Literatura

História da Escrita

Na Pré-História o homem buscou se comunicar através de desenhos feitos na paredes das cavernas. Através deste tipo de representação (pintura rupestre), trocavam mensagens, passavam idéias e transmitiam desejos e necessidades. Porém, ainda não era um tipo de escrita, pois não havia organização, nem mesmo padronização das representações gráficas.
Foi somente na antiga Mesopotâmia que a escrita foi elaborada e criada. Por volta de 4000 a.C, os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Usavam placas de barro, onde cunhavam esta escrita. Muito do que sabemos hoje sobre este período da história, devemos às placas de argila com registros cotidianos, administrativos, econômicos e políticos da época.
Os egípcios antigos também desenvolveram a escrita quase na mesma época que os sumérios. Existiam duas formas de escrita no Antigo Egito: a demótica (mais simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As paredes internas das pirâmides eram repletas de textos que falavam sobre a vida do faraó, rezas e mensagens para espantar possíveis saqueadores. Uma espécie de papel chamada papiro, que era produzida a partir de uma planta de mesmo nome, também era utilizado para escrever.
Já em Roma Antiga, no alfabeto romano havia somente letras maiúsculas. Contudo, na época em que estas começaram a ser escritas nos pergaminhos, com auxílio de hastes de bambu ou penas de patos e outras aves, ocorreu uma modificação em sua forma original e, posteriormente, criou-se um novo estilo de escrita denominado uncial. O novo estilo resistiu até o século VIII e foi utilizado na escritura de Bíblias lindamente escritas.
Na Alta Idade Média, no século VIII, Alcuíno, um monge inglês, elaborou outro estilo de alfabeto atendendo ao pedido do imperador Carlos Magno. Contudo, este novo estilo também possuía letras maiúsculas e minúsculas.
Com o passar do tempo, esta forma de escrita também passou por modificações, tornando-se complexa para leitura. Contudo, no século XV, alguns eruditos italianos, incomodados com este estilo complexo, criaram um novo estilo de escrita.
No ano de 1522, um outro italiano, chamado Lodovico Arrighi, foi o responsável pela publicação do primeiro caderno de caligrafia. Foi ele quem deu origem ao estilo que hoje denominamos itálico.
Com o passar do tempo outros cadernos também foram impressos, tendo seus tipos gravados em chapas de cobre (calcografia). Foi deste processo que se originou a designação de escrita calcográfica.



História da Literatura

Séculos VIII a.C. a II a.C.:
As primeiras obras da História que se tem informação são os dois poemas atribuídos a Homero: Ilíada e Odisséia. Os dois poemas narram as aventuras do herói Ulisses e a Guerra de Tróia. Na Grécia Antiga os principais poetas foram: Píndaro, Safo e Anacreonte. Esopo fica conhecido por suas fábulas e Heródoto, o primeiro historiador, por ter escrito a história da Grécia em seu tempo e dos países que visitou, entre eles o Egito Antigo.

Séculos I a.C. a II d.C.-A literatura na História de Roma Antiga:
Vários estilos que se praticam até hoje, como a sátira, são originários da civilização romana. Entre os escritores romanos do século I a.C. podemos destacar: Lucrécio (A Natureza das Coisas); Catulo e Cícero. Na época de 44 a.C. a 18 d.C., durante o império de Augusto, corresponde uma intensa produção tanto em poesia lírica, com Horácio e Ovídio, quanto em poesia épica, com Virgílio autor de Eneida. A partir do ano 18, tem início o declínio da História do Império Romano, com as invasões germânicas. Neste período destacam-se os poetas Sêneca, Petrônio e Apuleio.

Séculos III a X:
Após a invasão dos bárbaros germânicos, a Europa se isola, forma-se o feudalismo e a Igreja Católica começa a controlar a produção cultural. A língua (latim) e a civilização latina são preservadas pelos monges nos mosteiros.A partir do século X começam a surgir poemas, principalmente narrando guerras e fatos de heroísmo.

Século XI:
As Canções de Gesta e as Lendas ArturianasÉ a época das Canções de Gesta, narrativas anônimas, de tradição oral, que contam aventuras de guerra vividas nos séculos VIII e IX , o período do Império Carolíngio. A mais conhecida é a Chanson de Roland ( Canção de Rolando ) surgida em 1100. Quanto à prosa desenvolvida na Idade Média, destacam-se as novelas de cavalaria, como as que contam as aventuras em busca do Santo Graal (Cálice Sagrado) e as lendas do rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda.

Séculos XII a XIV - O trovadorismo e as cantigas de escárnio e maldizer:
É o período histórico do trovadorismo e das poesias líricas palacianas. O amor impossível e platônico transforma o trovador num vassalo da mulher amada, exemplo do amor cortês. Neste período, também foi comum o poema satírico, representado pelas cantigas de escárnio (crítica indireta) e de maldizer (crítica direta).

Séculos XIV a XV - Humanismo
O homem passa a ser mais valorizado com o início do humanismo renascentista. A literatura mantém características religiosas, mas nela já se podem ver características que serão desenvolvidas no Renascimento, como a retomada de ideais da cultura greco-romana. Na Itália, podemos destacar: Dante Alighieri, autor da Divina Comédia, Giovanni Bocaccio e Francesco Petrarca. Em Portugal, destaca-se o teatro do poeta Gil Vicente, autor de A Farsa de Inês Pereira.

Século XVI - O Classicismo na História:
O classicismo tem como elemento principal o resgate de formas e valores da cultura clássica, ou seja, greco-romana. O mais importante poeta deste período histórico foi Luís de Camões, que escreveu Os Lusíadas narrando as aventuras marítimas da época dos descobrimentos. Destacam-se também os franceses François Rabelais e Michel de Montaigne. Na Inglaterra, o poeta de maior sucesso foi William Shakespeare se destaca na poesia lírica e no teatro. Na Espanha, Miguel de Cervantes faz uma sátira bem humorada das novelas de cavalaria e cria o personagem Dom Quixote e seu escudeiro, Sancho Pança, na famosa obra Dom Quixote de La Mancha.

Século XVII:
As idéias da Contra-Reforma marcaram profundamente esta época, principalmente nos países de tradição católica mais forte como, por exemplo, Espanha, Itália e Portugal. Na França, a oratória sacra é representada por Jacques Bossuet que defendia a origem divina dos reis. Na Espanha, destacam-se os poetas Luís de Gôngora e Francisco de Quevedo. Na Inglaterra, marca significativamente a poesia de John Donne e John Milton autor de O Paraíso Perdido.

Século XVIII - O Neoclassicismo:
Época da valorização da razão e da ciência para se chegar ao conhecimento humano. Os filósofos iluministas fizeram duras críticas ao absolutismo. Na França, podemos citar os filósofos Montesquieu, Voltaire, Denis Diderot e D'Alembert, os organizadores da Enciclopédia, e Jean-Jacques Rousseau. Na Inglaterra, os poetas Alexander Pope, John Dryden, William Blake. Na prosa pode-se observar o pleno crescimento do romance.
Obras e autores deste período da História: Daniel Defoe, autor de Robinson Crusoe; Jonathan Swift (As Viagens de Gulliver); Samuel Richardson (Pamela); Henry Fielding (Tom Jones); Laurence Sterne (Tristram Shandy). Nessa época, os contos de As Mil e Uma Noites aparecem na Europa em suas primeiras traduções.

Século XIX (primeira metade) - O Romantismo:
No Romantismo há uma valorização da liberdade de criação. A fantasia e o sentimento são muito valorizados, o que permite o surgimento de obras de grande subjetivismo. Há também valorização dos aspectos ligados ao nacionalismo. Poetas principais desta época: Almeida Garret, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Giacomo Leopardi, James Fenimore Cooper, Edgard Allan Poe.

Século XIX (segunda metade) - O Realismo:
Movimento que mostra de forma crítica a realidade do mundo capitalista e suas contradições. O ser humano é retratado em suas qualidades e defeitos, muitas vezes vítimas de um sistema difícil de vencer.
Principais representantes: Gustave Flaubert, autor de Madame Bovary; Charles Dickens (Oliver Twist); Charlotte Brontë (Jane Eyre); Emily Brontë (O Morro dos Ventos Uivantes); Fiodor Dostoievski; Leon Tolstoi; Eça e Queirós; Cesário Verde; Antero de Quental e Émile Zola; Eugênio de Castro; Camilo Pessanha; Arthur Rimbaud e Charles Baudelaire.

Décadas de 1910 a 1930 - Fugindo do Tradicional:
Os escritores deste momento da História vão negar e evitar os tipos formais e tradicionais. É uma época de revolução e busca de novos caminhos e novos formatos literários.
Principais escritores deste período: Ernest Hemingway, Gertrude Stein, William Faulkner, S. Eliot, Virginia Woolf, James Joyce, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Cesar Vallejo, Pablo Neruda, Franz Kafka, Marcel Proust, Vladimir Maiakovski.

Década 1940 - A fase pessimista:
O pessimismo e o medo gerados pela Segunda Guerra Mundial vai influenciar este período. O existencialismo de Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus vão influenciar os autores desta época. Na Inglaterra, George Orwell faz uma amarga e triste profecia do futuro na obra 1984.

Década de 1950 - Crítica ao consumismo:
As obras desta época da História criticam os valores tradicionais e o consumismo exagerado imposto pelo capitalismo, principalmente norte-americano. O poeta Allen Ginsberg e o romancista Jack Kerouac são seus principais representantes. Henry Miller choca a crítica com sua apologia da liberdade sexual na obra Sexus, Plexus, Nexus. Na Rússia, Vladimir Nabokov faz sucesso com o romance Lolita.

