sábado, 21 de abril de 2012

BRASÍLIA, CAPITAL DA ESPERANÇA E DA POESIA
(Joésio Menezes)

Na Brasília de Tetê Catalão,
José Geraldo e Nicolas Behr,
A poesia - clássica ou não –
Por meio dos versos diz o que quer.
Ela bem canta os encantos mil
Da charmosa Capital do Brasil
Sem se esquecer de exaltar a mulher.

Ela fala das ruas sem esquina,
Dos arcos que formam a Catedral,
Do Céu azul que tanto nos fascina,
Da cultura em nossa Capital...
E sem desafinar ela canta árias
Às extensas Asas imaginárias
Que cruzam o Eixo Monumental.

Também enaltece a Natureza;
Saudades sente da flor do cerrado.
Em quase tudo ela vê beleza,
Inclusive no concreto armado
Que viadutos e pontes sustenta
Desde os idos dos anos sessenta,
Quando o “Sonho” foi concretizado...

Mesmo estando Brasília submersa
Num oceano de desconfiança,
A poesia jamais desconversa,
Canta versos de autoconfiança...
Ela canta muitas coisas malditas,
Corrupção, falcatruas infinitas,
Mas o faz esbanjando esperança.

Parabéns, Brasilia!!!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

PLANALTINA-DF, SANTUÁRIO GOIANO DE TRADIÇÕES POPULARES NO PLANALTO

por Frederico J. L. Reis

Costuma-se dizer que o habitante do Distrito Federal é todo ele constituído de segmentos populacionais mais ou menos indiferentes no que diz respeito às suas mais puras raízes. Entretanto, isso não é verdade e prescinde de uma análise mais criteriosa e feita por alguém que se preocupe com o assunto de maneira mais séria, fato que requer acurados conhecimentos, inclusive académicos, especialmente das pessoas versadas em Sociologia ou Folclore, no Brasil. Planaltina está aí para desmitificar esse fato, íntegra no que concerne ao assunto.
O que chama a atenção do migrante, nesta terra-comunidade, em primeiro lugar, é a hospitalidade, um dos traços naturais mais legítimos de uma população colonizadora brasileira. E uma coisa parece puxar a outra como consequência que emana da conservação de uma pureza histórica. O que nesta terra vamos encontrar, vivo ainda, é o antigo, com todos os seus traços importância e valor, a religiosidade popular da Festa do Divino, trazida de Portugal pelo colonizador e que anualmente se executa com maestria em Planaltina e adjacências, motivo pelo qual, embora em dasacordo com a amplitude do título, por ser a mais expressiva manifestação popular, tomo-a como exemplo nesta rápida abordagem.
Mas o que é certo e que está como as outras manifestações estimuladas ou não pelo Poder Público a cada ano, cresce em importância no seio da comunidade que se acha em fase de consolidação e adquire relevo de invulgar magnitude. Durante o mês de maio, o povo, ansioso, já espera o singular espetáculo. Dezenas e dezenas de cavaleiros hábeis, vindos de outras partes e circunvizinhanças para engrossar uma verdadeira legião, e é bom que se diga, inclusive com suas armas simbólicas, seus instrumentos e roupagem bonita.
Entretanto, isso não é tudo. Além do cavaleiro garboso, aprumado na sela, senhor de um equilíbrio que não é dele, surge o cavalo, um animal na festa, saudável, bem amestrado e melhor ainda paramentado. O cavalo que se preza, nesta festança, tem de estar devidamente maquilado num processo que vai das crinas, farreies, até a cauda.
Finalizando, espero que com o correr dos anos de transformações dessa sociedade, não só ocorra uma simples consolidação, pelo fato de ter recebido elementos humanos de outras paragens, as mais diversas de todo o terrítório nacional, sobretudo uma ação que espelhe a fidelidade e a tradição do nosso povo.

(Planaltina em Letras, Ano II, nº 7, p. 3, jan./março-2012)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

IMPRESSÕES DE UM POETA INDIGNADO SOBRE OS DIAS QUE ANTECEDEM A CONVENÇÃO PARA ESCOLHA DE CANDIDATURAS NO INTERIOR.

