terça-feira, 16 de julho de 2013

POESIA DE XIKO MENDES, CADEIRA 6 DA APL.

Último Capítulo da LeXIKOpédia Baiangoneira

Xiko Mendes

I – Formoso aos 235 Anos (1778 – 2013)

Foi numa longa caminhada centenária
Que moldamos o Povo de Formoso,
Mas no caminho uma onda refratária
Bloqueou sonhos em busca do novo.

Foi revendo cada fato de nossa história
E analisando os seus acontecimentos,
Que percebi quanto a nossa trajetória
É marcada de retrocessos e lamentos.

Quanto tempo e oportunidades perdidas!
Quanta esperança que morreu ofegante!
Quantos de nós dedicaram as suas vidas
Por um Formoso que sumiu no horizonte!

Deus! Oh Deus! Não esqueça de Formoso!
Cuide dessa gente que é vítima de políticos!
Não deixe que o Futuro se destrua de novo,
Comprometendo o destino desse município.

II – Carta para lerem em minha Despedida como Historiador de Formoso de Minas

Nasci numa terra tão bela, única e inesquecível;
E desde criança passei a amá-la intensamente.
Por toda a vida lutei e fiz um esforço impossível
Para torná-la feliz e o seu povo mais consciente.

Aos doze anos decidi estudar a sua história
Para compreender melhor o nosso passado;
Escrevi livros para preservar a sua memória
Para que no futuro tudo fosse relembrado.

Percorri em minhas pesquisas toda a epopeia
De um povo humilde, mas de rostos felizes;
Narrei a biografia dos heróis dessa odisseia
E vi quanto certos fatos deixaram cicatrizes.

Por mais de trinta anos pesquisando tudo,
Encontrei histórias belas e outras trágicas;
Diante delas me fingi sempre como mudo
Escamoteando-as num passe de mágica.

Assim fui construindo a minha enciclopédia
De fatos relevantes sobre Formoso de Minas,
Mas hoje me decepciono e retomo as rédeas
Já que na vida há algo mais que me fascina.

E chegou a hora da minha lamentável partida!
Dou adeus à luta e a tantas pesquisas infindáveis;
E sei que cumpri a missão que atribuí na vida
Ao me propor em estudar fatos tão memoráveis.

Deixo às gerações que ainda viverão em Formoso
O meu legado cultural como um humilde patriota;
E com a certeza de que tudo fiz pelo nosso povo,
Despeço-me de vocês porque vou mudar de rota.

Decepcionado com a elite política do município
E chateado com a ingratidão de “companheiros”,
Despeço-me de Formoso com um sorriso triste
De quem chora sugando lágrimas no desespero.

Choro hoje e chorarei sempre nessa despedida,
Pois amo e amarei Formoso enquanto viver.
E nunca esquecerei que em toda a minha vida,
Formoso é minha utopia e essência do meu ser.

III – Região do Marco Trijunção ou BA.GO.Minas
(Fronteira entre Bahia, Goiás e Minas)

Esse foi meu último sonho em Formoso:
O de promover a integração dessa cidade
Com um projeto que fizesse de seu povo
O protagonista de sua própria felicidade.

Sonhei em unir Minas com Goiás e Bahia
Para juntos formarmos nova reintegração,
Pois somente se unindo é que se poderia
Trazer progresso rápido a essa população.

Tentei convencer os prefeitos e vereadores
Para que eles apoiassem de forma coletiva,
Unindo fronteiras dos três estados divisores
Para o desenvolvimento de novas iniciativas.

Mas a maioria das lideranças dessa Região
Mostrou-se apática ou com inveja do projeto
Que visava integrar cidades dessa Trijunção,
Mas que precisava desse apoio para dar certo.

Sem apoio e sem logística para a estruturação,
Desisti de sonhar em desenvolver a fronteira
Entre Bahia, Goiás e Minas, para que a nação
Pudesse promover a Consciência Baiangoneira.

IV – Vou-me embora de Formoso

Vou-me embora de Formoso!
E voltarei apenas para passear,
Pois lutei tanto por esse povo
Que agora deverei descansar.