Décadas de 1960 e 1970:
Surge o realismo fantástico, como na ficção dos argentinos Jorge Luis Borges e Julio Cortázar. Na obra do colombiano Gabriel García Márquez , Cem Anos de Solidão, se misturam o realismo fantástico e o romance de caráter épico. São épicos também alguns dos livros da chilena Isabel Allende autora de A Casa dos Espíritos. No Peru, Mario Vargas Llosa é o romancista que ganha prestígio internacional. No México destacam-se Juan Rulfo e Carlos Fuentes, no romance, e Octavio Paz, na poesia.
A literatura muda o foco do interesse pelas relações entre o homem e o mundo para uma crítica da natureza da própria ficção. Um dos mais importantes escritores a incorporar essa nova concepção é o italiano Ítalo Calvino.



Literatura Brasileira

Quinhentismo (século XVI):
Representa a fase inicial da literatura brasileira, pois ocorreu no começo da colonização. Representante da Literatura Jesuíta ou de Catequese, destaca-se Padre José de Anchieta com seus poemas, autos, sermões cartas e hinos. O objetivo principal deste padre jesuíta, com sua produção literária, era catequizar os índios brasileiros. Nesta época, destaca-se ainda Pero Vaz de Caminha, o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral. Através de suas cartas e seu diário, elaborou uma literatura de Informação (de viagem) sobre o Brasil. O objetivo de Caminha era informar o rei de Portugal sobre as características geográficas, vegetais e sociais da nova terra.

Barroco (século XVII):
Essa época foi marcada pelas oposições e pelos conflitos espirituais. Esse contexto histórico acabou influenciando na produção literária, gerando o fenômeno do barroco. As obras são marcadas pela angústia e pela oposição entre o mundo material e o espiritual. Metáforas, antíteses e hipérboles são as figuras de linguagem mais usadas neste período. Podemos citar como principais representantes desta época: Bento Teixeira, autor de Prosopopéia; Gregório de Matos Guerra (Boca do Inferno), autor de várias poesias críticas e satíricas; e padre Antônio Vieira, autor de Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes.

Neoclassicismo ou Arcadismo (século XVIII):
O século XVIII é marcado pela ascensão da burguesia e de seus valores. Esse fato influenciou na produção da obras desta época. Enquanto as preocupações e conflitos do barroco são deixados de lado, entra em cena o objetivismo e a razão. A linguagem complexa é trocada por uma linguagem mais fácil. Os ideais de vida no campo são retomados (fugere urbem) e a vida bucólica passa a ser valorizada, assim como a idealização da natureza e da mulher amada. As principais obras desta época são: Obra Poética, de Cláudio Manoel da Costa; O Uraguai, de Basílio da Gama; Cartas Chilenas e Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga; Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão.

Romantismo (século XIX):
A modernização ocorrida no Brasil, com a chegada da família real portuguesa em 1808, e a Independência do Brasil em 1822 são dois fatos históricos que influenciaram na literatura do período. Como características principais do romantismo, podemos citar: individualismo, nacionalismo, retomada dos fatos históricos importantes, idealização da mulher, espírito criativo e sonhador, valorização da liberdade e o uso de metáforas.
As principais obras românticas que podemos citar: O Guarani, de José de Alencar; Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães; Espumas Flutuantes, de Castro Alves; Primeiros Cantos, de Gonçalves Dias.
Outros importantes escritores e poetas do período: Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire e Teixeira e Souza.

Realismo - Naturalismo (segunda metade do século XIX):
Na segunda metade do século XIX, a literatura romântica entrou em declínio, juntos com seus ideais. Os escritores e poetas realistas começam a falar da realidade social e dos principais problemas e conflitos do ser humano. Como características desta fase, podemos citar: objetivismo, linguagem popular, trama psicológica, valorização de personagens inspirados na realidade, uso de cenas cotidianas, crítica social, visão irônica da realidade.
O principal representante desta fase foi Machado de Assis com as obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e O Alienista. Podemos citar ainda como escritores realistas Aluisio de Azevedo, autor de O Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia, autor de O Ateneu.

Parnasianismo (final do século XIX e início do século XX):
O parnasianismo buscou os temas clássicos, valorizando o rigor formal e a poesia descritiva. Os autores parnasianos usavam uma linguagem rebuscada, vocabulário culto, temas mitológicos e descrições detalhadas. Diziam que faziam a arte pela arte. Graças a esta postura foram chamados de criadores de uma literatura alienada, pois não retratavam os problemas sociais que ocorriam naquela época. Os principais autores parnasianos são: Olavo Bilac, Raimundo Correa, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.

Simbolismo (fins do século XIX ):
Esta fase literária inicia-se com a publicação de Missal e Broqueis, de Cruz e Souza. Os poetas simbolistas usavam uma linguagem abstrata e sugestiva, enchendo suas obras de misticismo e religiosidade. Valorizavam muito os mistérios da morte e dos sonhos, carregando os textos de subjetivismo. Os principais representantes do simbolismo foram: Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens.

Pré-Modernismo (1902 até 1922):
Este período é marcado pela transição, pois o modernismo só começou em 1922 com a Semana de Arte Moderna. Está época é marcada pelo regionalismo, positivismo, busca dos valores tradicionais, linguagem coloquial e valorização dos problemas sociais. Os principais autores deste período são: Euclides da Cunha (autor de Os Sertões), Monteiro Lobato, Lima Barreto (autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma) e Augusto dos Anjos.

Modernismo (1922 a 1930):
Este período começa com a Semana de Arte Moderna de 1922. As principais características da literatura modernista são: nacionalismo, temas do cotidiano (urbanos), linguagem com humor, liberdade no uso de palavras e textos diretos. Principais escritores modernistas: Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Alcântara Machado e Manuel Bandeira.

Neo-Realismo (1930 a 1945):
Fase onde os escritores retomam as críticas e as denúncias aos grandes problemas sociais do Brasil. Os assuntos místicos, religiosos e urbanos também são retomados. Destacam-se as seguintes obras: Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Fogo Morto, de José Lins do Rego; O Quinze, de Raquel de Queiróz e O País do Carnaval, de Jorge Amado. Os principais poetas desta época são: Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles.



O Quinhentismo Brasileiro

Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura européia em terras brasileiras. Não podemos falar numa literatura do Brasil, aquela que reflete a cosmovisão do homem brasileiro, e sim numa literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao Brasil, mas que denota a cosmovisão, as ambições e as intenções do homem europeu.
Dessa forma, espelhando diretamente o momento histórico vivido pela Península Ibérica, temos uma literatura informativa e uma literatura dos jesuítas como principais manifestações literárias no século XVI.

Momento histórico:
A Europa no século XVI vive o auge do Renascimento, com a cultura humanística desmantelando os quadros rígidos da cultura medieval; o capitalismo mercantil avança com o desenvolvimento da manufatura e do comércio internacional; o êxodo rural provoca um surto de urbanização.
Em conseqüência dessa nova realidade econômica e social, o século XVI também marca uma ruptura na Igreja: de um lado, as novas forças burguesas rompendo com o medievalismo católico no movimento da Reforma Protestante; de outro, as forças tradicionais ligadas à cultura medieval dos dogmas católicos reafirmados no Concílio de Trento (1545), nos tribunais e no índex (relação de livros proibidos) da Inquisição no movimento conhecido como Contra-Reforma.
Assim é que o homem europeu, especificamente o ibérico, apresenta-se em pleno século XVI com duas preocupações distintas: a conquista material, resultante da política das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante, no caso português, do movimento de Contra-Reforma. Essas preocupações determinaram as duas manifestações literárias do Quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira, etc.), e a literatura dos jesuítas, voltada para o trabalho de catequese.
Por outro lado, afora a carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato compreensível, uma vez que a colonização só pode ser contada a partir de 1530. A literatura jesuítica, por seu lado, também caracteriza o final do Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo brasileiro somente em 1549.

A Literatura Informativa:
A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo que é das Grandes Navegações, empenha-se em fazer um levantamento da "terra nova", de sua flora, fauna, de sua gente. Daí ser urna literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário. No entanto, seu valor histórico deve ser salientado, pois esses documentos são a única fonte de informação sobre o Brasil do século XVI. A principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu que vinha de um mundo temperado e se defrontava com o exotismo e a exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra transparece no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados no superlativo.
É curioso perceber que essa exaltação foi a principal semente do sentimento de nativismo que surgiria a partir do século XVII, elemento essencial para as primeiras manifestações contra a Metrópole.

A Literatura dos Jesuítas:
Conseqüência da Contra-Reforma, a principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia como no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos na Colônia.



