terça-feira, 31 de janeiro de 2012

POESIA DE XIKO MENDES

Voz Dissonante

(Xiko Mendes)***

Se a maioria se manifesta a favor,
Há algo que merece contestação.
Unanimidade é coisa de ditador;
Calar-se é censurar a contradição.

Discordar deve ser direito natural
De quem ama e luta por liberdade.
Concordar nem sempre é o normal
Se há argumentos contra a verdade.

Viver é libertar-se do autoritarismo,
Inclusive do velho Culto à Certeza.
Viver é ver triunfar meu ceticismo
Na direção inversa à da correnteza.

Serei sempre uma Voz Dissonante
Contra os demagogos e mentirosos.
Unanimidade é coisa de ignorante
Que vibra com discursos falaciosos.

Se concordar com tudo é ignorância;
Divergir de tudo exige inteligência.
E quem protesta dá luz à esperança;
E quem se omite castra a consciência.

Serei sempre uma Voz Dissonante
Celebrando a dúvida como princípio.
Essa é a única certeza no horizonte:
Ter como virtude meu Livre-arbítrio.

Nem sempre concordo com a maioria,
Pois às vezes é bom ser voto vencido
Porque também é útil na Democracia
Rir-se na cara do vencedor arrependido.

Há momentos em que o nosso silêncio
Não é instrumento de falácia alienante:
É quando se diverge do falso consenso
Para traduzir a nossa Voz Dissonante.



Último Discurso de D. Frampaso II

(Xiko Mendes)***

Camaradas!
Abram os olhos e reaja enquanto
A Caravana dos Hipócritas
Percorrem nossas ruas...
Distribuindo promessas e mentiras!
São eles os manipuladores de Opinião Pública
Que enganam nosso Povo e destroem
Os sonhos coletivos que germinam
Um Mundo Novo e promissor.
Abram os olhos, Camaradas,
Contra os demagogos de plantão
Que se postam nas praças semeando
Falsas expectativas de mudança!
São eles os vendilhões de falsas utopias
Que nunca se realizam ou, quando realizadas,
Beneficiam sempre a minoria de privilegiados.
Abram os olhos, Camaradas,
E protestem contra esses lacaios,
Aduladores de gente grã-fina,
Com visão elitista, e para quem
O Pobre só é importante na hora de votar e trabalhar.
Sei que sou um sonhador solitário perdido
No meio dessa multidão de Indiferentes
Que nada fazem para transformar esse mundo-cão
Onde poucos vivem usufruindo de todas as benesses
E a maioria morre de fome, subempregada e
Deserdada dos mais elementares Direitos Naturais.
Abram os olhos, Camaradas,
Que ainda sonham com a Revolução em marcha!
Este é o momento de fazermos passeatas
Que resgatem a Esperança dos escombros
E liberte a Humanidade dos grilhões da Insensatez!
Vamos construir um Mundo Humanitário,
Governado por Humanistas abnegados e sábios,
Desprovidos de sentimentos hipócritas e corruptíveis,
E irmanados pelo desejo de fazer da Vida e da Natureza
A base universal para a redenção do Homem Novo!
Marchemos todos e todas em comunhão libertária
E de braços dados; e de mãos dadas; e de punhos fechados,
Segurando a Bandeira da Liberdade e da Ética
Como princípios basilares e transformadores da
Dramática realidade em que vivemos.
Abram os olhos, Camaradas!
Essa é a hora da Grande Mudança!
Não deixem que os Hipócritas saiam novamente
Vitoriosos neste confronto psicodélico
Entre o Poder Econômico e a Dignidade dos Humildes.
Ajudem com seu voto ou com suas atitudes
A libertar essa Cidade do Comando dos Hipócritas!
Viva a Liberdade!
Viva o Homem Novo e livre!
Não há mudança sem Educação!
Não há Educação sem Ética!
E não há Ética sem Transformação!
Lutem pela Mudança de valores e atitudes!
Eu quero um Mundo Novo,
Uma Cidade Nova, dotada de Consciência
Ética, transformadora e libertária!
E você? Vai ficar aí de braços cruzados?
______________________________________________________________
(***) Estes poemas foram extraídos do livro inédito intitulado Sonhos, Silêncio e Saudade em Minha Viagem ao Fundo do Lago Formoso, autoria do escritor formosense Xiko Mendes.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

POEMA DE XIKO MENDES SOBRE EDUCAÇÃO.