Vou-me embora desse Formoso
Que tanto amo e amarei sempre.
E cansei de lutar por esse povo
Que ignora o esforço da gente.

Vou-me embora já desse Formoso
Cujos políticos têm inveja de mim!
E desses políticos eu tenho é nojo
Por serem de uma elite muito ruim.

Vou-me embora já desse Formoso!
E bem longe buscarei a felicidade.
Eu não me envolverei com esse povo
Nem batalharei mais por essa cidade.

Vou-me embora já desse Formoso!
Não peçam para que mude de ideia.
Não tive reconhecimento desse povo;

Por isso eu dou adeus a essa Patuleia.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

DISCURSO FEITO DURANTE O LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL EM 1922.

Homenagem antecipada da Academia Planaltinense de Letras ao Centenário da Pedra Fundamental, em 7 de setembro de 2022, durante o Bicentenário da Independência do Brasil

Discurso de Lançamento da Pedra Fundamental em 1922

Este discurso foi proferido em Planaltina (hoje no DF) pelo então Deputado Estadual Evangelino Meireles, goiano de Luziânia, no dia 7 de setembro de 1922, no momento em que aconteceu a Solenidade de Inauguração do obelisco que simbolizava o Compromisso do Governo Brasileiro com a construção de Brasília, em Goiás.