O Arcadismo

O Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo, caracteriza-se pela busca de restauração dos ideais de sobriedade e equilíbrio da antiguidade clássica em contraposição aos excessos do período anterior, o Barroco. O movimento é contemporâneo do Iluminismo, corrente de pensamento racionalista que se divulgou pela Europa no século XVIII e que culminou com a Revolução Francesa, em 1789. Associações de letrados como a Arcádia Romana e, mais tarde, a Arcádia Lusitana foram veículos importantes para a propagação do ideário do movimento na Europa. O nome "Arcádia" é inspirado na região lendária da Grécia que representa o ideal de comunhão entre homem e natureza, daí o Arcadismo ter como tema privilegiado o bucolismo, em que a natureza é vista como refúgio último das noções de verdade e beleza.
No Brasil, os poetas que melhor representam o movimento são Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, autor de Marília de Dirceu. Ambos participaram da Inconfidência Mineira, movimento político que visava a emancipação do Brasil em relação a Portugal. Os poemas laudatórios de Basílio da Gama e a produção poética de Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga também apresentam traços típicos do Arcadismo. Todos esses poetas concentravam-se na cidade mineira de Vila Rica, centro da atividade mineradora e mais importante centro urbano do país nesse período. No Rio de Janeiro, nos anos de transição entre os séculos XVIII e XIX, entre uma série de novidades de ordem política e econômica que começam a transformar a fisionomia do país, verifica-se o surgimento de diversos órgãos de imprensa. Nesse momento tardio do Arcadismo, têm destaque as figuras dos jornalistas Hipólito da Costa, fundador do jornal Correio Braziliense, e Evaristo da Veiga, cronista político do Aurora Fluminense.
O marco inicial do estilo árcade no Brasil é a publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. Sob influência de teorias francesas e italianas, os integrantes do movimento empenharam-se em restaurar a simplicidade da língua literária, que estaria contaminada por excessos retóricos e por formas degeneradas da literatura barroca. O nome Arcadismo é uma alusão à Arcádia Lusitana, associação fundada em 1756 em Portugal que congregava os opositores do maneirismo seiscentista. Inspirada na Arcádia Romana, criada em Roma em 1690, ela também remonta ao romance pastoral Arcadia (1504), do escritor italiano Jacopo Sannazaro. A obra retrata uma lendária região grega chamada Arcádia. Dominada pelo deus Pã, ela seria habitada por pastores cujo modo de vida bucólico e devotado à poesia foi transformado pelos neoclássicos em modelo ideal de convivência entre o homem e a natureza. Daí o fato de os escritores da época denominarem-se pastores e adotarem pseudônimos poéticos, como Glauceste Satúrnio (Cláudio Manuel da Costa), Alcindo Palmireno (Silva Alvarenga) e Termindo Sepílio (Basílio da Gama).
Com o propósito de restabelecer o equilíbrio da produção poética, autores do século XVIII empenharam-se na elaboração de manuais que recuperavam regras e padrões do Renascimento, por sua vez consolidados com base em formulações clássicas, principalmente de pensadores como Horácio e Aristóteles. Entre os mais importantes destacam-se o francês Nicolas Boileau, autor da Arte Poética, e o espanhol Luzán, cuja obra central é Poética. Em língua portuguesa, os principais doutrinadores do arcadismo foram Luís Antônio Verney, autor do Verdadeiro Método de Estudar (1747), e Francisco José Freire, que escreveu Arte Poética (1748).

Características Gerais:
Os antigos escritores gregos e romanos sintetizam o ideal de harmonia que os autores do período buscavam resgatar. Por isso eles também são conhecidos como neoclássicos. Tida como reduto por excelência do equilíbrio e da sabedoria, a natureza é a temática mais freqüente do Arcadismo. Em grande medida, é possível dizer que a poesia arcádica caracteriza-se por essa busca pelo "natural", ao qual estavam sempre associadas as idéias de verdade e de beleza.
Apesar de ter sido influenciada pela tradição poética do século XVI, cujo nome mais importante é Camões, e de apresentar resquícios do Barroco em certos casos, a poesia arcádica é um modelo de simplicidade e objetividade, se comparada com as obras do período anterior. Exemplos dessa simplificação da linguagem são a valorização da ordem direta, o verso sem rima, a singeleza do vocabulário e a menor incidência de comparações e antíteses - todos fatores identificáveis na produção poética do Arcadismo.
Essa liberdade formal, no entanto, era regida por normas consolidadas e formatos fixos que só começariam a afrouxar a partir do Romantismo. O soneto, por exemplo, era uma das formas mais empregadas, como se pode perceber pela obra de Cláudio Manuel da Costa. Também bastante utilizados eram a ode (composição poética dividida em estrofes simétricas, para ser cantada), a elegia (poesia sobre tema fúnebre) e a écloga (poesia pastoril).
Sem perder a impregnação religiosa nem o respeito à monarquia, os poetas do período abordaram assuntos mais imediatos e concretos do que seus antecessores. Fazem parte de seu universo temático o elogio da virtude civil, a crença na melhoria do homem pela instrução, a noção de que a harmonia social depende da obediência às leis da natureza, e a concepção da felicidade como conseqüência da prática do bem e da sabedoria. Todas essas idéias, em grande medida derivadas do Iluminismo, encontram expressão política na figura do Marquês de Pombal.



Romantismo

O romantismo é todo um período cultural, artístico e literário que se inicia na Europa no final do século XVIII, espalhando-se pelo mundo até o final do século XIX.
O berço do romantismo pode ser considerado três países: Itália, Alemanha e Inglaterra. Porém, na França, o romantismo ganha força como em nenhum outro país e, através dos artistas franceses, os ideais românticos espalham-se pela Europa e pela América.
As características principais deste período são: valorização das emoções, liberdade de criação, amor platônico, temas religiosos, individualismo, nacionalismo e história. Este período foi fortemente influenciado pelos ideais do iluminismo e pela liberdade conquistada na Revolução Francesa.

Artes Plásticas
Nas artes plásticas, o romantismo deixou importantes marcas. Artistas como o espanhol Francisco Goya e o francês Eugène Delacroix são os maiores representantes da pintura desta fase. Estes artistas representavam a natureza, os problemas sociais e urbanos, valorizavam as emoções e os sentimentos em suas obras de arte. Na Alemanha, podemos destacar as obras místicas de Caspar David Friedrich, enquanto na Inglaterra John Constable traçava obras com forte crítica à urbanização e aos problemas gerados pela Revolução Industrial.

Literatura
Foi através da poesia lírica que o romantismo ganhou formato na literatura dos séculos XVIII e XIX. Os poetas românticos usavam e abusavam das metáforas, palavras estrangeiras, frases diretas e comparações. Os principais temas abordados eram: amores platônicos, acontecimentos históricos nacionais, a morte e seus mistérios. As principais obras românticas são: Cantos e Inocência, do poeta inglês William Blake; Os Sofrimentos do Jovem Werther e Fausto, do alemão Goethe; Baladas Líricas, do inglês William Wordsworth, e diversas poesias de Lord Byron. Na França, destaca-se Os Miseráveis, de Victor Hugo e Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas.

Música
Na música ocorre a valorização da liberdade de expressão, das emoções e a utilização de todos os recursos da orquestra. Os assuntos de cunho popular, folclórico e nacionalista ganham importância nas músicas. Podemos destacar como músicos deste período: Ludwig van Beethoven (suas últimas obras são consideradas românticas), Franz Schubert, Carl Maria von Weber, Felix Mendelssohn, Frédéric Chopin, Robert Schumann, Hector Berlioz, Franz Liszt e Richard Wagner.

Teatro
Na dramaturgia o romantismo se manifesta valorizando a religiosidade, o individualismo, o cotidiano, a subjetividade e a obra de William Shakespeare. Os dois dramaturgos mais conhecidos desta época foram Goethe e Friedrich von Schiller. Victor Hugo também merece destaque, pois levou várias inovações ao teatro. Em Portugal, podemos destacar o teatro de Almeida Garrett.


O Romantismo no Brasil

Em nossa terra, inicia-se em 1836 com a publicação, na França, da Nictheroy - Revista Brasiliense, por Gonçalves de Magalhães. Neste período, nosso país ainda vivia sob a euforia da Independência do Brasil. Os artistas brasileiros buscaram sua fonte de inspiração na natureza e nas questões sociais e políticas do país. As obras brasileiras valorizavam o amor sofrido, a religiosidade cristã, a importância de nossa natureza, a formação histórica do nosso pais e o cotidiano popular.

Artes Plásticas
As obras dos pintores brasileiros buscavam valorizar o nacionalismo, retratando fatos históricos importantes. Desta forma, os artistas contribuíam para a formação de uma identidade nacional. As obras principais deste período são: A Batalha do Avaí, de Pedro Américo e A Batalha de Guararapes, de Victor Meirelles.

Literatura Romântica Brasileira
No ano de 1836 é publicado no Brasil Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. Esse é considerado o ponto de largada deste período na literatura de nosso país. Essa fase literária foi composta de três gerações:

1ª Geração: conhecida também como nacionalista ou indianista, pois os escritores desta fase valorizavam muito os temas nacionais, fatos históricos e a vida do índio, que era apresentado como “bom selvagem”, e, portanto, o símbolo cultural do Brasil. Destacam-se nessa fase os seguintes escritores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre e Teixeira e Souza.

2ª Geração: conhecida como Mal do século, Byroniana ou fase ultra-romântica. Os escritores desta época retratavam os temas amorosos levados ao extremo e as poesias são marcadas por um profundo pessimismo, valorização da morte, tristeza e uma visão decadente da vida e da sociedade. Muitos escritores deste período morreram ainda jovens. Podemos destacar os seguintes escritores desta fase: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire.

3ª Geração: conhecida como geração condoreira, poesia social ou hugoana. Textos marcados por crítica social. Castro Alves, o maior representante desta fase, criticou de forma direta a escravidão no poema Navio Negreiro.

Música Romântica no Brasil
A emoção, o amor e a liberdade de viver são os valores retratados nas músicas desta fase. O nacionalismo, nosso folclore e assuntos populares servem de inspiração para os músicos. O Guarani de Carlos Gomes é a obra musical de maior importância desta época.

Teatro
Assim como na música e na literatura os temas do cotidiano, o individualismo, o nacionalismo e a religiosidade também aparecem na dramaturgia brasileira desta época.
Em 1838, é encenada a primeira tragédia de Gonçalves de Magalhães: Antônio José, ou o Poeta e a Inquisição. Também podemos destacar a peça O Noviço, de Martins Pena.



