quinta-feira, 21 de abril de 2011

UM ANO SEM JOSÉ GERALDO PIRES DE MELLO

por Joésio Menezes

Faz hoje 01 ano que Brasília acordou triste, pois não mais teria a graça, o encanto e o ineditismo dos versos do niteroiense José Geraldo Pires de Mello, patrono da Cadeira XXVII da Academia Planaltinense de Letras. Naquela manhã de 21 de abril de 2010 ele fora chamado por Deus para ocupar uma cadeira na Academia Celestial de Letras e para o Céu mudou-se em definitivo, deixando órfãos todos aqueles que apreciam os versos muito bem esculpidos, em que a rima e a métrica são constantes.
Nascido em 18 de maio de 1924, José Geraldo estreou em livros com a coroa de sonetos intitulada De Braços Dados, em 1975. Em 1978, o poeta brindou-nos com 02 novos trabalhos: Chama de Amor (coroa de sonetos) e O Catavento Amarelo, e três anos mais tarde com A Mensagem do Arco-íris, todos eles publicados em Brasília, onde residiu até o último suspiro poético.
Também em 1975 José Geraldo licenciou-se em Português/Latim e Português/Espanhol pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília – CEUB, em cujo Departamento de Letras lecionou por muitos anos, nas áreas de Literatura Brasileira e Pesquisa Literária e, eventualmente, nas de Literatura Portuguesa e Teoria da Literatura. No mesmo estabelecimento de ensino integrou, em 1982, a primeira turma de pós-graduação (latu sensu) na área de Moderna Literatura Brasileira.
Apaixonado pela poesia clássica e especialista na arte de escrever respeitando o ritmo e a métrica, José Geraldo tinha como ídolo o poeta Cruz e Sousa, a quem dedicou um Ensaio (Cem Anos com Cruz e Sousa), publicado pela Thesaurus em 1994.
Participava ativamente de várias entidades de caráter cultural, entre elas a Associação Nacional de Escritores (Brasília), da qual foi vice-presidente; Academia Niteroiense de Letras (Niterói-RJ); Academia Brasileira de Literatura (Rio de Janeiro); Academia Fluminense de Letras (Rio de Janeiro); Academia Brasiliense de Letras (Brasília); Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (Rio de Janeiro) e Academia de Letras do Brasil (Brasília), tendo sido, inclusive, presidente dessa última confraria. Presidiu, ainda, o Clube de Poesia de Brasília.
Apesar de ter sido um grande sonetista lírico, também é comum encontrarmos na sua vasta obra poética - além do ritmo, da métrica e do lirismo - os versos satíricos (ou burlescos, como preferia chamá-los), marca registrada do poeta, contista e ensaísta José Geraldo Pires de Mello.

terça-feira, 12 de abril de 2011

OS FRADES
(Vanilson Reis)

Hoje, 31 de dezembro de 2009, último dia do ano.
Apesar de algumas tristezas ainda no meu peito, que me causam muita dor, estou muito bem, pois Jesus Cristo é um ser perfeito que não abandona o homem. Meus amigos frades não arredaram os pés do lugar em que sempre estiveram: em um rack cor de marfim. Os frades e eu não conversávamos há muito tempo, mas não há nada demais. Não estou escrevendo ultimamente porque a inspiração fugiu de mim como o passarinho que foge da arapuca quando descobre que ela o assusta. Juro que, até mesmo hoje, eu não estava preparado para conversa nenhuma. Ando muito casmurro, feito os personagens de Machado de Assis no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas. Eu sinto uma dor terrível no coração. Para dizer a pura verdade, não sei se é mal de tristeza ou ansiedade por saber o sentido próprio da morte. Penso assim: “por que será que as pessoas morrem tão de repente, da mesma forma que morrem centenas de pássaros”?!
Não quero, aqui, classificar a morte dos pássaros como um ato insignificante. O que pretendo, na realidade, é comparar a queda dos corpos numa planilha de valores reais. A Bíblia diz que todo homem é somente vaidade. Então, o homem existe porque é todo vaidade, e a vaidade desse homem é o princípio do prazer que ele sente pela vida. O pássaro não tem alma, não pensa, mas carrega consigo a certeza de que é livre para voar no universo da Terra. Não seria o caso de classificar o homem e o pássaro numa cadeia elementar de valores?! Porque, com isso, o próprio homem conscientizar-se-ia, definitivamente, de que o amor existe para sempre, entre os homens e os pássaros.
Neste ano, a minha roda de amigos ficou bem menor, principalmente com as mortes de Osmar Pereira de Oliveira - o popular Vovô -, Wilmar Calasans e Naninha. A partida dessas pessoas significou para mim um verdadeiro racha nessa roda que era tão confeitada de respeito e harmonia. A gente não se conforma com a morte, mesmo que seja patrimônio particular do vizinho. É uma coisa incrível com que o homem tem convivido desde o início do mundo. Quantos homens cultos existem nessa vida?! Todos já leram sobre a filosofia da morte!... Mas não aprenderam praticamente nada que pudesse calar o pranto e secar também as lágrimas do ser humano.
A verdade é que tudo não passa de um mistério na Terra. Eu mesmo, amigos frades, sou um homem fraco, totalmente podre, que vai à igreja, mas não aprendeu a maneira certa de rezar. Pena que a minha postura e a postura de vários homens não são o suficiente para convencer o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Jesus Cristo é o símbolo da fé que conduz o verdadeiro cônjuge da religião humana; a igreja não precisa ser linda e o padre ser estrangeiro, o importante é a cerimônia que há entre o Criador e a criatura.
Deus é uno e jamais uma legião de deuses na Terra e no Céu. Não acredito que o Céu seja melhor que a Terra; se eu acreditasse, amigos frades, não estaria aqui, reclamando da grande perda dos amigos que partiram na companhia de Deus. - Eu sou, como Pedro, meio santo e meio homem.

