Conjuração do São Francisco em 1736, iniciada em São Romão contra a derrama (cobrança de impostos atrasados), o território de Arinos, Buritis, Chapada Gaúcha e Formoso, entre outros nas proximidades, passou a ser colonizado de fato por MATIAS CARDOSO DE OLIVEIRA, filho do Tenente e bandeirante Januário. Daí em diante e também por causa dessa estrada real cujos caminhos margeavam rios afluentes do Velho Chico como o Urucuia, apareceram outros colonizadores que se fixarão como fundadores desses municípios na segunda metade do século XVIII. Antes dessa época, a ocupação se deu por meio da fixação de currais com a criação de gado (v. VASCONCELOS: 1974).

Embora alguns bandeirantes como André Fernandes em 1613 e Lourenço Castanho Tacques em 1670 tenham cruzado o VALE DO URUCUIA, há que se afirmar com certeza que a fixação de moradores nos territórios desses municípios se deu efetivamente após o descoberto de ouro em Paracatu nos anos 1730/40. O trânsito constante de aventureiros pela Picada da Bahia e outras estradas reais como a Picada de Goiás (BERTRAN: 1994, 144-145) que ligava o Litoral (RJ e SP) com o Centro-Oeste passando por Paracatu facilitou essa fixação e a expansão de fazendas e população dentro do VALE DO URUCUIA dando origem às cidades atuais localizadas no entorno do PARQUE NACIONAL GRANDE SERTÃO VEREDAS.

Quando da primeira edição do romance de Guimarães Rosa em maio de 1956, o URUCUIA era “povoado” por sertanejos vaqueiros, cavaleiros e tropeiros, tocadores de grandes boiadas porque a pecuária era a principal atividade econômica da região. Após a inauguração de Brasília – DF em 1960 a pecuária foi substituída pelo AGRONEGÓCIO, pois os municípios da região, infelizmente, é parte da fronteira agrícola que se alarga a partir do Centro-oeste destruindo o Sertão (CERRADO), que G. Rosa conheceu.

É esse Urucuia pecuarista, tropeiro e boiadeiro que é retratado como parte significativa do enredo da obra GRANDE SERTÃO: VEREDAS. Hoje, tantas décadas depois, numa das cidades desse sertão urucuiano ou dos Gerais é realizado o ENCONTRO DOS POVOS do Grande Sertão Veredas. É um evento festivo anualmente feito em Chapada Gaúcha-MG desde 2002. E “nesses encontros, além de diferentes apresentações culturais que valorizam as TRADIÇÕES das cidades localizadas no Entorno do Parna-GSV, são também realizados seminários sobre CULTURAIS TRADICIONAIS e Meio Ambiente” (ARAÚJO, 2007: 111). Esse ENCONTRO se propõe como fim essencial apresentar para os turistas os Gerais e quem é o GERALISTA ou BAIANEIRO cuja cultura híbrida é resultado da mistura de valores culturais do norte-noroeste de Minas com a cultura nordestina, sobretudo da Bahia (COSTA, 2003).

III – MARCOS HISTÓRICOS FUNDADORES DE ALGUMAS CIDADES DO VALE DO URUCUIA

3.1: ARINOS – MG

Na barra do Ribeirão das Areias com o rio Urucuia surgiu Morrinhos cuja colonização se iniciou no final do século XVIII ou início do XIX como um porto de aventureiros do sertão. Tornou-se distrito de Paracatu em 23/10/1830 ou 12/3/1846; e a capela Nossa Senhora da Conceição por determinação da Lei Provincial 472 de 31/5 de 1850 virou sede da Paróquia antes localizada em Buritis. O Coronel FRANCISCO PEREIRA DE ARAÚJO, o Sr. JOÃO PORFÍRIO, os irmãos SEBASTIÃO e PEDRO CORDEIRO VALADARES, descendentes de Joaquina do Pompéu, e o Alferes FRANCISCO JOSÉ FERNANDES CAPANEMA E SILVA (Chico Pitangui) se tornaram pioneiros do processo de colonização ao longo da segunda metade do século XIX quando MORRINHOS entrou em decadência e um novo porto aparece no rio Urucuia: o de BARRA DA VACA, que se torna povoação em franco crescimento.

Com a Lei Estadual 843 de 1923 Morrinhos deixa de ser sede distrital. Barra da Vaca se torna sede do Distrito com a denominação de Arinos, que é desanexado do Município de Paracatu e anexado ao de São Romão. Com a Lei Estadual 2.764 de 1962, Arinos é elevado à categoria de Município cuja instalação se deu em 1º/3/63.