Realismo

O realismo foi um movimento artístico e cultural que se desenvolveu na segunda metade do século XIX. A característica principal deste movimento foi a abordagem de temas sociais e um tratamento objetivo da realidade do ser humano.
Possuía um forte caráter ideológico, marcado por uma linguagem política e de denúncia dos problemas sociais como, por exemplo, miséria, pobreza, exploração, corrupção entre outros. Com uma linguagem clara, os artistas e escritores realistas iam diretamente ao foco da questão, reagindo, desta forma, ao subjetivismo do romantismo. Uma das correntes do realismo foi o naturalismo, onde a objetividade está presente, porém sem o conteúdo ideológico.

O Realismo nas Artes Plásticas
O realismo manifestou-se principalmente na pintura, onde as obras retratavam cenas do cotidiano das camadas mais pobres da sociedade. O sentimento de tristeza expressa-se claramente através das cores fortes. Um dos principais pintores realistas foi o francês Gustave Coubert. Com obras que chocaram o público pelo alto grau de realismo e pelos temas sociais, este artista destacou-se com as seguintes telas: Os Quebradores de Pedras e Enterro em Ornans. Outros importantes pintores deste período foram: Honoré Daumier, Jean-François Millet e Édouard Manet.

Literatura Realista
Nas obras em prosa, o realismo atingiu seu ápice na literatura. Os romances realistas são de caráter social e psicológico, abordando temas polêmicos para a sociedade da segunda metade do século XIX. As instituições sociais são criticadas, assim como a Igreja Católica e a burguesia. Nas obras literárias deste período, os escritores também criticavam o preconceito, a intolerância e a exploração. Sempre utilizando uma linguagem direta e objetiva.
Podemos citar como importantes obras da passagem do romantismo para o realismo: Comédia Humana, de Honoré de Balzac; O Vermelho e o Negro, de Stendhal; Carmen, de Prosper Merimée e Almas Mortas, de Nikolay Gogol. Porém, a obra que marca o início do realismo na literatura é a obra Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Outras importantes obras são: Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoievski; Anna Karenina e Guerra e Paz, de Leon Tolstoi; Oliver Twist, de Charles Dickens; Os Maias e Primo Basílio, de Eça de Queirós.

Teatro Realista
No teatro realista o herói romântico é trocado por pessoas comuns do cotidiano. Os problemas sociais transformam-se em temas para os dramaturgos realistas. A linguagem sofisticada do romantismo é deixada de lado e entram em cena as palavras comuns do povo. O primeiro representante desta fase é o dramaturgo francês Alexandre Dumas, autor de A Dama das Camélias. Também podemos destacar outras importantes peças de teatro do realismo como, por exemplo, Ralé e Os Pequenos Burgueses, de Gorki; Os Tecelões, de Gerhart Hauptmann e Casa de Bonecas, do norueguês Henrik Ibsen.


Realismo no Brasil

Literatura:
Na literatura brasileira o realismo manifestou-se principalmente na prosa. Os romances realistas tornaram-se instrumentos de crítica ao comportamento burguês e às instituições sociais. Muitos escritores românticos começaram a entrar para a literatura realista. Os especialistas em literatura dizem que o marco inicial do movimento no Brasil é a publicação do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Nesta obra, o escritor fluminense faz duras críticas à sociedade da época.

Teatro:
As peças retratam a realidade do povo brasileiro, dando destaque para os principais problemas sociais. Os personagens românticos dão espaço para trabalhadores e pessoas simples. Machado de Assis escreve Quase Ministro e José de Alencar destaca-se com O Demônio Familiar. Luxo e Vaidade, de Joaquim Manuel de Macedo também merece destaque. Outros escritores e dramaturgos que podemos destacar: Artur de Azevedo, Quintino Bocaiúva e França Júnior.



Surrealismo

O surrealismo surgiu na França na década de 1920. Este movimento foi significativamente influenciado pelas teses psicanalíticas de Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do ser humano.
De acordo com Freud, o homem deve libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões comportamentais e morais estabelecidos pela sociedade e dar vazão aos sonhos e as informações do inconsciente. O pai da psicanálise, não segue os valores sociais da burguesia como, por exemplo, o status, a família e a pátria.
O marco de início do surrealismo foi a publicação do Manifesto Surrealista, feito pelo poeta e psiquiatra francês André Breton, em 1924. Os artistas ligados ao surrealismo, além de rejeitarem os valores ditados pela burguesia, vão criar obras repletas de humor, sonhos, utopias e qualquer informação contrária a lógica.
Outros marcos importantes do surrealismo foram a publicação da revista A Revolução Socialista e o segundo Manifesto Surrealista, ambos de 1929. Os artistas do surrealismo que de destacaram mais na década de 1920 foram: o escultor italiano Alberto Giacometti, o dramaturgo francês Antonin Artaud, os pintores espanhóis Salvador Dalí e Joan Miró, o belga René Magritte, o alemão Max Ernst, e o cineasta espanhol Luis Buñuel e os escritores franceses Paul Éluard, Louis Aragon e Jacques Prévert.
A década de 1930 é conhecida como o período de expansão surrealista pelo mundo. Artistas, cineastas, dramaturgos e escritores do mundo todo assimilam as idéias e o estilo do surrealismo. Porém, no final da década de 1960 o grupo entra em crise e acaba se dissolvendo.

Artes Plásticas:
Foi através da pintura que as idéias do surrealismo foram melhor expressadas. Através da tela e das tintas, os artistas plásticos colocam suas emoções, seu inconsciente e representavam o mundo concreto.
O movimento artístico dividiu-se em duas correntes. A primeira, representada principalmente por Salvador Dalí, trabalha com a distorção e justaposição de imagens conhecidas. Sua obra mais conhecida neste estilo é A Persistência da Memória. Nesta obra, aparecem relógios desenhados de tal forma que parecem estar derretendo.
Os artistas da segunda corrente libertam a mente e dão vazão ao inconsciente, sem nenhum controle da razão. Joan Miró e Max Ernst representam muito bem essa corrente. As telas saem com formas curvas, linhas fluidas e com muitas cores. O Carnaval de Arlequim e A Cantora Melancólica são duas pinturas de Miró que representam muito bem esta vertente do surrealismo.

Literatura:
Os escritores do surrealismo rejeitaram o romance e a poesia em estilos tradicionais e que representavam os valores sociais da burguesia. As poesias e textos deste movimento são marcados pela livre associação de idéias, frases montadas com palavras recortadas de revistas e jornais e muitas imagens e idéias do inconsciente. O poeta Paul Éluard, autor de Capital da Dor e André Breton, autor de O Amor Louco, Nadja e Os Vasos Comunicantes, são representantes da literatura surrealista.

Cinema:
Os cineastas também quebraram com o tradicionalismo cinematográfico. Demonstram uma despreocupação total com o enredo e com a história do filme. Os ideais da burguesia são combatidos e os desejos não racionais afloram. Dois filmes representativos são Um Cão Andaluz (1928) e L'Âge D'Or (1930), de Luiz Bruñuel em parceria com Salvador Dalí.

Teatro:
O dramaturgo francês Antonin Artaud é o maior representante do surrealismo no teatro, através de seu teatro da crueldade. Artaud, buscava através de suas peças teatrais, livrar o espectador das regras impostas pela civilização e assim despertar o inconsciente da platéia. Um das técnicas usadas pelo dramaturgo foi unir palco e platéia, durante a realização das peças. No livro O Teatro e seu duplo, Arnaud demonstra sua teoria.
Sua obra mais conhecida é Os Cenci de 1935, onde ele conta a vida de uma família italiana durante a fase do Renascimento.
Nas décadas de 1940 e 1950, os princípios do surrealismo influenciaram o teatro do absurdo.


O Surrealismo no Brasil

As idéias do surrealismo foram absorvidas na década de 1920 e 1930 pelo movimento modernista no Brasil. Podemos observar características surrealistas nas pinturas Nu e Abaporu, de Ismael Nery e da artista Tarsila do Amaral, respectivamente. A obra Eu Vi o Mundo, Ele Começava no Recife, do artista pernambucano Cícero Dias, apresenta muitas características do surrealismo. As esculturas de Maria Martins também caminham nesta direção.