Um Professor Indignado com os Malditos “Anjos de Azul”

(Xiko Mendes)

Eles vêm à sorrelfa no meio da noite;
São íncubos: sugam neurônios e axônios;
Fazem apologia da ignorância e da cleptocracia;
Detestam gente que tem consciência política.
A Política, para eles, é a arte de matar cérebros.
Uns fingem ser amigos da gente;
Só para nos cooptar.
Quando vêem que alguns de nós
Colocam as convicções acima dos cargos,
Dos subornos e da troca de favores,
Aí se afastam, nos retaliam.
Na pedagogia desses malditos Anjos de Azul
Quem não reza na cartilha chapa branca
É transferido de escola ou até de cidade;
É vítima de perseguição política.
A “Justiça” é a deles!
Não há critérios na tomada de decisões;
O critério é ser “amigo do rei”.
Adversários não têm direito de defesa!
Odeiam Professores que questionam muito,
Que não reproduzem a ideologia burguesa do
Livro Didático Preto ou Azul.
Amam professores alienados,
Que trazem esquemas prontos, decorados;
Que brigam para dar aulas sempre nas mesmas turmas.
Sabem por quê?
A Alienação transforma o Homem
Porque retira dele o direito de ser ele próprio.
Fui condenado por eles a sempre mudar de escola.
Dizem que sou “maluco”, falo demais, questiono demais!
Mas adoro ser louco.
A Loucura é o Suspiro da Razão!
Só os loucos não furam greve;
Só os loucos recusam as bênçãos dos Anjos de Azul!
Só os loucos fazem cumprir a profecia de Paulo Freire:
“A Leitura do Mundo precede a Leitura da Palavra”.

domingo, 8 de janeiro de 2012

PLANALTINA-DF é homenageada pelo escritor XIKO MENDES.

A Cidade Onde Moro

                                   Xiko Mendes**

Pacata: Síntese de campo e cidade;
Limite entre o Passado e o Presente;
Antítese idílica da Pós-modernidade.
Nasceu antes da Utopia Candanga,
Atravessou o Tempo... e a Saudade (!)
Louvando as Tradições de quem anda
Tecendo histórias no Templo das Idades.
Incorporou-se ao norte do Distrito Federal.
Nele tornando-se a Terra – Mãe de BRASÍLIA,
A “consciência pré-histórica” desta Epopéia(J)-Kapital,
Desenvolvimentista, lucioscariana, Cosmópolis-Ilha (?),
Faraônica, “mono-mentalizada” no Planalto Central!!


(**)Poema transcrito do livro “Celebração de um Momento Único”, edição de 2003, autoria do Prof. Xiko Mendes.

PLANALTINA-DF é homenageada pelo escritor FRANCIS PAULA (Prof. Xico).

PLANALTINA

Francis Paula (Academia Planaltinense de Letras)


Grito camuflado
Entre os ares de Planaltina.
Sufocado grito no interior
Dos ventos das planícies.
Um pássaro em cada peito
Suplicando espaço...
De Planaltina, só mesmo o nome
Encravado em pedra cinza.
E esse sonhar absurdo
Perdido em azulejos.
Ah! Planaltina, conjecturada nos portais
Dos casarões decadentes,
Sublimada em chafarizes.
Planaltina tem cheiro de ontem.
Perduram de Planaltina só as carícias
Das grossas mãos do Mestre
Selecionando Armas.
Tristes sorrisos de barrocas tardes,
Galos e sinos misturados no ar.
Ah! Planaltina metamorfoseada,
Aurora perdida nas montanhas niveladas,
Memórias cinzeladas em nuvem.
Essa terra perdida entre montes indizíveis
Onde o Homem pisa e logo sente
Que Planaltina plana sonhos plenos.