3.2: BURITIS – MG

O território foi colonizado a partir de um porto instalado nas ribeiras do Urucuia pelas irmãs goianas LUIZA e JOAQUINA ALDONSO. São pioneiros dessa colonização os fazendeiros FRANCISCO ÁLVARES DE CARVALHO e JOÃO PEREIRA SARMENTO que, respectivamente, registraram sesmarias em 1739 e em 1749. Chamado de Porto de Santana do Buriti, ali foi criada a Paróquia de Nossa Senhora da Pena em 20/11 de 1805 a quem foi subordinada as capelas dos atuais municípios de Arinos e Formoso. Há controvérsias quanto à criação do distrito: 31/5 de 1815 ou em 1850. Mas na Divisão Administrativa do Estado em 1911, já era registrada a existência do Distrito de Buritis dentro do Município de Paracatu.

A Lei Estadual 843 de 7/9 de 1923 anexou o Distrito de Buritis ao município de São Romão, e o Decreto-Lei 1.058 de 31/12 de 1943, anexou-o ao Município de Unaí. Buritis tornou-se Município através da Lei Estadual 2.764 de 30/12 de 1962 e foi instalado dia 1º/3/63.

Dentro do Município de Buritis há o Distrito de SERRA BONITA. Primitivamente chamado de São João do Pinduca, foi elevado à categoria de distrito do município de São Romão pela Lei Estadual nº: 843 de 7/9 de 1923 com a denominação de JOANÓPOLIS. Em 1943 foi renomeado para SERRA BONITA, e anexado ao recém-criado município de Unaí. Com a emancipação de Buritis em 1963, Serra Bonita passou a ser um de seus distritos.

3.3: FORMOSO – MG

O território foi colonizado pelas famílias de FELIPE TAVARES DOS SANTOS e BRÁS ANTÔNIO ORNELAS nas últimas décadas do século XVIII. Já em 1778 a Fazenda do Formoso tinha sua existência registrada em roteiro de viagem de D. Luiz da Cunha Menezes que, nomeado Governador de Goiás, chegou a esta capitania passando pela Estrada Real Picada da Bahia. A proximidade do Registro Fiscal de Santa Maria instalado por D. João V em 1736 também facilitou esta fixação de pessoas com comunidades rurais incorporadas ao município de Paracatu-MG em 1800.

Formoso passou a existir como núcleo urbano entre as décadas de 1830/40 e foi elevado à categoria de Distrito de Paracatu pela Lei Provincial 1.713 de 5/10 de 1870. Foi transferido como distrito para o Município de São Romão por força da Lei Estadual 843 de 1923. Formoso tornou-se Município instalado em 1º/3/63 após ter sua emancipação aprovada pela Lei Estadual 2.764 de 1962.

3.4: SÃO ROMÃO:

Essa quase tricentenária cidade mineira é a matriz fundadora de toda a colonização do Norte de Minas no Vale do São Francisco cujo povoamento, como vimos, remonta a década de 1690.

Segundo Waldemar de Almeida Barbosa (1971:472-473), São Romão foi elevada à categoria de JULGADO DO SÃO FRANCISCO em 1719. Perdeu sua autonomia e foi incorporado a Paracatu a partir de sua emancipação em 1798. Tornou-se freguesia eclesiástica por determinação do bispo de Pernambuco em 16 de agosto de 1804.

Por meio da Resolução da Assembléia Geral de 13 de outubro de 1831 foi elevada à categoria de Município sob a denominação de VILA RISONHA DE SÃO ROMÃO. Sua autonomia municipal foi cancelada pela Lei Provincial 1.755 de 30 de março de 1871, e seu território foi incorporado como distrito do recém-criado município de São Francisco.

Finalmente, a Lei Estadual 843 de 7 de setembro de 1923, foi recriado em definitivo o município de São Romão.

Apesar de hoje ser uma cidade sem importância econômica e política na beira do Velho Chico, no século XVIII São Romão foi um grande centro comercial fazendo o intercâmbio entre o Nordeste do Brasil e a mineração do Centro-oeste (Goiás e Mato Grosso).

IV – CONCLUSÃO

O Urucuia de Guimarães Rosa, o Urucuia dos tropeiros e dos garimpeiros, o Urucuia dos bandeirantes e pecuaristas é hoje o Urucuia que sobrevive no Entorno de Brasília, a utopia pós-modernista de Juscelino Kubitscheck que trouxe progresso para a nossa região, mas ainda não conseguiu promover o desenvolvimento sustentável para os urucuianos.