Parnasianismo

Na década de 1870, quando o Parnasianismo começou a ser difundido como nova estética literária no Brasil, o país atravessava uma série de crises políticas e sociais que assinalariam o colapso do governo imperial e do regime escravocrata, culminando na abolição da escravatura, em 1888, e na proclamação da República, em 1889. O desenvolvimento econômico, que até meados do século XIX se concentrara no Nordeste, a partir dos anos de 1870 passou a deslocar-se para o Centro-Sul, onde a cultura do café começava a expandir-se. O único grande centro urbano do Brasil, ainda essencialmente agrícola, era o Rio de Janeiro, onde se concentrava a vida política e cultural do país. Mas foram intelectuais de Recife ligados à Faculdade de Direito, entre eles Silvio Romero e Tobias Barreto, os primeiros a divulgar as novas idéias literárias, filosóficas e políticas que passariam a influenciar o pensamento dos escritores nacionais.
A elite brasileira recebia, principalmente através da França, as idéias republicanas, positivistas e evolucionistas que agitavam os meios intelectuais europeus, além das descobertas de novas ciências como a física, a lingüística e a biologia. O grande veículo de difusão das novas teorias, inclusive literárias, eram os inúmeros periódicos surgidos com o desenvolvimento da imprensa nacional. Foi nas páginas do jornal Diário do Rio de Janeiro que, no final da década de 1870, travou-se a Batalha do Parnaso, polêmica entre os adeptos do Romantismo, de um lado, e os seguidores do Realismo e do Parnasianismo, de outro, que serviu para tornar mais conhecidas as novas tendências literárias.
Os jornais e revistas eram importantes veículos para a divulgação de obras e movimentos literários e consolidação de autores. Muitos escritores da época, além de publicarem poemas e folhetins, atuaram como cronistas em periódicos, contribuindo inclusive para a profissionalização do escritor brasileiro. Entre eles destaca-se Machado de Assis, um dos principais autores brasileiros do Realismo e poeta parnasiano que, como cronista da Gazeta de Notícias (RJ), exerceu forte influência crítica.
O sucessor de Machado na Gazeta de Notícias, Olavo Bilac, como bom parnasiano, permaneceu distante, no âmbito da poesia, dos acontecimentos sociais e políticos de seu tempo - ainda que tenha escrito eventuais poemas satíricos, alguns deles dedicados a Floriano Peixoto; produziu também poemas infantis e é o autor do Hino à Bandeira. Como cronista, desceu da "torre de marfim" e abordou alguns dos grandes temas de seu tempo, como a libertação dos escravos, em A Escravidão, e a reurbanização da capital nacional, em O Rio Convalesce.
Assim, os escritores brasileiros, que nesse período já constituíam um grupo numeroso, produtor de obras inseridas em uma tradição nacional, tinham garantida a circulação de seus textos por meio de periódicos ou de algumas editoras, como a francesa Garnier, instalada no Rio de Janeiro. No entanto, o público leitor era bastante restrito, já que a maioria da população brasileira - 80%, segundo o censo de 1872 - era analfabeta. Os poetas parnasianos dirigiam suas obras, portanto, a uma reduzida e letrada camada da população, que prestigiava seus poemas repletos de preciosismos lingüísticos e de referências à Antigüidade Clássica.

Características Gerais:
Nas últimas décadas do século XIX, várias correntes literárias inovadoras, entre elas o Parnasianismo, apresentaram parâmetros de criação artística que se contrapunham aos então já desgastados valores românticos. Enquanto na prosa o Realismo e o Naturalismo apresentavam novas maneiras de produzir ficção, calcadas na análise objetiva da realidade social e humana, no âmbito da poesia o movimento parnasiano voltava-se principalmente para o culto da forma, afastando-se dos problemas sociais do período.
O termo parnasianismo surgiu na França, para nomear os poetas reunidos nas antologias de poesia intituladas Le Parnasse Contemporain, publicadas a partir de 1866. Entre os poetas mais importantes do movimento francês estava Théophile Gautier, principal divulgador do princípio da "arte pela arte" - a arte voltada para si mesma, sem intenções políticas, morais, didáticas ou de qualquer outro tipo, princípio que sintetizava os objetivos do movimento. A nova escola rapidamente penetrou no Brasil e, nos decênios de 1880 e 1890, conquistou número progressivo de adeptos. Poetas parnasianos portugueses, como Gongalves Crespo (brasileiro de nascimento), Antero de Quental e Teófilo Braga também exerceram influência, ainda que em menor escala, sobre os autores brasileiros.
A obra Fanfarras (1882), de Teófilo Dias, costuma ser identificada como o marco inicial do Parnasianismo no Brasil, onde o movimento perdurou até os primeiros decênios do século XX, coexistindo com o Simbolismo e mesmo com o início do Modernismo. O prolongamento da estética, por poetas conhecidos como Neoparnasianos, "é fenômeno particular da literatura brasileira", segundo Otto Maria Carpeaux. Para o crítico, "aqui e só aqui fracassou o Simbolismo; e, por isso, o movimento poético precedente sobreviveu, quando já estava extinto em toda parte no mundo". Já para Alfredo Bosi, "o Parnasianismo é o estilo das camadas dirigentes, da burocracia culta e semiculta, das profissões liberais habituadas a conceber a poesia como ‘linguagem ornada’, segundo padrões já consagrados que garantam o bom gosto da imitação". O fato de a Academia Brasileira de Letras (1897) apresentar adeptos do Parnasianismo entre a maioria de seus fundadores pode também ter colaborado, segundo vários críticos, para a "oficialização" e para a extensão cronológica da escola, cujo prestígio enfraqueceu apenas depois dos duros ataques desferidos pelos poetas modernistas. Hoje, porém, as críticas de autores e pensadores ligados ao Modernismo estão sendo revistas, e o maior distanciamento permite avaliar, talvez com mais imparcialidade, as qualidades e os problemas do Parnasianismo.
Parnaso é um monte localizado na Grécia central, onde, segundo a mitologia, residiam o deus Apolo e as Musas, divindades inspiradoras das artes. Já no nome da escola se revela, por conseguinte, seu tributo à Antigüidade Clássica, que influenciou os temas e a concepção de arte dos adeptos do Parnasianismo. Incidentes da história ou da mitologia greco-latina foram grande fonte de termas para os parnasianos, como se pode observar no poema "Afrodite", de Alberto de Oliveira. Formas poéticas antigas ou em desuso, como o soneto, principalmente, voltaram a ser cultivadas. Aliás, o soneto, que havia quase desaparecido com os românticos, tornou-se marca distintiva dos parnasianos, assim como a famosa "chave de ouro" - o acabamento feliz, de belo efeito, de um poema.
A busca da objetividade temática e o culto da forma são as mais importantes características do Parnasianismo. Os poetas parnasianos opunham-se ao individualismo, ao sentimentalismo e ao subjetivismo românticos, e procuraram voltar sua poesia para temas que consideravam mais universais, como a natureza, a história, o amor, os objetos inanimados, além da própria poesia. Essa poética da impessoalidade era reforçada pelo gosto da descrição e do rigor formal. O ideal da "arte pela arte" resultou em acentuada preocupação com a versificação e a metrificação, pois acreditava-se que a Beleza residia também na forma. O trabalho do poeta foi, inclusive, comparado ao do escultor, do ourives, do artesão, já que seu esforço concentrava-se em dar forma perfeita a um objeto artístico. O poema de Raimundo Correia A um Artista, dedicado a Olavo Bilac, é modelar nesse sentido. Essa comparação levou à criação de poemas que tematizam esculturas, pinturas, jóias, objetos artísticos - como em Vaso Grego, de Alberto de Oliveira - transformando muitas vezes o princípio da "arte pela arte" em "arte sobre a arte".
Os versos brancos do Romantismo foram abandonados e retomou-se o uso dos versos de 10 sílabas e das rimas ricas e raras, num movimento de aproximação da tradição clássica. A procura da expressão perfeita e original de determinada idéia ou sentimento levou à valorização do conhecimento da língua, necessário para fugir das imagens gastas e vulgarizadas da estética romântica. A utilização de vocabulário culto, como tentativa de renovação da linguagem poética, é, desse modo, outro traço característico do Parnasianismo. Olavo Bilac, em Língua Portuguesa, expressa o amor parnasiano ao idioma nacional. O apego dos parnasianos ao rigor gramatical e ao rebuscamento da linguagem teria contribuído, segundo Antonio Candido, "para lhes dar voga e credibilidade, pois facilitava o entrosamento com as aspirações dominantes da cultura oficial".
Já a impassibilidade pretendida pela escola, necessária para o registro objetivo da realidade, se foi tematizada em poemas como Musa Impassível, de Francisca Júlia, não chegou a ser plenamente alcançada, e nem poderia ser. Afinal, como afirma Benjamin Abdala Junior, "o poeta só pode construir o poema selecionando situações, palavras, imagens, a partir de sua própria perspectiva", o que torna a objetividade de certa forma um mito. Além disso, a impassibilidade e outros princípios do Parnasianismo foram muitas vezes alterados pelos autores nacionais, pois no Brasil os fundamentos da nova estética repousaram "na tradição literária interna, suficiente para assimilar e reformular as sugestões externas", como observou José Aderaldo Castello.
A tradição brasileira permitiu, assim, que o mesmo Olavo Bilac que professa os ideiais parnasianos em Profissão de Fé e A um Poeta - em cujos versos o culto à forma, o tributo à Antiguidade Clássica, o amor à língua e a fidelidade ao princípio da "arte pela arte" são enfaticamente expostos - expressasse um lirismo apaixonado em tantos sonetos, como no antológico Ora (Direis) Ouvir Estrelas. É preciso lembrar ainda que o sistema literário brasileiro, se no período já estava consolidado por uma tradição local, englobava várias correntes literárias de origem estrangeira que aqui se misturavam e se recriavam, como o Romantismo e o Simbolismo, movimentos que influenciaram em menor ou maior grau a obra dos poetas parnasianos.
Os autores mais significativos do Parnasianismo foram Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Raimundo Correia, considerados a "tríade oficial" do movimento, além de Vicente de Carvalho e Francisca Júlia. A poesia de Alberto de Oliveira é considerada a mais fiel aos valores do Parnasianismo; nela, a impessoalidade, o descritivismo e a tematização de objetos são elementos bastante presentes - ainda que em poemas como Alma em Flor revele sentimentalidade que desmente sua fama de impassível. Olavo Bilac, um dos mais populares poetas brasileiros, buscou e alcançou o rigor da forma, mas o lirismo e o sensualismo de seus versos muitas vezes o afastaram dos princípios mais rígidos do Parnasianismo. Raimundo Correia estreou como romântico, mas tornou-se parnasiano, intensamente influenciado por autores franceses e criador de uma poesia filosófica, reflexiva, distinta pelo pessimismo. Vicente de Carvalho, poeta também bastante popular, de obra impregnada de matizes românticas, foi o parnasiano que melhor tematizou a natureza, principalmente o mar de sua terra natal, Santos SP. Finalmente, Francisca Júlia é autora de sonetos que figuram entre os mais bem realizados do Parnasianismo e, ainda que alguns de seus últimos poemas apresentem traços simbolistas, segue sendo considerada poeta das mais leais aos fundamentos parnasianos.