Véspera de Eleição no Interior

Xiko Mendes

Política em meu país é balcão de negócios.
E na cidade que amo discute-se
Quem deve ser o próximo prefeito.
Partidos e caciques se reúnem na calada da noite;
Tramam acordos nos bastidores,
Conspiram ao pé do fogão
E riem do povo nos fundos de quintal.
Tudo já está decidido: já sabem
Quem serão os candidatos a vereador,
E quais serão indicados para prefeito e vice,
Mas fingem para o povo, indiferente e omisso,
Que somos uma Democracia.
Somos, sim, uma democracia;
Porém, somos a democracia plutocrática:
Aquela em que o status e o poder são determinados
Pelo uso e abuso do poder econômico na eleição;
Somos a “democracia” dos compradores de voto.
Somos a “democracia” dos enganadores do Povo.
Somos a “democracia” dos eleitores coniventes.
Estamos em véspera de escolha dos candidatos.
Cada um mente mais que o outro e promete mais que o outro.
Nesse “vestibular da hipocrisia” quem perde é sempre o eleitor.
É o hospital ou o posto de saúde que não funciona;
É a estrada cheia de buracos no meio do caminho;
É a escola sem merenda, sem reforma e sem projeto pedagógico;
É a obra inacabada, mas com licitação fraudada por
Um bando de ladrões dos cofres públicos;
É o vereador que não vota a favor do Povo, mas
Sempre a favor do governo municipal que lhe dá propina;
Enfim, entre uma eleição e outra tudo se mantém como antes.
E o povo aplaudindo, sonhando, renovando esperanças...
E frustrando-se constantemente.
Mas enquanto esse povo não acordar e
Perceber que ele é sempre o bobo da corte,
Essa cidade que tanto amo
Continuará anestesiada pela demagogia dos pilantras da Política.
O povo precisa conscientizar-se de que ele é o Sujeito da História,
É o ator principal no palco da Política.
Democracia sem emprego,
Democracia sem ética e liberdade de expressão,
Democracia sem participação popular,
Democracia sem justiça social,
Democracia sem educação e saúde dignas
Pode ser qualquer coisa,
Menos que seja o governo do Povo.
Alimento – Um fenômeno cultural
Por Adenir Oliveira

Hábitos e ideologias alimentares tem à frente o acesso ao alimento como força propulsora para a obtenção do produto que satisfaça a necessidade biológica do comer, que é caracterizada como um fenômeno cultural. Os grupos se organizam em um sistema de trabalho e evoluem; criam padrões, normas, usos e costumes para descriminar ou classificar certos tipos de alimentos.
“Alimento é algo representativo, isto é, apreendido cognitiva e ideologicamente. Nem tudo que pode ser comido ou que possa constituir alimento é percebido como tal. A ideologia alimentar é um sistema cognitivo e simbólico que define qualidades e propriedades que tornam o alimento indicado ou contra-indicado em situações especiais, em que seu valor é definido como alimento em função de um modelo pelo qual se conceptualiza a relação entre o alimento e o organismo que o consome, definindo simbolicamente a posição social do individuo”.
A existência de padrões culturais é necessária tanto para funcionamento de qualquer sociedade como para sua conservação e desenvolvimento. O alimento é algo representativo, embora o comer seja um impulso compartilhado por organismos nos diversos pontos da escala zoológica, uma diferença fundamental existe neste impulso tal qual é manifestado no homem e nos animais.
Não apenas a aprendizagem desempenha um importante papel no tipo de comportamento exibido pela fome, mas também o alimento procurado para saciar a fome é determinado pela cultura em que o individuo vive e convive. Alimentos que são considerados requintes em uma cultura, em outra pode causar repugnância. As crenças, também, influem na classificação dos alimentos considerados apropriados para satisfazer a fome: muitos muçulmanos preferem morrer a comer carne de porco. É um fato apreendido e transmitido de geração para geração como um TRAÇO CULTURAL.
Depende da seletividade que varia de cultura para cultura, precisamente por ser a alimentação um fenômeno cultural. Hábitos alimentares possuem conteúdos simbólicos e cognitivos, relativos à classificação social e à percepção do organismo e das relações entre as substâncias ingeridas.
O alimento quanto mais próximo do homem, do seu habitat, mais se identifica com ele. O individuo nasce com potencial de aprender qualquer Cultura e adquirir atitudes e crenças predominantes, formas e padrões de comportamento apropriados e valores da Cultura que nasce como sendo a herança social do homem, a qual é aprendida e transmitida socialmente.