O Urucuia dos sonhadores é também o Urucuia do PARQUE NACIONAL GRANDE SERTÃO VEREDAS, em Formoso, Arinos e Chapada Gaúcha; é o Urucuia do PARQUE ESTADUAL SERRA DAS ARARAS; é esse Urucuia que insiste na convivência inevitável entre a ocupação desordenada do Cerrado e de nossas cidades ao lado do compromisso em preservar meio ambiente, sua história, suas tradições, saberes, usos e costumes.

Parabéns ao URUCUIA a todos nós, os URUCUIANOS! Parabéns a todos aqueles que lutam por esse Urucuia legendário que encantou Guimarães Rosa e encanta todos os apaixonados pelo Brasil Profundo, o Brasil do sertão.

V – REFERÊNCIAS

• ARAÚJO, Sandra (Org.). Antônio Dó de Volta ao Grande Sertão Veredas, Bsb/Chapada Gaúcha-MG: Unifam/Prefeitura Municipal, 2007.
• BARBOSA, Waldemar de A. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais, Belo Horizonte: Itatiaia, 1971.
• BERTRAN, Paulo. História da Terra e do Homem no Planalto Central, Brasília: Solo, 1994.
• BONFIN, Luiz Fernando Costa; GOMES, Raimundo A. Dias. Aqüífero Urucuia – Geometria e Espessura: Idéias para Discussão; In: www.cprm.gov.br/rehi/congresso/aqüifero-urucuia.pdf; artigo científico com oito páginas. Acesso dia 31/12/05.
• COSTA, João Batista de Almeida. Mineiros e Baianeiros: Englobamento, Exclusão e Resistência, Tese de Doutorado, PPGAS, Brasília: Unb, 2003.
• DRUMMOND, Josina Nunes. As Dobras do Sertão, São Paulo: AnnaBlume, 2008.
• JACINTO, Andréa Borghi. Afluentes de Memória: Itinerários, Taperas e Histórias no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, Dissertação de Mestrado, Departamento de Antropologia, Campinas-Sp: IFCH/Unicamp, 1998.
• MARTINS, Saul. Antônio Dó, 3ª Ed., Bh: SESC-MG, 1997.
• MENDES, Xiko. Formoso de Minas no final do Século XX – 130 Anos!, Formoso-MG: Prefeitura Municipal, 2002.
– O Mito da Interiorização através de Brasília, Brasília: Asefe, 1995.
– Eco-história Local: Formoso em Sala de Aula, Formoso-MG: Unifam/Prefeitura Municipal, 2007.
– O Centenário de Guimarães Rosa no Entorno do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, Brasília: Unifam, 2008.
• ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988a.
– Noites do Sertão, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988b.
– Literatura Comentada, 3ª Ed., Rio de Janeiro: Nova Cultural, 1990.
• SARAIVA, Regina C. F. Sertão, Cerrado e Identidades, In: Oralidade e Outras Linguagens, Ano IV, Nº: 15, Brasília: CEAM/UnB, dezembro de 2004.
• VASCONCELOS, Diogo de. História Média de Minas Gerais, 4ª Ed., Bh: Itatiaia, 1974.
A FLOR ESCOLHIDA
(Geralda Vieira)
Era uma flor em desatino,
Pois caiu do galho em que morava
E saiu rolando com o vento
Sem saber qual destino tomava.

Perdeu-se do galho onde cresceu,
E sem saber para onde o vento a levava,
Lembrou-se dos olhares apaixonados
Que a sua beleza tanto encantava.

Mas ela não deixou que fosse interrompida
A vida que por Deus lhe fora doada.
Lutou contra a força do destino
Que a levava ao desatino,
Mesmo sendo ela a flor escolhida
Dos beija-flores em revoada.