Comissionado pelos excelentíssimos senhores Presidentes da Câmara e do Senado Estaduais, e pelo Excelentíssimo Senhor Dr. Americano do Brasil, Deputado Federal, para representar, coletivamente, aquelas Casas do Congresso e, individualmente, este brilhante parlamentar goiano na grandiosa Solenidade do Assentamento da Pedra Fundamental da Futura Capital da República no Planalto Central do Brasil, marcada para hoje, pelo Decreto nº: 4.494 de dezoito de janeiro do corrente ano, venho, embora descoloridamente mas possuído de sincera boa vontade, desimcumbir-me da dignificadora tarefa que me foi confiada.
Filho desta Canaã radiosa onde cantam primaveras sem fim, nascido sob a proteção imensa deste céu paradisíaco, é me sumamente grato significar aqui o transbordar festivo do meu contentamento, e a jubilosa alegria de todos os goianos cuja vontade está politicamente cristalizada nos órgãos de sua Soberania, um dos quais , o Poder Legislativo, a que tenho a honra de pertencer, cabe-me representar.
O auspicioso fato de hoje é o encaminhamento natural de uma formosa ideia essencialmente brasileira; ele obedece como que a um determinismo político-social que há mais de um século nos vem conduzindo para a finalidade máxima da nossa ambição patriótica: a mudança da Sede do Governo para o ponto central do País a fim de que o Progresso se irradie do centro para a periferia e haja o aproveitamento desse hinterland arquipontentoso e pagão, reserva fabulosa da grandeza que nos espera em futuro cujo alvorecer começa a dar matizes de ouro e pérola ao horizonte da nossa Pátria extremecida; e também para que os Poderes Públicos, fora do barulhar das turbas, livres do anarquismo, das comichões interesseiras e do mercantilismo cosmopolita das grandes cidades, possam, com suavidade e bem aplicada sabedoria, cuidar das altas cogitações nacionais, rumando para  a perfeição, em busca do beneficiamento geral da Coletividade.
Essa é uma ideia antiga. A sua história é conhecida e, por isso, não precisa ser recontada. Sabemos que ela germinou no cérebro dos Inconfidentes Mineiros em 1789; que fervilhou na cabeça evangelizadora do jornalista Hipólito José da Costa e na cabeça de José Bonifácio (o Velho), Linhares, Joaquim Caetano, Porto Seguro e outros. Amparada na República pela vivência da Comissão dos Vinte e Um Notáveis que tinha à frente nesse particular, Lauro Müller e João Pinheiro, passou, com aplausos gerais, a ser lei, ocupando o artigo terceiro da nossa Carta Política. Floriano, o imortal Consolidador da República, precavido e  voluntarioso, deu começo ao cumprimento do dispositivo constitucional, mandando demarcar no Centro Geográfico do País, a área de 14.400 Km quadrados, destinada ao futuro Distrito Federal.
Houve, depois, uma síncope de quase trinta anos nas providências conducentes a esse elevado cometimento.
Ultimamente temos visto pontificar na Imprensa, batendo-se pela nobre causa, entre outros, os escritores Gomes Carmo, Henrique Silva, Azevedo Pimentel...; é a Sete de Setembro de 1921, os Deputados Americano do Brasil e Rodrigues Machado, este aqui também representado pelo meu digno colega Gelmires Reis, apresentaram à consideração da Câmara Federal, o Projeto nº: 680, mandando lançar a Pedra Basilar da Capital da União no Planalto, no meio do dia Sete de Setembro de 1922. Esse projeto, depois de conquistar os pareceres favoráveis das comissões de Justiça e de Finanças, foi aprovado pelo Congresso e converteu-se no Decreto nº: 4.494, citado.
É esta, Senhores, a determinação legislativa que hoje estamos cumprindo. Raiou, feliz, a aurora do grande dia. Já assistimos à festa gloriosa de um amanhecer no Planalto; agora sob a pompa tropical de um sol criador e benfazejo, ao ciclópico da Natureza agreste destas regiões privilegiadas de nossa terra, presenciamos as cerimônias desta hora alvissareira.
Sursum corda! Erguei-vos, corações goianos! Elevai-vos corações brasileiros! Entoemos hinos de glória à nossa Pátria querida e cânticos de louvor à ação patriótica do grande Epitácio Pessoa, cuja permanência na suprema Magistratura do País vai marcando uma época que ficará na História como o maior padrão de Civismo, de liberdade e de capacidade administrativa destes últimos tempos!
Assim, pois, Excelentíssimo Senhor Deputado Balduíno de Almeida, Vossa Excelência que possui já um altar no coração de cada goiano, pelo muito que tem feito em prol da penetração da via férrea nas terras de Bartolomeu Bueno, queira, com os seus dignos companheiros, e como Delegado do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, receber as congratulações e as seguranças do mais profundo agradecimento do Povo de Goiás, que eu aqui trago, como Procurador do Congresso Estadual, e como Representante do Excelentíssimo Senhor Deputado Americano do Brasil, esse espírito iluminado e sadio, que tanto lustre tem dado à Bancada Goiana na Câmara Federal.
Essas congratulações eu as entendo ao ilustre Comissário do Excelentíssimo Coronel Eugênio Jardim, Benemérito Presidente do Estado {de Goiás}; aos Representantes do Exército e da Câmara Federal e todos os demais cavalheiros e excelentíssimas senhoras que neste momento abrilhantam e solenizam o importantíssimo acontecimento que nos trouxe a este famoso pedaço da terra brasileira.
Senhores! Concentremo-nos por um instante na contemplação deste nosso Brasil fidalgo e promissor! Passeemos o pensamento pelo seu passado de múltiplas e acidentais vitórias, pelo seu presente de assustadores progressos, e pelo futuro de formidáveis surtos de grandeza que lhe está reservada! Que vemos? Que apreendemos? Qual o resultado do nosso exame?
Vemos, sob as bênçãos da Constelação do Cruzeiro, a eclosão imensa de um povo que, aparelhado com as maiores possibilidades que se podem conceber, está destinado a assombrar o Mundo com o seu poderoso evolver em todos os galhos da atividade humana, em dias que não vêm longe!
Vemos uma Pátria que, acionada pela nobreza e sabedoria de seus filhos, marcha, com a vertiginosidade estonteadora dos astros vagabundos do Espaço, para um futuro de incalculáveis alcances, para uma era de bem-estar e riquezas!
Sete de Setembro! Eis-nos festejando pela centésima vez a data da nossa existência como Nação livre e constituída! Pela mente nos estão perpassando as figuras veneradas de Tiradentes, José Bonifácio, Pedro I, Gonçalves Ledo e tantos outros que se notabilizaram na construção da nossa Nacionalidade. E é hoje também que estamos dando começo à edificação da Futura Capital do País no coração de Goiás que, por sua vez, constitui as entranhas do Brasil! Dois fatos transcendentes: um cheio de sagradas evocações, outro verdejado das mais risonhas esperanças. No primeiro século decorrido, vimos civilizarem-se e engrandecerem-se as populações litorâneas; no segundo, que ora se inicia, veremos aproveitado todo o Interior gigantesco da Pátria, sendo a Cerimônia deste momento, o primeiro passo para a completa Integração da Unidade Nacional.
Eia! Brasileiros! Saudemos com entusiasmo a GRANDE DATA e deixemos cair nas planuras intérminas destas campinas viridentes o BRADO altissonante e vigoroso da nossa alma satisfeita e agradecida. Salve, oh Pátria idolatrada! Salve, oh Liberdade!!!