O Simbolismo

O Simbolismo - que também foi chamado de Decadentismo, Impressionismo, Nefelibatismo - surgiu na França, por volta de 1880, e de lá difundiu-se internacionalmente, abrangendo vários ramos artísticos, principalmente a poesia. O período era de profundas modificações sociais e políticas, provocadas fundamentalmente pela expansão do capitalismo, na esteira da industrialização crescente, e que convergiram para, dentre outras conseqüências, a I Guerra Mundial. Na Europa haviam germinado idéias científico-filosóficas e materialistas que procuravam analisar racionalmente a realidade e assim apreender as novas transformações; essas idéias, principalmente as do positivismo, influenciaram movimentos literários como o Realismo e o Naturalismo, na prosa, e o Parnasianismo, na poesia.
No entanto, os triunfos materialistas e científicos não eram compartilhados ou aceitos por muitos estratos sociais, que haviam ficado ao largo da prosperidade burguesa característica da chamada "belle époque"; pelo contrário, esses grupos alertavam para o mal-estar espiritual trazido pelo capitalismo. Assim, como afirmou Alfredo Bosi, "do âmago da inteligência européia surge uma oposição vigorosa ao triunfo da coisa e do fato sobre o sujeito - aquele a quem o otimismo do século prometera o paraíso mas não dera senão um purgatório de contrastes e frustrações". A partir dessa oposição, no campo da poesia, formou-se o Simbolismo.
O movimento simbolista tomou corpo no Brasil na década de 1890, quando o país passava também por intensas e radicais transformações, ainda que diversas daquelas vivenciadas na Europa. O advento da República e a abolição da escravatura modificaram as estruturas políticas e econômicas que haviam sustentado a agrária e aristocrática sociedade brasileira do Império. Os primeiros anos do regime republicano, de grande instabilidade política, foram marcados pela entrada em massa de imigrantes no país, pela urbanização dos grandes centros - principalmente de São Paulo, que começou a crescer em ritmo acelerado -, e pelo incremento da indústria nacional.
Nas cidades, a classe média se expandiu, enquanto a operária começou a tornar-se numerosa. No campo, aumentaram as pequenas propriedades produtivas e o colonato. A jovem república federativa, que ainda definia os limites de seu território, conheceu a riqueza efêmera da borracha na Amazônia e a prosperidade trazida pela diversificação da produção agrícola no Rio Grande do Sul. Mas era o café produzido no Centro-Sul a força motriz da economia brasileira, e de seus lucros alimentou-se a poderosa burguesia que determinava o destino de grande parte dos projetos políticos, financeiros e culturais do país.
No Brasil ainda sustentado pela agricultura e dependente de importações de produtos manufaturados, máquinas e equipamentos, a indústria editorial engatinhava. O público leitor era reduzido, já que a maior parte da população era analfabeta. As poucas editoras existentes concentravam-se no Rio de Janeiro e lançavam autores de preferência já conhecidos do público, em tiragens pequenas, impressas em Portugal ou na França, e mal distribuídas. Era principalmente nas páginas de periódicos que circulavam as obras literárias, e onde se debatiam os novos movimentos estéticos que agitavam os meios artísticos. Foi por meio do jornal carioca Folha Popular que formou-se o grupo simbolista liderado por Cruz e Souza, provavelmente o mais importante a divulgar a nova estética no país.
Os simbolistas contribuíram muito para a evolução do mercado de periódicos, pois lançaram grande número de revistas, em vários estados brasileiros. Ainda que os títulos durassem, na maioria das vezes, apenas alguns números, o que é também indicativo da fragilidade do mercado editorial e da cena literária, representaram grande avanço no setor, notavelmente pelo apuro gráfico. Dentre os periódicos simbolistas destacam-se as cariocas Rio-Revista e Rosa-Cruz, as paranaenses Clube Curitibano e O Cenáculo, as mineiras Horus e A Época, a cearense A Padaria Espiritual, a baiana Nova Cruzada, entre muitas outras. No começo do século XX, foram publicadas revistas que ficariam famosas pela qualidade editorial e gráfica, como Kosmos e Fon-Fon!. As inovações formais e tipográficas praticadas pelos simbolistas, como os poemas figurativos, as páginas coloridas, os livros-estojo exigiam grande requinte técnico e, por conseqüência, terminaram por ajudar a melhorar a qualidade da indústria gráfica no país.

Características Gerais:
Os poetas simbolistas acreditavam que a realidade é complexa demais pra ser apreendida e descrita de maneira objetiva e racional, como pretendiam os realistas e parnasianos. Eles voltaram-se para o universo interior e os aspectos não-racionais e não-lógicos da vida, como o sonho, o misticismo, o transcendental. Propunham o exercício da subjetividade contra a objetividade - retomando, de modo diferente, o individualismo romântico.
É preciso diferenciar, todavia, poesia simbolista de poesia simbólica. Como afirma o crítico Afrânio Coutinho, "nem toda literatura que usa o símbolo é simbolista. A poesia universal é toda ela na essência simbólica". O Simbolismo, para Coutinho, "posto não constituísse uma unidade de métodos, antes de ideais, procurou instalar um credo estético baseado no subjetivo, no pessoal, na sugestão e no vago, no misterioso e ilógico, na expressão indireta e simbólica. Como pregava Mallarmé, não se devia dar nome ao objeto, nem mostrá-lo diretamente, mas sugeri-lo, evocá-lo pouco a pouco, processo encantatório que caracteriza o símbolo."
No Brasil, onde o Parnasianismo dominava o cenário poético, a estética simbolista encontrou resistências, mas animou a criação de obras inovadoras. Desde o final da década de 1880 as obras de simbolistas franceses, entre eles Baudelaire e Mallarmé, e portugueses, como Antonio Nobre e Camilo Pessanha, vinham influenciando grupos como aquele que se formou em torno da Folha Popular, no Rio, liderado por Cruz e Souza e integrado por Emiliano Perneta, B. Lopes e Oscar Rosas. Mas foi com a publicação, em 1893, de Missal, livro de poemas em prosa, e Broquéis, poemas em versos, ambos de Cruz e Souza, que principiou de fato o movimento simbolista no país - embora a importância desses livros e do próprio movimento só tenha sido reconhecida bem mais tarde, com as vanguardas modernistas.
Entre as inovações formais que caracterizam o Simbolismo estão a prática do verso livre, em oposição ao rigor do verso parnasiano, e o uso de "uma linguagem ornada, colorida, exótica, poética, em que as palavras são escolhidas pela sonoridade, ritmo, colorido, fazendo-se arranjos artificiais de parte ou detalhes para criar impressões sensíveis, sugerindo antes que descrevendo e explicando", de acordo com Afrânio Coutinho. Traços formais característicos do Simbolismo são a musicalidade, a sensorialidade, a sinestesia (superposição de impressões sensoriais). O antológico poema Antífona, de Cruz e Souza, é exemplar nesse sentido; sugestões de perfumes, cores, músicas perpassam todo o poema, cuja linguagem vaga e fluida é plena de recursos sonoros como aliterações e assonâncias. Há também em Antífona referências a elementos místicos, ao sonho, a mistérios, ao amor erótico, à morte, os grandes temas simbolistas.
Ainda com relação à forma, o soneto foi cultivado pelos simbolistas, mas não com a predileção manifestada pelos parnasianos, nem com sua paixão descritiva. Em sonetos como Incenso, de Gilka Machado, e Acrobata da Dor, de Cruz e Souza, está presente a linguagem que sugere, em lugar de nomear ou descrever, além de elementos como o questionamento da razão, a dor da existência, o interesse pelo mistério, a transcendência espiritual, que são característicos do Simbolismo. Lembre-se a propósito, também, do poema O Soneto, de Cruz e Souza, em que a linguagem poética simbolista transfigura e recria a forma da composição soneto. É importante lembrar que as correntes simbolistas e parnasianas coexistiram e se influenciaram mutuamente; assim, há na obra de adeptos do Simbolismo traços da estética parnasiana e, do mesmo modo, impregnações simbolistas na obra de poetas ligados ao Parnasianismo, como Francisca Júlia.
Os principais autores simbolistas brasileiros são Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens, mas merecem destaque também Gilka Machado e Augusto dos Anjos.
Cruz e Souza é considerado o maior poeta simbolista brasileiro, e foi mesmo apontado pelo estudioso Roger Bastide como dos maiores poetas do Simbolismo no mundo. Para a crítica Luciana Stegagno-Picchio, "ao firme, sapiente universo do parnasiano, à estátua, ao mármore, mas também ao polido distanciamento e ao sorriso, o simbolista Cruz e Souza contrapõe seu universo sinuoso, mal seguro, inquietante, misterioso, alucinante". Negro, o poeta sofreu preconceitos terríveis, que marcaram de diversos modos sua produção poética. Os críticos costumam indicar a "obsessão" pela cor branca em seus versos, repletos de brumas, pratas, marfins, linhos, luares, e de adjetivos como alva, branca, clara. Mas Cruz e Souza também expressou as dores e injustiças da escravidão em poemas como Crianças Negras e Na Senzala.
A obra de Alphonsus de Guimaraens é fundamentada pelos temas do misticismo, do amor e da morte. Em poemas como A Catedral e A Passiflora, repletos de referências católicas, a religiosidade é o assunto principal. O poeta também voltou-se para outro tema caro aos simbolistas, o interesse pelo inconsciente e pelas zonas profundas e desconhecidas da mente humana. Ismália, talvez seu poema mais conhecido, tematiza justamente a loucura. O amor, em sua poesia, é o amor perdido, inatingível, pranteado, como em Noiva e Salmos da Noite; reminiscências da morte prematura da mulher que amou na juventude.
Gilka Machado "foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo", segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos. Seus poemas, de intenso sensualismo, chegaram a causar escândalo, mas revelaram novas maneiras de expressar o erotismo feminino. Emiliano Perneta também imprimiu forte sensualismo em seus versos, característicos além disso pelo satanismo e decadentismo. Sua poesia, para Andrade Muricy, é "a mais desconcertante e variada que o simbolismo produziu entre nós". Já a obra de Augusto dos Anjos - extremamente popular, diga-se de passagem - é única, e há grande dificuldade entre a crítica para classificá-la. Seus poemas, que chegam a ser expressionistas, recorrem a uma linguagem cientifista-naturalista, abundante de termos técnicos, para tematizar a morte, a destruição, o pessimismo e mesmo o asco diante da vida.