Mas ela viu que nem tudo estava acabado
Só porque não estava onde queria ficar.
Viu que a vida nos reserva surpresas,
Por isso, não devemos nos desesperar.
Era ela a flor por Deus escolhida
Para nossas vidas enfeitar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A NATUREZA REZA
(Marcos Alagoas)
A natureza reza pela sobrevivência,
Orando arvorecidamente
Em cada semente esparramada
Nasçam filhas da sua consciência,
Se me matarem, não as verei brotar,
Então, oro!
Por essas vidas,
Preservações,
Que ficarão em meu lugar!
Estou arvorecidamente preocupada
Com esses predadores.
Se me devoram em silêncio,
Cortam-me com violência,
Consomem a minha existência!
Não saberão do amanhã,
Pois estes cortes profundos
Atingirão minhas raízes
Que parece alegrarem o seu coração,
Pois a minha vida não teme a sua RAZÃO!...
Oh, Deus- natureza!
Desta minh’alma verde
Produzi clorofila,
Minha vida eram as folhas
Que a brisa balançava,
Agora caídas, deitadas neste chão,
Secarão!!!
Adubarão minhas filhas
Sobre minha proteção.
Essas veias-raízes,
Que agora feridas
Por entre a Terra
A devastação
Desses homens sem coração,
Como irei entender
Que as mesmas mãos que colhem
Meus frutos são as mesmas que me cortam?
Somem com a minha verde imagem
Desaparecem mais uma árvore,
Entre várias neste Planeta,
E assim, a natureza se veste de luto,
A sua cor desaparece...

REUNIÃO DOS ACADÊMICOS HOJE!

BOM DIA, ACADÊMICOS DA APL!

Não se esqueçam: hoje, 24/2/11, a partir das 19:30, no Casarão Hotel, na Praça do Museu, aqui em Planaltina-DF, tem reunião da ACADEMIA PLANALTINENSE DE LETRAS. Compareçam!

Abraços!

XIKO MENDES
Diretor Cultural e de Comunicação da APL.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O AMOR... RELÓGIO ABANDONADO
(Vanilson Reis)
O amor é uma dádiva
da eternidade dos sonhos,
é planejado com a antecipação
dos fatos
como as rodas que seguram
o carro na velocidade.

Seria importante amar demais
quem nossos olhos miram
à luz da saudade tamanha,
mesmo nas horas apressadas
de um relógio abandonado.

Como o amor é tão descentralizado
do início até o romance,
não faz cálculos dentro das datas,
em doces e amargos
se desembesta sem horizonte
nas locadoras da vida.

Um dia o amor do mundo será sério
como a palavra de Jesus Cristo,
e todos vão chorar de medo
a falsidade colocada em prática
em momentos de poesia.

Aí sim!...
Sua mulher e a minha
sorrirão ao espetáculo do amor,
à cena dos artistas
e a verdade será outra!

HOMENAGEM AOS 200 ANOS DA HISTÓRIA DE PLANALTINA-DF.

Palavras do Mestre
(d’Armas – Fundador de Planaltina/DF)


Homenagem ao aniversário de Planaltina pela criação do Distrito de São Sebastião de Mestre d’Armas, anexo ao município de Formosa da Imperatriz – GO, pela
Lei Provincial nº: 03, de 19 de agosto de 1859.
Xiko Mendes

I – Origem: Fim do Século XVIII.

Quando aqui cheguei tudo era mato.
E Goiás vivia a crise da mineração.
Instalei-me nessas terras de planalto
Disputando-as com índios do sertão.

Como aqui era um trevo de contato
Entre as vias régias de comunicação,
Instalei oficina à beira de um regato
Que agora mudaria sua denominação
Para Mestre d’Armas devido ao fato
De esta ser minha humilde profissão.

Foi no século XVIII, já bem no final,
Décadas de 70, 80; lembro de memória
Quando houve a Fundação do Arraial
Que, depois, entraria para a História
Como matriz do futuro Distrito Federal.

Com o tempo foi crescendo a população.
De todo lugar vinha gente que se desiludia
Com o Garimpo. E aí? Surgiu a devoção
Que salvou o Povoado de uma epidemia!

Os sobreviventes, felizes, bateram palmas
Mudando nosso nome lá em Santa Luzia
Para São Sebastião de Mestre d’Armas!

II – Anulação, Recriação do Distrito, Emancipação: 1834, 1859, 1892.

Depois deste episódio fúnebre, maldito,
Queríamos ser transformados em vila.
Não sendo, contentamos em ser Distrito
Em 1834 e, logo depois, essa prerrogativa
Foi anulada pelo Governo do Município!

Mas emanciparam Formosa da Imperatriz.
E em 19/8/1859 veio a decisão definitiva:
Nos anexaram a ela como Distrito e, feliz,
Eu confesso que daí em diante... Viva !!!
Tudo mudou na Terra do Mestre d’Armas!