NOTA do historiador Xiko Mendes, membro da Academia de Letras e Artes do Planalto (sediada em Luziânia-GO) e da Academia Planaltinense de Letras (DF):
O texto que você acabou de ler faz parte do livro “Pela Terra Goiana”, autoria de Americano do Brasil, e que fora transcrito para as páginas 15 a 18 do livro “Apologia de Brasília”, organizado por José Dilermando Meireles, com a colaboração de Joaquim Gilberto, entre outros, e com edição patrocinada pela Prefeitura Municipal de Luziânia-GO.
O livro Apologia de Brasília foi publicado no início dos anos 1960 no contexto histórico da construção e inauguração de Brasília. E nunca mais foi reeditado. Agradecemos, aqui, ao já falecido historiador Paulo Bertran, que nos presenteou com um exemplar, todo amarelado, dessa raríssima obra prima do acervo nacional. O Deputado Estadual Evangelino Meireles, autor do Discurso acima citado, era goiano e nasceu em Luziânia 10 de fevereiro de 1882, segundo nos informa Antônio Pimentel, em seu livro “Fragmentos Antológicos dos Autodidatas de Santa Luzia” (Luziânia-GO, Edição do autor, 1992, p. 29-30).
Evangelino Meireles morreu precocemente aos 40 anos de idade, em 1º de dezembro de 1922, três meses após proferir o discurso que ora republicamos. Entre suas grandes realizações, Evangelino Meireles foi autor do projeto da estrada de rodagem ligando Vianópolis a Luziânia, Planaltina e Formosa durante a gestão do Governador João Alves de Castro. Foi também poeta e jornalista. Fundou em 6 de agosto de 1910 o jornal “O Planalto” que circulou até 10/11 de 1915, totalizando 186 edições. E a partir de 1919, com auxílio do historiador Gelmires Reis, iniciou a publicação do famoso “Almanaque de Santa Luzia”, atual Luziânia, sua terra natal.


Planaltina vista pelo Escritor Guimarães Rosa

Xiko Mendes (da APL)

Como se sabe, o escritor mineiro Guimarães Rosa (1908-1967), assim como Euclides da Cunha, Afonso Arinos e Bernardo Elis, é um dos magos intérpretes do Brasil profundo ou sertão indômito. Autor de obras conhecidas mundialmente como “Sagarana” e “Noites do Sertão”, Rosa é, sobretudo, conhecido pelo seu romance “Grande Sertão: Veredas”, publicado em 1956, ano em que o Presidente JK iniciou a construção de Brasília, modernizando o sertão ou “sertanejando” a modernidade para o interior. Rosa assim se refere a Planaltina antes de Brasília:

Gente boa, a do Ão, lugar de lugar. Senhor Zosímo, o fazendeiro goiano, desarmou desdém, reconhecendo que se podia gostar demais dali. Esse tinha feito a Soropita, a sério, uma proposta: berganhar aquilo por sua grande fazenda, dele, cinco tantos maior, em Goiás, fundo de rumo de Planaltina. (...). O Campo Frio, se chamava. (...). Senhor Zosímo era homem positivo, tinha sido de tudo, até amansador de cavalos, peão. (...). era mineiro também, arranjara aquela fazenda em Goiás por simpleza do destino” (In: Rosa, Guimarães. Noites do Sertão, 9ª ed., Rj, Editora Nova Fronteira, 2001, p. 41-42).