HINO DE PLANALTINA-DF

HINO DE PLANALTINA


                           Letra: Delphino Spezia. Música: (não sei).

Quando o Novo Bandeirante
Acordou o Brasil Gigante
Do seu sono secular,
Tu já eras Planaltina,
A semente pequenina
Neste solo a vicejar.


Bem no alto da colina,
Tu ergueste Planaltina
A Pedra Fundamental!
Tu és um marco de glória
No Grande Livro da História
Da Redenção Nacional.


REFRÃO
Planaltina, Cidade Pioneira,
Velho berço de um Novo Porvir.
É de ti que a Nação Brasileira
Viu Brasília nascer a sorrir!


Tua briosa juventude
Inda guarda a virtude
De seus velhos ancestrais.
O escudo em seu peito
É o símbolo perfeito
De seus nobres ideais.

PEDRA FUNDAMENTAL EM PLANALTINA É HOMENAGEADA PELO ESCRITOR FRANCISCO DURÃES.

Cinqüentenário da Pedra Fundamental

                                          Francisco Durães (da APL)

Relembro, Doutor Chiquinho,
Um fato acontecido
Nesta Velha Planaltina,
Que deve ser conhecido
Por este País afora
E eu faço com este sentido:

Na Serra da Independência,
No Morro do Centenário,
Existe um Monumento,
Um antigo Relicário,
Que faz hoje cinqüenta anos;
Salva o seu aniversário!

Foi Epitácio Pessoa
Quem o mandou colocar.
Na época era Presidente,
Lutando para governar
Tendo contra si tenentes,
Loucos para o derrubar.

Naturalmente pensou
Que, mudando a Capital,
Seria a grande solução
Para o Progresso Nacional,
Longe da politicagem
E da pressão nacional.

O Engenheiro Balduíno,
Seu Representante,
Fez tudo em Araguari,
Vindo em seu carro ao volante,
Liderando outros fordes,
Com a Pedra chegando ao Monte.

Precisamente ao meio-dia,
Ela foi inaugurada,
Sendo posta em sua Base,
Uma Urna que, selada,
Guardou os Papéis Históricos
Daquela Data Sagrada.

Dizem que foi um lindo dia,
Com o céu azul cor de anil
Realçando os verdes campos
Num dia primaveril...
Flores amarelas, brancas...
Todas cores do Brasil!

Tudo passou como um sonho
Para que não fosse esquecida.
Gente daqui teve a idéia:
Doar terra a ser vendida.
E o Intendente Deodato
Fez ela ser bem cumprida.

O Washington Luiz na capa,
Fez a sua propaganda,
Num retrato oficial,
Por todo este País anda,
“Paulista” de Macaé,
Austero ele a comanda...

A Revolução de Trinta,
Com a “Paulista” logo após,
Intentona Comunista,
Integralismo feroz,
Conseqüência: “Estado Novo”.
Planaltina e ela a sós...

Veio a Guerra e, agredidos,
Contra o “Eixo” nós lutamos.
Estivemos lá na Itália.
O seu solo libertamos.
Voltamos vitoriosos
E o Ditador derrubamos.

Os democratas de novo,
Da velha Pedra lembraram.
Comissões foram mandadas.
Quadrilátero estudaram.
De “Poly” a “Zé Pessoa”,
Cinco sítios selecionaram.

O Castanho foi o escolhido;
E assumindo o seu papel,
JK, um homem convicto,
Juntando-se ao Israel,
Trouxe a Capital, do Rio,
Para a nossa Cidade-Céu.

Lúcio Costa e Niemeyer
Fizeram esta Cinderela,
Deslumbrando o mundo inteiro
Nessa imensa Passarela;
E a Pedra, no seu outeiro,
Esperava o dia dela.

“Revolução Redentora”
A consolidou afinal,
Construindo um heliporto,
Urbanizando o Local,
Dando um novo ponto turístico
Ao Distrito Federal.