Em 1892 nos transformaram em CIDADE
E o desenvolvimento agora nos conduz
Às páginas épicas da Nacionalidade
Recepcionando nesta Vila a Missão Cruls
Conforme nossos princípios de hospitalidade!

III – Após Emancipação, a Espera por Brasília: 1922 – 1960.

Em 1910 troquei de nome; me rebatizaram
De ALTAMIR; e em 1917, de PLANALTINA.
Passados mais cincos anos, veio o Centenário
Do Brasil Independente do Reino de Portugal.
E, para homenageá-lo, nos escolheram como cenário
Instalando aqui o monumento da Pedra Fundamental,
Que seria o ponto de partida contra o Mito do Atraso,
Sonhando agora com a Transferência da Capital!!

Enquanto este sonho continuava distante,
Mais outras Comissões com estes homens notórios:
Caiado de Castro, Poli Coelho e Pessoa Cavalcanti
Vieram aqui e fizeram mais outros relatórios.
E Goiás, num ato histórico e relevante,
Desapropriou e cedeu nosso território
Para que a Nova Capital fosse feita o quanto antes.

A empresa Donald Belcher escolhe o Sítio Castanho
Fixando, oficialmente, o melhor ponto de referência
Para que neste espaço delimitado em tamanho
Fosse construída a Cidade pela Presidência!

Neste meio tempo fomos, lentamente, evoluindo.
Planaltina ganhou nova escola com Magistério.
Foi instalada a Comarca e um novo caminho
Parecia se abrir neste Sertão do Hemisfério!

IV – A Planaltina Candanga: a partir de 1960.

Em 1956 o novo Presidente é empossado.
E o Povo Brasileiro a JK delega e confia
Poder para este sonho ser de novo retomado.
Aí acontece a épica Inauguração de Brasília
Como a Nova Capital de um país modernizado!

E aquela nossa Cidade caipira, tão pequenina,
É incorporada à área do Distrito Federal
Fazendo da Velha e Saudosíssima Planaltina
Um relicário fabuloso de Cultura Tradicional
Criada lá no tempo das minas
De ouro do Planalto Central!

Daí para a frente se nota muita diferença.
Nossa Cidade encontrou um novo caminho,
Mas continua mantendo as velhas crenças
Como a Via Sacra e a Festa do Divino!

Outras novidades passaram a acontecer.
E Planaltina foi de fato transformada.
Chegou o Vale do Amanhecer
E a Estação de Águas Emendadas!

Outro fato também muito importante
É que a Cidade cresce desordenada;
Novos bairros inventados pelos governantes
Torna-a cada vez mais bagunçada!

Junto à Planaltina Antiga, veio a Candanga.
Criaram a Vila Buritis!
Não se contentaram; improvisaram o Arapoanga!
Veio também o Jardim Roriz!
E agora, com mais subúrbio, a violência anda...
Solta como o bandido sempre quis!

E as Periferias, penando como vivalmas,
Simbolizam a Planaltina Brasiliense.
Eu – seu Fundador – o Velho Mestre d’Armas
Aqui termino protestando em silêncio:

VIVA PLANALTINA!!!
Minha terra, minha vida:
Que a sua elite grã-fina
Não deixe a Periferia esquecida!