(Planaltina em Letras, Ano I, nº 3, p.4, jan./março-2011)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

TIPOLOGIA: UM BREVE ESTUDO
(Adenir Oliveira)

A realidade mais a intenção de criar a beleza estética é que nos levam à imaginação e reflexão. As ciências procuram conhecer o objetivo do estudo através de um método que consiste numa abstração que leva a distinguir as propriedades e as relações das coisas e a fazer afirmações que atribuam propriedades e relações a estas coisas.
Encarar os fenômenos com objetividade significa superar os limites da análise puramente formal para relacionar com o contexto condicionador, sobretudo a estrutura, função, entorno, ambiente e as condições da evolução social, cultura, político e econômico de um momento histórico. Vemos, assim, que todo conhecimento tem uma base cultural como experiência e “herança”, e, como fato, é resultado de diferentes informações colhidas e acumuladas através dos tempos. Este conhecimento é adquirido através da seleção das soluções e das análises das necessidades grupais e coletivas a fim de adotar bases tipológicas que vão se evidenciando através dos tempos e sendo estruturadas como objetivos próprios do conhecimento. Com isso, é possível afirmar que O TIPO É UM ELEMENTO CULTURAL, E COMO TAL PODE SER BUSCADO NOS DIVERSOS MOMENTOS HISTÓRICOS.
O objeto sempre nos leva a uma ideia porque é signo que se relaciona de uma determinada maneira, segundo uma “estrutura”. É uma opção gerada por conceitos de nível sócio-cultural, anteriormente adquiridos, que nos levam a criar um conjunto de elementos com uma gama de variáveis e combinações entre eles, possibilitando a variação do projeto como conhecimento de uma estrutura de valor plástico, funcional, construtivo, etc... bem mais consideráveis. O tipo, portanto, não é algo que se cria, ele existe e cabe a nós descobri-lo.
Tipo é, portanto, a maneira de ser, obedecendo às condições das variáveis formais, funcionais, estruturais, conformação espacial e ambiental, relação objetivo/objetivo e objetivo/entorno, sendo que esta maneira de ser está sempre presente no objeto. É algo abstrato (um construtor mental) que sistematiza o objeto (e o classifica) ou analisa um determinado momento dependendo do “enfoque” dado e, com verdadeira expressão semântica, de acordo com o objetivo que visa alcançar. A expressão é a forma ideal com que os elementos se relacionam e se distinguem. O tipo não é, pois, algo (uma imagem) para ser copiado ou repetido, e sim para se extrair a ideia base que lhe sirva de regra (como essência de uma constante e relativa variável), mas com ressonância e grande expressão. Portanto, o tipo não é um modelo único e simplificado, síntese das melhores formas passadas. Os padrões culturais mudam e com eles as necessidades coletivas. A cada época, região ou período histórico existe uma gama de possibilidades e não um único tipo proposto, fixo e pré-determinado.
O tipo é um MODELO ao nível da abstração e as relações entre os vários tipos e suas combinações é que “definem” a tipologia.
Na estrutura, por exemplo, como conformação ou materialização do espaço, há uma grade variável de classe e subclasse, “subtipo ou tipo menor”. O resultado das combinações e a maneira como eles se relacionam é que vão formar uma série maior: “série tipológica estrutural”.
De tal feita, podemos concluir que, consciente ou inconscientemente, em nosso trabalho diário, dentro de qualquer campo de estudo, estamos lidando com tipos. É uma questão de opção; e quando optamos, o fazemos por um determinado tipo. Por exemplo, uma língua utilizando signos - e com base numa sintaxe - permite diferentes composições desses signos. O meta-projeto, da mesma forma, utiliza signos e sintaxe próprios que se expressam de diversas formas numa linguagem. A tipologia é a configuração “formal” dessa linguagem.

(Planaltina em Letras, ano I, nº2 , p.2/3, out/dez – 2010)