Dizem: nenhum presidente,
O Marco veio visitar;
Esperamos ser o Médici
Para homenagem prestar
Ao “Velho Antecessor”
Que, em espírito, há de estar.

Não poderia deixar
O Hélio Prates de fora,
Pois foi na sua gestão
Que o Setor teve melhora.
Esperamos que ele esteja,
Com o Presidente na hora.

Terminando, homenageio
Os que não pude citar.
Uns conheci, outros não.
Mas todos hão de ficar
No coração deste Povo
Que com orgulho há de lembrar.

P.S.: Este poema foi lido pelo autor no dia Sete de Setembro de 1972, durante solenidade em comemoração ao aniversário de 50 anos da Pedra Fundamental, em Planaltina-DF. Fonte: Mendes, Xiko (Org.). Momento Literário de Planaltina, Academia Planaltinense de Letras: Bbs, 1999, P.97-100.

PLANALTINA-DF e BRASILIA precisam homenagear LAURO MÜLLER: ele foi quem colocou na Constituição de 1891 a futura demarcação do território do DISTRITO FEDERAL.

Deputado Lauro Müller: Responsável por incluir na Constituição Federal de 1891 a Demarcação do Futuro Distrito Federal

Lauro Severiano Müller (Itajaí, 8 de novembro de 1863 — Rio de Janeiro, 30 de julho de 1926) foi um político e diplomata brasileiro. Filho do imigrante alemão Peter Müller e Ana Maria Michels Müller, primo-irmão de Filipe Schmidt pelo lado materno. Apaixonado discípulo do positivismo de Benjamin Constant, ingressou na carreira militar na província natal. Foi alferes em 1885, segundo-tenente em 1889, primeiro-tenente em 1890, major em 1900, tenente-coronel em 1906, coronel em 1912, general-de-brigada em 1914 e general-de-divisão em 1921.

A sua carreira pública começou em 1889, quando foi nomeado por Deodoro da Fonseca governador provisório da província transformada em estado de Santa Catarina, governando o estado de 2 de dezembro de 1889 a 24 de agosto de 1890, quando foi residir no Rio de Janeiro a fim de assumir o cargo de deputado à Assembléia Nacional Constituinte, tendo o vice-governador Raulino Horn assumido o governo. Reassumiu o governo em 29 de setembro de 1890, permanecendo até 5 de outubro, quando repassou o governo para Raulino Horn a fim de retornar ao Rio de Janeiro. Quando ocupando a posição de Chanceler recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Harvard.

Foi deputado federal, senador e ministro de Estado. Empreendeu grandes reformas quando na pasta do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, na presidência de Rodrigues Alves, nomeado por decreto de 15 de novembro de 1902, de 15 de novembro de 1902 a 15 de novembro de 1906. Foi Ministro das Relações Exteriores nas presidências de Hermes da Fonseca, de 14 de fevereiro de 1912 a 15 de novembro de 1914, e de Venceslau Brás, de 15 de novembro de 1914 a 7 de maio de 1917. Defendeu a neutralidade brasileira durante a Primeira Guerra Mundial, premido por pressões da imprensa alertando contra o perigo alemão e discursos inflamados de Rui Barbosa, foi obrigado a renunciar por causa de suas origens germânicas [1]

Tornou-se popular por algumas obras, como a construção da Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, e os melhoramentos do porto do Rio de Janeiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. É patrono de uma das quarenta cadeiras da Academia Catarinense de Letras.

Foi o primeiro governador republicano de Santa Catarina, nomeado em 02 de dezembro de 1889 pelo Marechal Deodoro da Fonseca, para o período de 1889 a 1890. Foi eleito, ainda, pela Assembléia, para um segundo período, governado até 1891. Em 07 de janeiro de 1890, Müller dissolve as câmaras municipais e cria conselhos, constituídos por intendentes municipais. Em 24 de agosto do mesmo ano, deixa o governo e toma posse na Câmara Federal. No dia 16 de setembro de 1890, são realizadas as primeiras eleições indiretas para governador e vices. São eleitos os republicanos Lauro Müller como governador, Raulino Horn como primeiro-vice e Gustavo Richard como segundo-vice.