(Planaltina em Letras, Ano II, nº 7, p. 2, jan/março-2011)
VENTOS
(Vivaldo Bernardes)

- ao amigo Xiko Mendes -

Vejo ventos varrendo vastidões,
violentando viandantes e viajores,
vazam vácuos, violentos vagalhões,
vergando varas, ventos vencedores.

Verdes vidas e vidas vãs, vazias,
Vitimadas, vencidas pelos ventos.
Vendavais virulentos e vadios
viram vidas vividas, vis, violentos.

Na voragem dos ventos vou vivendo,
vencendo verdadeiros vergalhões.
Até vejo que a vida vai valendo...

Vislumbrar os viveres bem vividos,
Visitar, conviver visitações,
é viver, e os ventos ver vencidos.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Crítica à Razão Planaltinocêntrica

Por Xiko Mendes

Há mais de vinte anos convivo em Planaltina-DF com um discurso “planaltinocentrista”. Segundo seus diferentes enunciadores, essa cidade bicentenária cuja colonização inicial remonta às décadas de 1780/90, ou antes, é a Cidade-Mãe de Brasília. Mas o que isso significa? Nada! Pois isso nunca resultou, como contrapartida, em obras e projetos que preservassem de fato seu Passado e dinamizasse o desenvolvimento moderno da cidade. Esse discurso político é essencialmente etnocêntrico e segregacionista. E tal é sua estupidez pseudo-academicista que chega ao cúmulo de defender a “tese” de que Planaltina é quase o “centro do Mundo”, ou melhor, o centro fundante das tradições que antecedem a construção de Brasília.
Esse etnocentrismo sebastianista chegou ao absurdo de querer, sem base documental, inventar vínculos genealógicos que liguem a linhagem de famílias planaltinenses à Nobreza da Coroa Portuguesa e aos bandeirantes como Borba Gato. É um etnocentrismo repelente que se baseia em auto-glorificar uma suposta autoafirmação institucional de Planaltina. Mas não se sustenta na prática tendo em vista que hoje a cidade, com centenas de moradores, cuja maioria é imigrante e, por não descender de “berços nobres nativos”, também não se sente obrigada a seguir ou respeitar essa visão “tradicionalista”.
Esse discurso é dividido em duas vertentes: o Discurso Tradicionalista e o Discurso Anti-tradicionalista. Eles não são diferentes. Ambos se inspiram nessa paupérrima ideologia “autoafirmativista”, manipuladora dos Rituais Simbólicos de Planaltina. A verborragia “tradicionalista” pauta seu discurso na autoafirmação de que certas famílias nativas se acham quase donas da cidade e de todas as tradições construídas pelo Povo quando Planaltina era município de Goiás. Como a moderna historiografia defende, a Tradição é construção coletiva. E tem diferentes enunciadores e mediadores das manifestações culturais de que é o fio condutor simbólico. Por isso, não faz sentido sustentar o argumento de que tem famílias tradicionais e não-tradicionais; sendo as primeiras mais importantes e a quem se deve atribuir o privilégio de carregar na lapela o emblema das tradições planaltinenses. Essa auto-glorificação descabida resvala para o grotesco, pois ninguém mais, a não ser essa gente, concorda com a idéia de que esse Tradicionalismo ambíguo e atávico deve prevalecer.
Aliás, esse discurso só prevaleceu quando parte dessa elite tradicionalista governava Planaltina. Hoje, esse Discurso perdeu por completo sua legitimação política. Exemplo disso é que o povo dessa cidade vem elegendo deputados planaltinenses sem origem nessa “Nobreza Tradicional”. Deslegitimado nas urnas, esse discurso político tenta se sustentar celebrando a Pedra Fundamental, o Museu, a Via-Sacra e a Festa do Divino como mediadores simbólicos desse tradicionalismo démodé quando na verdade esses “pontos de referência” da Identidade planaltinense, hoje, são patrimônio coletivo formador da Consciência Brasiliense e Nacional. É de todos e não de alguns.