VIVA PLANALTINA!!!
Meu ponto de partida,
Encruzilhada da Verdade,
Meu destino, minha sina,
Minha FELIZ... CIDADE!!!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O ENTERRO DAS HORAS: UM LAMENTO PLANALTINENSE
(Aurenice Vítor)
O que fazer para não lamentar o enterro das horas?
Horas felizes não enterramos, as guardamos num cantinho especial. Mas são poucas as que têm esse privilégio.
Enterramos as horas em filas esculturais; nas portas dos bancos que nos oferecem serviços lentos e estressantes; nas filas dos hospitais de atendimento precário e de funcionários mal informados ou mal formados mesmo, ou ainda de profissionais anti-profissionais, os quais utilizam equipamentos obsoletos. Mas as resgatamos quando encontramos nesses mesmos lugares pessoas que trabalham com amor e por amor!...
Enterramos as horas quando uma aluna assassina outra no pátio da escola sem motivo algum; quando um policial é flagrado espancando um torcedor no campo de futebol ou nos seus arredores, abusando do suposto poder que ele acredita ter. Enterramos as horas quando uma mãe vai ao IML para reconhecer o corpo do filho, que fora morto por traficantes, às vezes por estar devendo-lhes ou por se negar a ser um deles, ou ainda pelo simples fato de estar passando por onde eles costumam brincar de dar tiros sem direção.
Enterramos as horas quando uma cidade de história e costumes seculares, feito Planaltina, sai nas páginas dos jornais com o rótulo de “Cidade mais perigosa do DF”, quando na verdade deveria ser considerada a mãe de todos os candangos. Enterramos as horas quando presenciamos o desrespeito e a insensibilidade dos governantes para com esta cidade, considerada o berço da Cultura Cerratense, pois nada fazem para que aqui tenha um cinema, um teatro, uma escola de artes ou até mesmo uma Casa de Cultura, a fim de que nossos jovens sintam orgulho da sua cidade e não se vejam na obrigação de buscar lazer nas cidades vizinhas.
Enterramos as horas quando vemos pais esquecerem seus filhos diante de um computador digerindo informações que nem sempre têm capacidade ou maturidade para compreendê-las e assimilá-las sem nenhum tipo de consequência trágica.
Enterramos as horas quando presenciamos meninas de 12, 13 ou 14 anos prostituindo-se, na maioria das vezes sem que os pais tenham conhecimento, mas sob os olhares desatentos das autoridades.
Enterramos as horas quando não assumimos as nossas obrigações e responsabilidades para com aqueles que colocamos no mundo; quando os deixamos a mercê da vida e do destino.
Enterramos as horas quando depositamos nossos votos nas Urnas movidos pela ignorância, pois nunca sabemos quem são de verdade as pessoas em quem votamos; quando não cobramos o que nos é de direito; quando resolvemos descontar no próximo o mal que nos fizeram.
Enterramos as horas quando esquecemos que o bem maior que Deus nos deixou foi o Amor. Para muitos:
Amor mal recebido;
Amor mal reconhecido;
Amor mal distribuído;
Amor mal dividido;
Amor mal vivido;
Amor não sentido;
Amor não correspondido.
Enterramos as horas quando fechamos o nosso coração para a verdade; quando olhamos somente para o nosso umbigo e colocamos a responsabilidade de tudo nos ombros dos outros, responsabilidade por uma culpa que muitas vezes ou principalmente é só nossa.
Resgatamos as horas quando damos Cultura e criamos condições de vida para tanta gente vazia de saber; carente de Deus, de amor, de carinho, de um lar, de um irmão, de um pai, de uma mãe ou simplesmente de um prato de comida.
A culpa da falha humana é humana. A morte das horas são horas perdidas, são vidas vazias passadas em vão. E o resgate dessas horas somente será possível quando o povo aprender a viver como irmãos.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

REALIDADE
(Adenir Oliveira)
Um rosto na multidão.
Aterrorizado,
Mascarado,
Humilhado...
Escondido na multidão.

Um rosto
Sobre o rosto
Do rosto.

Aquele rosto é o seu...
Rosto,
Abatido,
Desfigurado,
Cansado...

Rosto que some,
Que aparece
Na multidão,
Na escuridão,
Na solidão...

Um rosto
Marcado.
Apenas
Um.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

À PRIMEIRA VISTA
(Xiko Mendes)
Foi pouco, mas suficiente o bastante,
O tempo de convivência entre a gente.
Foi maravilhoso e superinteressante,
Inesquecível, saudável e surpreendente!

Se a vida, que é breve, reserva momentos
Antes que, para a morte, estejamos prontos,
Devemos compartilhar entre si sentimentos
De lealdade construída em nossos encontros.

Encontrar amigos entre tantas aves de rapina
É tão difícil, hoje, como ver uma pessoa leal
Ou acreditar no sonho da paz em cada esquina.

Mas sonhar é tão bom quanto ver que na lista
Incluí seu nome como pessoa que se sente igual,
Que conquistou minha amizade à primeira vista!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

QUANDO A ALMA SE SOLTA
(Kora Lopes)
Perco-me na imensidão do horizonte
Que ao longe se descortina
E de novo me sinto pequena,
Apenas uma menina
Que quer beber na fonte
Dos sonhos, e voar sem qualquer destino
Para desvendar os segredos
E todos os medos
Que ainda povoam meu coração...
Lá, talvez eu me encontre
E saia nas asas da ilusão
Para buscar os sonhos perdidos,
Que ainda vivem escondidos
Nos recônditos do meu coração.
No meu horizonte eu sei
Que a minha alma se solta,
Por isso eu nele me perco
Para fugir desse cerco
Que existe à minha volta...