UM CONCEITO DE CIDADE
por Adenir Oliveira
A cidade se
apresenta para nós como um conjunto integrado entre o espaço físico e suas
atividades, valendo dizer: a moradia, o local de trabalho, o lazer, o sistema
político, administrativo, econômico, etc., existentes nela e em seus
prolongamentos. Os fatores intelectuais, políticos, religiosos, não são menos
importantes que o fator econômico. Ora um, ora outro, ora simultaneamente podem
ser vistos como tendo um efeito no desenvolvimento da cidade. Na verdade, as
situações mais difíceis para análise são aquelas onde atuam diversos fatores em
conjunto, frequentemente ao lado das condições internas e externas da própria
cidade. Ainda é tarefa própria da análise da cidade: evidenciar as condições
específicas sob as quais cada um dos possíveis fatores — ou vários, em conjunto
influenciam realmente o seu curso de desenvolvimento. Vemos, assim, que os
valores não são elementos a sarem descartados, nem mesmo a serem analisados
isoladamente, a fim de se manterem separados do material empírico (físico),
porém, elementos sempre presentes e manifestos, que permeiam a análise empírica
de ponta a ponta.
Para melhor
clareza observa-se que nem as condições em que se efetuam a produção, nem as relações
geradas pela troca, são puramente instrumentais. São condições humanas e
relações humanas que são valorizadas tanto quanto e, em certos casos, mais
fortemente, que o consumo como fim. Nem, naturalmente, ao consumo simplesmente
um fim dado. Por isso, acredita-se que a cidade é mais que um elemento. São
vários atuando como força para sua existência no tempo e no espaço.
Acredita-se, ainda, ser a cidade um organismo vivo de ações, reações e
realizações do homem, entendida desta forma como todas as forças internas e
externas geradoras deste organismo vivo e dinâmico.
O processo de
conhecimento da cidade é ele próprio um estudo do aspecto humano, histórico,
social, político, econômico, psicológico, etc., isto implica que ao estudar a
vida humana, há identidade parcial entre o sujeito (homem) e objeto (cidade).
Sendo o comportamento um fato total, as tentativas de separar seus aspectos
“material” e “espiritual” não podem ser, no melhor das hipóteses, senão
abstrações metodológicas, sempre implicando grande perigo para seu conhecimento
efetivo.
É, pois, a
transformação do natural no cultural, mais própria às necessidades da recriação
de um espaço físico e da adaptação da paisagem às verdadeiras atividades de
quem a utiliza ao longo do tempo. É, ainda, a expressão do coletivo através do
mecanismo psicofísico.
Todo lugar,
qualquer que seja sua dimensão ou localização no espaço, é um setor fisicamente
urbano no qual estão situados edifícios e demais equipamentos - instrumentos
que as pessoas utilizam para realizar suas atividades e aspirações, que são
relacionados e dependentes entre si, assim como os situados entre outras
localidades. Cada espaço físico urbanizado está rodeado por um território não
urbanizado com predominância rural, o que impossibilita o estudo da cidade fora
do seu contexto regional.
A cidade é um
subsistema de um sistema maior. Mesmo assim, deixa-se bem claro que a cidade
não é algo isolado e inerte: é, antes de tudo, o ambiente natural do homem
livre e ainda permanece válido na medida em que o indivíduo encontra nas
possibilidades, nas diversidades de interesses e tarefas e na vasta cooperação
inconsciente da vida citadina a oportunidade de escolher sua vocação própria e
desenvolver seus talentos individuais peculiares.
"É o
palco da representação humana"
(Planaltina
em Letras, Ano III, nº 11, p.2, janeiro/março-2013)