Esse texto é um trecho do conto “Lão-Dalalão ou Dão-Lalalão”. E precisaríamos fazer um rigoroso estudo roseano de arqueologia fundiária para localizarmos a fazenda Campo Frio, nos domínios do atual Distrito Federal, mas certo é que ficamos orgulhosos dessa citação em obra que exalta o talento literário de Guimarães Rosa, escritor que é Patrono da Cadeira nº: 32 de nossa Academia Planaltinense de Letras (APL).

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O INTERNAUTA QUE COPIAR ESSE TEXTO, FAVOR CITAR OS AUTORES E A FONTE (blog da APL).

quinta-feira, 4 de julho de 2013

POESIA DE XIKO MENDES, CADEIRA 6 DA APL.


Eles, os Torturadores da Consciência Local, Roubaram Formoso Dentro de Mim

 

(Esse é um Recado aos que baterão palmas na Minha Despedida).

Xiko Mendes

 

I – Viagem Apocalíptica a Formoso no ano 2028

 

Estamos em 2028!

Quanto tempo passou desde que nasci nesse lugar!

Há 65 anos somos município!

Estou velho, sexagenário e desiludido.

Aqueles que me seduziram com esperança,

Todos me traíram e destruíram meus sonhos.

E nada mudou. Nada mesmo!

Tudo continua como antes.

Minha cidade percorrendo caminhos errantes

Sem que o Progresso triunfe sobre a Hipocrisia ambulante.

Estamos em 2028: são 250 anos de história

Desde que D. Luiz da Cunha Menezes,

Um governador de Goiás hospedou-se

Numa fazenda que mais tarde seria

Chamada de Formoso.

Foi ele, D. Luiz – o “Fanfarrão Minésio”,

O primeiro que testemunhou nossa origem em 1778;

E depois foi ridicularizado nas “Cartas Chilenas”

De um poeta inconfidente que fecundava revolução.

Mas o que mudou em Formoso, em dois séculos e meio?

O rio Piratinga morreu intoxicado.

Só sobrou do rio São Domingos as pedras lindas.

Restou tão somente o rio Carinhanha protegido

Dentro do Parque Nacional Grande Sertão Veredas.

O jatobá centenário da Praça Felipe Tavares

Também se cansou de tanta hipocrisia e secou.

Formoso continua isolado, geograficamente.

Formoso está no meio do Mapa do Brasil,

Mas vive na “ilha” Bagominas,

Que não é Bahia nem Goiás nem Minas.

Está próximo distante dos centros mais civilizados,

Sem contato com a maioria dos municípios vizinhos.

Cadê os governantes que se elegeram

Nas eleições municipais de 2016, 2020 e 2024?

Onde estão eles?

Quem são esses hipócritas,

Que me seduziram dizendo que realizaria meus sonhos?

E depois de eleitos, sumiram?

Fui usado tantas e tantas vezes por candidatos assim,

Mas hoje, em 2028, velho e desiludido,

Eu posto-me na encruzilhada, ponho a mão no queixo

E me pergunto, com tristeza:

O que eles fizeram de nós, o Povo Formosense?

Mataram o futuro de nossas crianças!

Compraram votos dos desempregados!

Roubaram o dinheiro da Saúde!

Desviaram a verba do asfalto!

E ninguém reclama de nada.

Em Formoso há uma placa no Imaginário:

“Reclamar é crime!”.

Para o Povo de Formoso,

Tudo é normal, tudo é natural.

Essa é a sina maldita dessa cidade de nome bonito,

Mas com um povo resignado que adota o silêncio

Como resposta em sua omissão secular.

Formoso sempre foi assim – dizem eles.

Por que mudar agora?

E assim, de eleição em eleição,

Formoso vai morrendo aos poucos,

Sepultando as esperanças na curva incompleta,

Destruindo sonhos de quem ainda tem coragem de sonhar.

E você, o que está fazendo?

Será mais um que vai me chamar de crítico impiedoso?

É, meu amigo! É graças a você

Que Formoso chegou onde estamos, em 2028,

E nada, nada absolutamente,

Conseguiu em 250 anos modificar

Essa cidade de gente emudecida e cúmplice

Que aceita tudo, sem reclamar de nada.