O Barroco

O barroco foi uma tendência artística que se desenvolveu primeiramente nas artes plásticas e depois se manifestou na literatura, no teatro e na música. O berço do barroco é a Itália do século XVII, porém se espalhou por outros países europeus como, por exemplo, a Holanda, a Bélgica, a França e a Espanha. O barroco permaneceu vivo no mundo das artes até o século XVIII. Na América Latina, o barroco entrou no século XVII, trazido por artistas que viajavam para a Europa, e permaneceu até o final do século XVIII.
O barroco se desenvolve no seguinte contexto histórico: após o processo de Reformas Religiosas, ocorrido no século XVI, a Igreja Católica havia perdido muito espaço e poder. Mesmo assim, os católicos continuavam influenciando muito o cenário político, econômico e religioso na Europa. A arte barroca surge neste contexto e expressa todo o contraste deste período: a espiritualidade e teocentrismo da Idade Média com o racionalismo e antropocentrismo do Renascimento.
Os artistas barrocos foram patrocinados pelos monarcas, burgueses e pelo clero. As obras de pintura e escultura deste período são rebuscadas, detalhistas e expressam as emoções da vida e do ser humano.
A palavra barroco tem um significado que representa bem as características deste estilo. Significa "pérola irregular" ou "pérola deformada" e representa de forma pejorativa a idéia de irregularidade. O período final do barroco (século XVIII) é chamado de rococó e possui algumas peculiaridades, embora as principais características do barroco estão presentes nesta fase. No rococó existe a presença de curvas e muitos detalhes decorativos (conchas, flores, folhas, ramos). Os temas relacionados à mitologia grega e romana, além dos hábitos das cortes também aparecem com freqüência.


O Barroco  Europeu

As obras dos artistas barrocos europeus valorizam as cores, as sombras e a luz, e representam os contrates. As imagens não são tão centralizadas quanto as renascentistas e aparecem de forma dinâmica, valorizando o movimento. Os temas principais são: mitologia, passagens da Bíblia e a história da humanidade. As cenas retratadas costumam ser sobre a vida da nobreza, o cotidiano da burguesia, naturezas-mortas entre outros. Muitos artistas barrocos dedicaram-se a decorar igrejas com esculturas e pinturas, utilizando a técnica da perspectiva.
As esculturas barrocas mostram faces humanas marcadas pelas emoções, principalmente o sofrimento. Os traços se contorcem, demonstrando um movimento exagerado. Predominam nas esculturas as curvas, os relevos e a utilização da cor dourada.
Podemos citar como principais artistas do barroco: o espanhol Velázquez, o italiano Caravaggio, os belgas Van Dyck e Frans Hals, os holandeses Rembrandt Vermeer e o flamengo Rubens.


O Barroco no Brasil

O barroco brasileiro foi diretamente influenciado pelo barroco português, porém, com o tempo, foi assumindo características próprias. A grande produção artística barroca no Brasil ocorreu nas cidades auríferas de Minas Gerais, no chamado século do ouro (século XVIII). Estas cidades eram ricas e possuíam uma intensa vida cultural e artística em pleno desenvolvimento.
O principal representante do barroco mineiro foi o escultor e arquiteto Antônio Francisco de Lisboa, também conhecido como Aleijadinho. Suas obras, de forte caráter religioso, eram feitas em madeira e pedra-sabão, os principais materiais usados pelos artistas barrocos do Brasil. Podemos citar algumas obras de Aleijadinho: Os Doze Profetas e Os Passos da Paixão, na Igreja de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo (MG).
Outros artistas importantes do barroco brasileiro foram: o pintor mineiro Manuel da Costa Ataíde e o escultor carioca Mestre Valentim. No estado da Bahia, o barroco destacou-se na decoração das igrejas em Salvador como, por exemplo, de São Francisco de Assis e a da Ordem Terceira de São Francisco.



Pré-Modernismo

Origens:
As duas primeiras décadas do século XX não registram, no Brasil, convulsões semelhantes às ocorridas na Europa. A abolição da escravatura e o golpe republicano pouco haviam alterado as estruturas básicas do país. A economia - ainda voltada para as necessidades dos países europeus - assentava-se na dependência externa e no domínio interno dos cafeicultores.
Porém, algumas mudanças iam se desenhando. A urbanização, o crescimento industrial e a imigração modificam a fisionomia da sociedade brasileira. Nas cidades, começa a se formar uma classe média reformista. Simultaneamente, emerge uma massa popular insatisfeita e propensa a revoltas irracionais como, por exemplo, a rebelião contra a vacina obrigatória.
Na zona rural, produzem-se confrontos de maior ou menor intensidade dentro das classes dominantes, das violentas, mas restritas, lutas entre coronéis em determinadas regiões até a verdadeira guerra civil - que se trava no Rio Grande do Sul - entre republicanos e maragatos. Não esqueçamos também que, nesse período, irrompem as revoluções camponesas de Canudos (1896-1897) e do Contestado (1912).

Características:
O movimento pendular da sociedade brasileira entre imobilismo e modernização seria transferido para a literatura. Com efeito, os primeiros vinte anos do século são marcados tanto pela presença de resíduos culturais do século XIX como pela busca de novas formas de expressão. E, acima de tudo, por um desejo individual - e nem sempre explícito - de redescoberta crítica do Brasil. De um Brasil esquecido, ignorado e, por vezes, doente, mas que precisa ser mostrado, discutido, interpretado. A grosso modo, podemos delimitar quatro tendências no período:

1. Parnasianos: ainda imperantes, com suas idéias formalistas, sua concepção da literatura como "sorriso da sociedade", sua linguagem retórica e bacharelesca. Olavo Bilac, na poesia, e Coelho Neto, na prosa, são os "príncipes" idolatrados. Coelho Neto escreve um sem-número de romances que obtêm grande sucesso, menos pela qualidade narrativa, e mais pelos intoleráveis artifícios verborrágicos de seu estilo;
2. Simbolistas: grupo relativamente inexpressivo que ainda sonha com neves e neblinas e escuta os doces violinos de Verlaine. Nas décadas posteriores, alguns jovens poetas talentosos como Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Mário Quintana iniciarão suas carreiras, demonstrando uma forte dívida para com estes simbolistas retardatários;
3. Realistas ou Neo-Realistas: prosadores cujos procedimentos literários são tipicamente realistas (objetividade, verossimilhança, crítica social, análise psicológica, etc.) Destacam-se, dentro desta linha, Monteiro Lobato, com o resgate do caboclo paulista; Lima Barreto, com a fixação do universo suburbano carioca; e Simões Lopes Neto, que incorpora à ficção brasileira o vaqueano do pampa rio-grandense, além de registrar-lhe a fala regional. Estes narradores exerceriam poderosa influência sobre a geração dos romancistas de 1930;
4. Intérpretes do Brasil: compõem-se de dois representantes, Euclides da Cunha e Graça Aranha. Valem-se da literatura - o primeiro da linguagem, o segundo da estrutura do romance - para questionar a realidade brasileira e debater o seu futuro. Estão muito próximos do ensaio e o livro Os sertões se tornará o maior divisor de águas em nossa cultura, durante todo o século XX.

Ou seja, pré-modernista propriamente dito, no sentido de usar recursos técnicos ou temas inovadores, antes da eclosão da Semana de Arte Moderna, somente (e até certo ponto) o poeta Augusto dos Anjos. Em sua obra, apesar da mistura de influências cientificistas, parnasianas e simbolistas, há, de quando em quando, um inesperado gosto pelo coloquial e pela "sujeira da vida", que a coloca como precursora de uma das vertentes da poesia modernista.

A Designação do Período Literário:
Por causa do ecletismo (mistura de tendências, estilos e visões) da época - em que várias correntes e estilos se chocam e confundem, e vários autores apresentam uma mescla de academicismo e inovação - torna-se quase impossível rotular o período, enfeixá-lo dentro de um conceito abrangente e único. A necessidade pedagógica de uma designação para estas duas décadas que antecedem a Semana, levou o crítico Alceu de Amoroso Lima - já nos anos de 1950 - à criação do termo pré-modernismo.
Trata-se de um conceito que não abarca a complexidade estética e ideológica das obras produzidas então. Contudo, exigências didáticas e ausência de outra classificação satisfatória terminaram cristalizando a proposta daquele historiador literário. E assim, pré-modernismo passou a indicar todos os textos neo-realistas, as interpretações do Brasil e a poesia anunciadora da rebelião vanguardista.