Na mesma linha discursiva, há os enunciadores do Discurso Pós-tradicionalista para os quais a Tradição é indispensável para Planaltina-DF autoafirmar-se. Porém, esse discurso não faz a Crítica da Razão “Planaltinocêntrica”. Ao contrário: para eles, certas famílias tradicionais dotadas de consciência nativista “xenófoba” (não gosta das mudanças trazidas pelos imigrantes), não apenas se acham “donas de Planaltina”, como querem manipular, em todo o tempo, a cultura e a história dessa cidade. Erram tanto quanto os tradicionalistas. Criticar famílias tradicionais sem oferecer uma opção discursiva consistente é um grave equívoco dos anti-tradicionalistas. Famílias tradicionais também são partes da matriz formadora do “Povo Planaltinense”.
Estou cansado de ver Pedra Fundamental, Via Sacra e Museu de Planaltina como únicos instrumentos mediadores da tradição pré-candanga. Junto a esses elementos, que são substratos da Cultura “Candangoiana”, há Vale do Amanhecer, Águas Emendadas, PADF (com seus típicos costumes sulistas), entre outros elementos de mediação simbólica que vão além do mero discurso tradicionalista.
Por isso, propomos aqui o Discurso “Planaltinista”: aquele segundo o qual, antes de Brasília, havia o “Sertão Planaltino” (termo cunhado pelo historiador Luiz Ricardo Magalhães em recente tese de doutorado). Planaltinistas, ao nosso modo de ver, devem ser todos aqueles que, além de criticar a “Razão Planaltinocêntrica”, quer conciliar tradição e modernidade numa trama simbólica mais complexa e anti-excludente, que ao mesmo tempo considera o Passado colonial e pré-candango de Planaltina e de toda a região do Planalto Central como indispensáveis à formação do território do DF, enxerga nesse entrecruzamento cultural com os imigrantes a síntese final do “Homo Cerratense” (termo cunhado pelo historiador Paulo Bertran). Paracatu-MG assim como as cidades goianas de Luziânia e Pirenópolis, em primeiro plano, bem como Formosa-GO e Planaltina-DF, em segundo plano, são cidades matrizes dessa Cultura “Planaltina” que precede a existência corpórea de Brasília. Digo isso porque Brasília está presente no discurso político das elites do Brasil desde José Bonifácio (em 1823).
Os planaltinistas devem pautar seu discurso político e acadêmico como pós-tradicionalista, anti-personalista, anti-positivista e anti-segregacionista. Mas não em bases unitárias ou preconceituosas. O Planalto Central, antes de institucionalizar o DF, era uma ampla unidade histórico-cultural que rompia os limites da cartografia oficial e dele fazia parte regiões de Goiás, Minas e Bahia, que, juntas, se irmanavam na mesma tradição de uma Cultura Caipira, típica do Brasil Central, forjada pelo encontro entre o pecuarista dos currais do São Francisco e o minerador do Centro-Oeste.
Para usar um conceito muito usado por historiadores culturais, o Planalto Central é uma fronteira cultural. É um caso típico de hidridismo cultural desde o Brasil-colônia. E Planaltina nunca foi uma ilha. Portanto, ela, sozinha, não é o centro geo-histórico do DF. E nada mais metafórico que as Águas Emendadas para simbolizar esse encontro que funde – frisamos de novo – a tradição e a modernidade sem os abomináveis manipuladores de rituais simbólicos dos tradicionalistas e anti-tradicionalistas. Planaltina é de todos nós! É do Brasil! E viva os 90 anos da Pedra Fundamental como marco zero da consciência caboclo-modernista tupiniquim!

(Planaltina em Letras, Ano II, nº 7, p. 2/3, jan./março-2011)