E se você reclamar é logo chamado de doido, “cricri”...

Em Formoso é proibido pensar;

É proibido ter opinião própria;

Quem pensa e sonha, logo é visto como adversário do governo.

Formoso é prisioneiro da Teia da História.

E dentro dela vai tecendo a tragicomédia

Que somos nós: um povo que prefere sofrer

A lutar, ferozmente, contra o seu silêncio conivente,

Que permite 25 décadas de isolamento,

Que provoca o suicídio do sonho e da esperança.

Em Formoso a Roda Viva da História

Anda para trás e marcha, desgovernada, para o abismo.

Mas onde está o Futuro?

E para onde foi o Passado?

Formoso é silêncio!

Formoso é impotência grávida de (des)encantamento.

Formoso é esfinge: um enigma que se distancia do Passado

E foge do Futuro.

Para onde vamos?

 

II – Carta para Meus Netos Lerem no Centenário da Emancipação de Formoso em 2063

 

A vocês, filhos que herdam de Minas

O Espírito de Mineiridade moldado pela crença na liberdade,

Pelo orgulho de seu Passado, pela ética na República

E pelo respeito à vida e ao povo numa Pátria Comunitária,

Deixo meus sonhos como um legado e testemunho póstumos

Daquilo que não consegui ver e vivenciar em Formoso,

Terra que fecunda esperança, mas que há dois séculos

Espera Deus semear nela o desenvolvimento para todos.

Sonhei com um Formoso de Minas

Onde exercer o direito à Liberdade de Expressão

Não fosse mais motivo de censura prévia entre alguns conterrâneos.

Sonhei com um Formoso onde o câncer do analfabetismo

Não contaminasse mais nenhum Formosense;

E que a ignorância política não mais reinasse entre essa gente.

Sonhei com um Formoso onde não seria mais preciso

Levar pacientes para Brasília porque criamos uma boa rede hospitalar.

Sonhei com um Formoso onde os rios Piratinga,

Carinhanha, São Domingos e seus afluentes não morressem

Intoxicados pelo veneno que contamina(va) o subsolo desse município.

Sonhei que muitos de meus conterrâneos, em vez de fuxicarem

Sobre a vida do vizinho, se desse ao trabalho de transformar a si mesmo

Para melhor contribuir patrioticamente com o Povo Formosense.

Sonhei com um Formoso onde combater a corrupção e

Exigir honestidade dos governantes da nossa cidade

Não mais fosse visto como “pecado” nem quem combata

A ladroagem de dinheiro público nunca mais fosse apelidado de “cricri”.

Sonhei que várias empresas um dia se instalariam em Formoso

Para que todos os eleitores pudessem ter emprego,

Se tornassem livres e independentes para expressar sua OPINIÃO

E que nunca mais alguém ousaria comprar voto em troca

De pagamento de receita de remédio, promessa de emprego público,

Pagamento de contas de água e luz, carona na beira da estrada, etc.

Sonhei que Formoso teria asfalto ligando seu território com todos

Os municípios da Região do Marco Trijunção,

Nessa fronteira esquecida entre Bahia, Goiás e Minas Gerais.

Sonhei que vocês, meus netos e demais descendentes, nunca mais

Viveriam sob o reino do silêncio cúmplice e da conveniência oportunista

Porque alguns poderosos se julgam donos de Formoso e sua gente.

Sonhei...Sonhei...Sonhei...

Mas morri sem que o povo de minha terra reconhecesse em mim

Alguém que em toda a sua existência

Viveu todos os dias, todas as noites e todos os anos,

Irmanado com a Minoria que luta e acredita num Formoso

Onde Virtude e Nobreza de Caráter,

Onde Simplicidade e Humildade Franciscanas,

 Onde “Compromisso e Respeito pelo Povo”...,

Mais do que palavras que agradam ao meu senso (est)ético,

Seja de fato o slogan de todos nós, o Povo Formosense,

Gente que sonha ou se frustra na gangorra das urnas;

Gente que ama Formoso, indistintamente;

Gente que dá a vida em comunhão ecumênica

Por um Formoso democrático, justo, igualitário, transparente,

Decente e, sobretudo, onde Felicidade, Justiça e Utopia

Guiem, definitivamente, esse Povo na marcha silenciosa

Rumo ao Futuro; e que o Passado, palimpsesto do que fomos,

Seja sempre uma Advertência incômoda aos Patriotas que virão.