Semana de Arte Moderna de 1922

A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas européias mais conservadoras.
Em um período repleto de agitações, os intelectuais brasileiros se viram em um momento em que precisavam abandonar os valores estéticos antigos, ainda muito apreciados em nosso país, para dar lugar a um novo estilo completamente contrário, e do qual, não se sabia ao certo o rumo a ser seguido.
No Brasil, o descontentamento com o estilo anterior foi bem mais explorado no campo da literatura, com maior ênfase na poesia. Entre os escritores modernistas destacam-se: Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira. Na pintura, destacou-se Anita Malfatti, que realizou a primeira exposição modernista brasileira em 1917. Suas obras, influenciadas pelo cubismo, expressionismo e futurismo, escandalizaram a sociedade da época. Monteiro Lobato não poupou críticas à pintora, contudo, este episódio serviu como incentivo para a realização da Semana de Arte Moderna.
A Semana, na verdade, foi a explosão de idéias inovadoras que aboliam por completo a perfeição estética tão apreciada no século XIX. Os artistas brasileiros buscavam uma identidade própria e a liberdade de expressão; com este propósito, experimentavam diferentes caminhos sem definir nenhum padrão. Isto culminou com a incompreensão e com a completa insatisfação de todos que foram assistir a este novo movimento. Logo na abertura, Manuel Bandeira, ao recitar seu poema Os sapos, foi desaprovado pela platéia através de muitas vaias e gritos.
Embora tenha sido alvo de muitas críticas, a Semana de Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao inserir suas idéias ao longo do tempo. O movimento modernista continuou a expandir-se por divulgações através da Revista Antropofágica e da Revista Klaxon, e também pelos seguintes movimentos: Movimento Pau-Brasil, Grupo da Anta, Verde-Amarelismo e pelo Movimento Antropofágico.
Todo novo movimento artístico é uma ruptura com os padrões utilizados pelo anterior, isto vale para todas as formas de expressões, sejam elas através da pintura, literatura, escultura, poesia, etc. Ocorre que nem sempre o novo é bem aceito, isto foi bastante evidente no caso do Modernismo, que, a principio, chocou por fugir completamente da estética européia tradicional que influenciava os artistas brasileiros.



O Modernismo

Tendência vanguardista que rompe com padrões rígidos e caminha para uma criação mais livre, surgida internacionalmente nas artes plásticas e na literatura a partir do final do século XIX e início do século XX. É uma reação às escolas artísticas do passado. Como resultado desenvolvem-se novos movimentos, entre eles o expressionismo, o cubismo, o dadá, o surrealismo e o futurismo.
No Brasil, o termo identifica o movimento desencadeado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Em 13, 15 e 17 de fevereiro daquele ano, conferências, recitais de música, declamações de poesia e exposição de quadros, realizados no Teatro Municipal de São Paulo, apresentam ao público as novas tendências das artes do país. Seus idealizadores rejeitam a arte do século XIX e as influências estrangeiras do passado. Defendem a assimilação das tendências estéticas internacionais para mesclá-las com a cultura nacional, originando uma arte vinculada à realidade brasileira.
A partir da Semana de 22 surgem vários grupos e movimentos, radicalizando ou opondo-se a seus princípios básicos. O escritor Oswald de Andrade e a artista plástica Tarsila do Amaral lançam em 1925 o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, que enfatiza a necessidade de criar uma arte baseada nas características do povo brasileiro, com absorção crítica da modernidade européia. Em 1928 levam ao extremo essas idéias com o Manifesto Antropofágico, que propõe "devorar" influências estrangeiras para impor o caráter brasileiro à arte e à literatura. Por outro caminho, mais conservador, segue o grupo da Anta, liderado pelo escritor Menotti del Picchia (1892-1988) e pelo poeta Cassiano Ricardo (1895-1974). Em um movimento chamado de Verde-amarelismo, fecham-se às vanguardas européias e aderem a idéias políticas que prenunciam o integralismo, versão brasileira do fascismo.
O principal veículo das idéias modernistas é a revista Klaxon, lançada em maio de 1922.

Artes plásticas:
Uma das primeiras exposições de arte moderna no Brasil é realizada em 1913 pelo pintor de origem lituana Lasar Segall. Suas telas chocam, mas as reações são amenizadas pelo fato de o artista ser estrangeiro. Em 1917, Anita Malfatti realiza a que é considerada de fato a primeira mostra de arte moderna brasileira. Apresenta telas influenciadas pelo cubismo, expressionismo, fauvismo e futurismo que causam escândalo, entre elas A Mulher de Cabelos Verdes.
Apesar de não ter exposto na Semana de 22, Tarsila do Amaral torna-se fundamental para o movimento. Sua pintura é baseada em cores puras e formas definidas. Frutas e plantas tropicais são estilizadas geometricamente, numa certa relação com o cubismo. Um exemplo é Mamoeiro. A partir dos anos 30, Tarsila interessa-se também pelo proletariado e pelas questões sociais, que pinta com cores mais escuras e tristes, como em Os Operários.
Di Cavalcanti retrata a população brasileira, sobretudo as classes sociais menos favorecidas. Mescla influências realistas, cubistas e futuristas, como em Cinco Moças de Guaratinguetá. Outro artista modernista dedicado a representar o homem do povo é Candido Portinari, que recebe influência do expressionismo. Entre os muitos exemplos estão as telas Café e Os Retirantes.
Distantes da preocupação com a realidade brasileira, mas muito identificados com a arte moderna e inspirados pelo dadá, estão os pintores Ismael Nery e Flávio de Carvalho (1899-1973). Na pintura merecem destaque ainda Regina Graz (1897-1973), John Graz (1891-1980), Cícero Dias (1908-) e Vicente do Rego Monteiro (1899-1970).
O principal escultor modernista é Vitor Brecheret. Suas obras são geometrizadas, têm formas sintéticas e poucos detalhes. Seu trabalho mais conhecido é o Monumento às Bandeiras, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Outros dois escultores importantes são Celso Antônio de Menezes (1896-) e Bruno Giorgi (1905-1993).
Na gravura, o modernismo brasileiro possui dois expoentes. Um deles é Osvaldo Goeldi (1895-1961). Identificado com o expressionismo, cria obras em que retrata a alienação e a solidão do homem moderno. Lívio Abramo (1903-1992) desenvolve também um trabalho com carga expressionista, porém engajado socialmente.
A partir do final dos anos 20 e início da década de 30 começam a se aproximar do modernismo artistas mais preocupados com o aspecto plástico da pintura. Utilizam cores menos gritantes e composição mais equilibrada. Entre eles destacam-se Alberto Guignard (1896-1962), Alfredo Volpi, depois ligado à abstração, e Francisco Rebolo (1903-1980).
O modernismo enfraquece a partir dos anos 40, quando a abstração chega com mais força ao país. Seu final acontece nos anos 50 com a criação das bienais, que promovem a internacionalização da arte do país.

Literatura:
Uma das principais inovações modernistas é a abordagem de temas do cotidiano, com ênfase na realidade brasileira e nos problemas sociais. O tom é combativo. O texto liberta-se da linguagem culta e passa a ser mais coloquial, com admissão de gírias. Nem sempre as orações seguem uma seqüência lógica e o humor costuma estar presente. Objetividade e concisão são características marcantes. Na poesia, os versos tornam-se livres, e deixa de ser obrigatório o uso de rimas ricas e métricas perfeitas.
Os autores mais importantes são Oswald de Andrade e Mário de Andrade, os principais teóricos do movimento. Destacam-se ainda Menotti del Picchia e Graça Aranha (1868-1931). Em sua obra, Oswald de Andrade várias vezes mescla poesia e prosa, como em Serafim Ponte Grande. Na poesia, Pau-Brasil é um de seus principais livros. A primeira obra modernista de Mário de Andrade é o livro de poemas Paulicéia Desvairada. Sua obra-prima é o romance Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter, que usa fragmentos de mitos de diferentes culturas para compor uma imagem de unidade nacional. Embora muito ligada ao simbolismo, a poesia de Manuel Bandeira também exibe traços modernistas. Um exemplo é o livro Libertinagem.
O modernismo vive uma segunda fase a partir de 1930, quando é lançado Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade. Os temas sociais ganham destaque e o regionalismo amplia sua temática. Paisagens e personagens típicos são usados para abordar assuntos de interesse universal. Entre os que exploram o romance social voltado para o Nordeste, estão Rachel de Queiroz, de O Quinze; Graciliano Ramos, de Vidas Secas; Jorge Amado, de Capitães da Areia; José Américo de Almeida, de A Bagaceira; e José Lins do Rego (1901-1957), de Menino de Engenho. Surgem ainda nessa época os romances de introspecção psicológica urbanos, como Caminhos Cruzados, de Érico Veríssimo. Numa linha mais intimista estão poetas como Cecília Meireles, autora de Vaga Música; Vinicius de Moraes, de Poemas, Sonetos e Baladas; Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), de Desaparição da Amada; e Henriqueta Lisboa (1904-1985), de A Face Lívida.
A terceira fase do modernismo tem início em 1945. Os poetas retomam alguns aspectos do parnasianismo, como Lêdo Ivo, de Acontecimento do Soneto. João Cabral de Melo Neto, de Morte e Vida Severina, destaca-se pela inventividade verbal e pelo engajamento político. Na prosa, os principais nomes são Guimarães Rosa, autor de Grande Sertão: Veredas, e Clarice Lispector, de Perto do Coração Selvagem.