POESIA: A ARTE DE REVELAR O MUNDO
{Gilberto Martins}
A
poesia tem uma estreita relação com a arte e, essencialmente, com a beleza. Ela
é, em si, a síntese de todas as demais manifestações de ordem estética ou
comunicativa. Sem ela de que nos serviria a pintura, a escultura, a música, a
dança...?
O
texto poético é, por isso mesmo, revelação de sentimento que vem da alma, é
inspiração e o resultado de uma visão única do mundo. O poeta é o grande mestre
das artes. É ele quem nos apresenta o Universo como definitivamente se
descortina diante dos nossos olhos, mas que nem sempre temos a sensibilidade
para percebê-lo.
Martin
Heidegger, filósofo alemão, dizia que os filósofos são os “pastores do ser”. Mas,
e os poetas?
Segundo
H. Peterson, os poetas são os “pastores das palavras”. São os poetas que velam
por elas, que as assistem quando se ferem, indo em busca delas quando se
perdem, conhecendo-as por nome e principalmente pelas imagens que simbolizam. Seus
textos ampliam o nosso mundo, dão formas diversas às coisas, assim como novas e
surpreendentes matizes às cores. E em um cotidiano tão apressado como este em
que vivemos, a poesia diminui o nosso ritmo e o ritmo do mundo.
Não
podemos ler um poema celeremente. Se assim o fizermos, a poesia não tocará
profundamente os nossos corações e nossas almas como se espera. Diferentemente
da prosa que enche a página com palavras, os poemas têm espaços em branco, o
que significa que o silêncio tem o seu lugar ao lado do som como algo
significativo, essencial à apreensão dessas palavras. E o silêncio não se
apercebe na celeridade do tempo nem das ações. Portanto, não podemos mesmo ter
pressa ao ler um poema. Precisamos observar as conexões, sentir a cadência,
ouvir as ressonâncias.
Os
poemas precisam ser lidos, relidos e relidos...
Li
centenas de vezes o poema “Carta”, de Drummond de Andrade. São apenas três
estrofes, quatorze versos, mas um mundo inteiro de sentimentos coube ali
dentro.
É
preciso que nos sentemos diante de um poema da mesma maneira que nos sentamos
diante de uma flor, do mar que se quebra na praia, ou de um ocaso de colorido
impressionante. Dessa forma, a poesia contribui para explorar o real e o
imaginário, permitindo transformações naquilo que aparentemente é real.
A
poesia nada mais é, portanto, que o retrato da nossa imaginação, da nossa
autenticidade, beleza e emoção.
Não
são poucas as vezes que o poeta necessita ser pessimista na razão para ser
otimista na ação.
Ao
longo da história, as ações humanas passaram, passam e sempre passarão pela
poesia, pois esta é simplesmente a mais livre de todas as liberdades. Ao longo
do tempo a poesia jamais se abateu diante do obscurantismo, do terror ou
silêncio impostos.