Mas onde está o Futuro?

E para onde foi o Passado?

Formoso é silêncio e penumbra!

Formoso é um ponto ofuscado

Na curva em direção ao Infinito.

Formoso perdeu-se na onda epicósmica do Caos;

E fixou-se no Oco do Universo.

Formoso é metaformose na encruzilhada;

É o Tudo; é o Nada.

É o devir nascituro, agonizado, que nunca veio a ser;

É o Não-Ser inerte e inerme, engasgado na garganta de Deus.

Formoso foi o último sonho de um patriota

Antes do meu Apocalipse Existencial.

Eles, os Torturadores da Consciência Local,

Roubaram Formoso dentro de mim.

Chorei quando eles mataram todos os sonhos

Que tive, desde criança, por um Formoso diferente e melhor.

Dou-me por vencido.

Desisti de sonhar por Formoso de Minas.

Deixe que o seu Povo, esse Ente Inominado,

Decida, sozinho, sobre o seu próprio Destino

E que sua História seja também o

Tribunal que julgará nos próximos séculos

Os erros e virtudes de uma cidade

Que emudece, solitariamente,

Diante do próprio sofrimento coletivo.

Adeus, Formoso!

Adeus, Torturadores da Consciência Local!

Que nesse Primeiro de Março de 2063

Quando Formoso comemora 100 anos de Emancipação,

Alguém se lembre de que meus livros sobre sua História,

Foi a contribuição que dei a um povo sofrido,

Mas que no Passado ergueu, altaneiro, a Bandeira

Do Sonho no projeto heroico de desbravamento do Sertão.

Eles, os nossos Antepassados, plantaram sonhos.

Eu, um visionário frustrado, naufraguei no Mar da Desesperança.

Deus! Deus! Oh Deus! “Onde estás que não responde”?

Deus: Por que Formoso está tão perto de Brasília

E tão longe do Futuro?

Por que Formoso está tão perto de Deus e

Tão longe do Céu?

É porque Formoso sofre da Síndrome de Tântalo.

Deus: Cuide de Formoso!!!

 

POESIA DE XIKO MENDES, CADEIRA 6 DA APL.


À Musa Debutante

 

(Homenagem aos 15 anos de criação da Academia Planaltinense de Letras, em 5/12/2013).

 

Xiko Mendes

Parteira da Consciência Revolucionária!

Você é a voz das nossas transformações.

Você é quem me oferece conduta gregária

Para que eu atravesse o furor dos vulcões.

 

Mensageira dos meus sonhos impossíveis,

Você é quem verbaliza meu instinto rebelde;

É quem me acompanha em momentos difíceis;

É quem me orienta, consola, cede e concede.

 

Porta-voz de uma grande revolução silenciosa

Que impulsiona coração e mente para a luta,

É você quem me inspira em verso e em prosa

Para que o Homem modifique a sua conduta.

 

Tu és o Monumento Vivo da nossa Literatura!

Tu és a grandeza da Pátria e de nossa História!

Tu és a Musa que mantém viva nossa Cultura!

Tu és guardiã dos segredos de nossa Memória!

 

Navegantes em Águas Emendadas

 

(Homenagem aos 15 anos de criação da Academia Planaltinense de Letras, em 5/12/2013).

 

Xiko Mendes

Somos navegantes em Águas Emendadas

E juntos sonhamos um mundo em mudança.

Convertemos em textos sonhos e lágrimas

Para que a vida flua em mar de Esperança.

 

E é como jangadeiros em águas emendadas,

Que fazemos livros que nos servem de paládio;

Nesse barco de musas semeamos em palavras

O que nós sentimos nessa viagem ao Parnaso.

 

Vamos remando o barco em águas emendadas,

Sendo guiados por estrelas de outras galáxias;

E de lá trazemos mensagens de novas arcádias,

Cantando em verso e prosa a nossa Via Láctea.

 

Na maré revolta de nossas águas emendadas,

Fecundamos musas de um mundo nascituro

Onde não haverá nem dores e nem mágoas,

Mas somente prazeres antecipando o futuro.

 

E como menestréis nessas águas emendadas,

Navegando no imaginário do Planalto Central,

Seguimos viagem como novos mestres d’armas

Porque Literatura é a nossa Pedra Fundamental.

 

Bilhete que Filomena achou numa cama de motel

 

Xiko Mendes

Quando você veio à minha casa, Filomena,

Pediu para eu te ajudar a realizar seu sonho;

Disse que a nossa aliança seria leal e plena

De respeito para que eu não ficasse tristonho.

 

Você fingiu ser amicíssima de minha família;

Fingiu que gostava e admirava quem eu sou.

Você tirou proveito de mim e a sua perfídia

Fez-me cair na grande cilada que você armou.

 

Você, Filomena, é dissimulada e traiçoeira;

Você me prometeu tanta coisa, sua mentirosa.

E agora não cumpre nada e foge bem faceira

Porque você é mulher falsa e muito perigosa.

 

Você, Filomena, enganou tanta gente inocente.

E tantos foram seduzidos pelas suas mentiras!

Eu me arrependo de ter sido aliado conivente,

Pois em você a vaidade corrompe e transpira.

 

Você, Filomena, é locomotiva desgovernada.

Você quer Poder só para sua autoafirmação.

Você me enganou com seu conto de fábula

Porque você, sua Medusa, é bruxa de salão.

 

Você, Filomena, é mulher ambiciosa, ingrata;

É uma pessoa que não premia quem te apoia;

É um ser egoísta e muito narcisista que mata

O sonho de quem diverge de suas tramoias.

 

Você, Filomena, é alguém que nunca deseja

A felicidade dos amigos, pois é orgulhosa

Ao ponto de ser engolida pela própria inveja

Ao se julgar dona do mundo e tão poderosa.

 

A você, Filomena, que se julga tão absoluta,

Espero que esse bilhete seja uma advertência,

Pois a sua traição é uma pancada tão bruta

Que a gente nunca esquece sua maledicência.

 

Você, Filomena, matou minha esperança.

Você destruiu meus sonhos nessa cidade.

Nunca mais com você eu farei aliança

Porque hoje sou vítima de sua maldade.

 

Você, Filomena, já se declarou a vitoriosa,

Mas sua vitória é fruto de trabalho coletivo.

Essa mulher é uma megera tão venenosa

Que todos aqui nessa cidade correm perigo.

 

Desistência e Desabafo

 

Xiko Mendes

Eu desisti de lutar por esse povo covarde

Que se vende para vereadores e prefeitos;

Um povo cujo voto se compra com alarde

Como um troféu para os hipócritas eleitos.

 

Eu não quero mais lutar por essa cidade

Porque me cansei de sonhar sem resultado.

Nela só tem político para botar dificuldade

Para que meus projetos sejam fracassados.

 

Eu já me revoltei com esse tipo de gente

Que é cúmplice de governantes corruptos.

Vou ficar bem longe dessa elite dirigente

Que rouba o futuro e não tem escrúpulos.

 

Eu apostei por três vezes numa mudança.

E votei acreditando em transformações,

Mas o que houve foi a morte da esperança

Porque por três vezes fui vítima de traições.

 

Eu nunca mais acredito nessa elite míope,

Que seduz o povo, mente e mata o sonho.

E eu não voto mais nessa elite medíocre

Que engana esse povo de modo tacanho.

 

Não tenho mais pudor, censura ou pena

De dizer quanto esse povo é tão covarde;

Gosta de sofrer e se finge de gente ingênua,

Mas perpetua essa “política de compadres”.

 

Não! Não insistam porque minha desistência

Agora é definitiva, pois detesto cambalacho;

E nessa cidade guiada pela incompetência,

Só me resta desistir e encerrar meu desabafo.