Em 29 de setembro, um mês após ter tomado posse na Câmara Federal, Lauro Müller reassume o governo do Estado, pois Deodoro da Fonseca havia dissolvido o Congresso. Müller fica no poder até o dia 05 de outubro, quando passa o cargo ao seu primeiro vice, Raulino Horn, e retorna ao Rio de Janeiro para assumir como deputado, já que a Câmara havia sido reconvocada por Floriano Peixoto, que substituiu Deodoro. Raulino governa por apenas cinco dias, passa o governo ao segundo-vice Gustavo Richard e segue para o Rio de Janeiro, onde assume como senador. Em novembro de 1891, Lauro retorna e reassume o governo. Em 28 de dezembro, renuncia ao cargo e volta para a Câmara. Como representante do Estado a nível nacional, faz o plano viário para Santa Catarina. Em 1890, é inaugurada, ainda, a estrada entre Nova Trento e Tijucas e também de Tijucas a Porto Belo.

Em 29 de dezembro de 1891, Lauro Müller renuncia ao governo, por pressão dos federalistas catarinenses, que haviam enviado um grupo para agredir fisicamente Müller, intimidando-o a deixar o governo. Ainda assim, o governador resiste para evitar derramamento de sangue. Assim, Müller volta para o Rio de Janeiro, assume seu cargo de deputado federal e continua defendendo a queda do federalismo.

FONTE: WIKIPEDIA.

sábado, 7 de janeiro de 2012

PLANALTINA-DF (Defesa da Pedra Fundamental como PATRIMÔNIO HISTÓRICO NACIONAL).

A Pedra Fundamental, em Planaltina-DF, Marco Zero da Construção de Brasília, pode ser Patrimônio Histórico Nacional tombado pelo IPHAN?

Prof. Xiko Mendes (da APL)
O desafio de criar uma nova capital federal foi um sonho almejado por muitos. Mas sempre alvo de obstáculos intransponíveis. Os Inconfidentes, em 1789. A Confederação do Equador, em 1824. Tiradentes, William Pitt, Veloso de Oliveira, Hipólito José da Costa, José Bonifácio, Holanda Cavalcanti, Visconde de Porto Seguro, Lauro Müller... Tantos e tantos outros homens e movimentos tentaram. Mas somente com a Constituição Federal de 1891 – a primeira de conteúdo republicano, é que, finalmente, era inserido no artigo 3º daquela carta magna a obrigatoriedade de demarcação de um perímetro de 14,4 mil Km2 para ali, no centro do país, “estabelecer-se a futura capital federal”.
Ficou conhecido como Emenda Lauro Müller o texto que gerou o artigo terceiro da Carta de 1891. Foi assinado por 90 congressistas constituintes (16 senadores e 74 deputados de quase todos os estados da Federação, exceto RJ, PA e RN). Deputado catarinense, Müller foi quem apresentou ao Plenário daquela Assembléia Constituinte esse projeto. O resultado disso foi a aprovação da Portaria 114-A que criou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, conhecida como Missão Cruls. Essa missão chegou ao Planalto Central, em junho de 1892. E aqui realizou estudos minuciosos em diferentes aspectos. A pesquisa foi concluída com a publicação do Relatório Cruls, em 1894.
O primeiro resultado concreto da Missão Cruls foi a edificação de um obelisco, no Morro do Centenário, nas proximidades do Perímetro Urbano do então município goiano, hoje Planaltina-DF. Esse obelisco foi inaugurado em sete de setembro de 1922 durante as Comemorações do Centenário da Independência do Brasil. Denominou-se esse obelisco de Pedra Fundamental da Construção de Brasília por ser ele considerado como um “selo de compromisso da nação brasileira” em transferir a capital federal do Rio de Janeiro para a parte mais central do nosso país. O lançamento dessa Pedra Fundamental foi obra cuja co-autoria é atribuída aos deputados Americano do Brasil e Rodrigues Machado (que assinaram a iniciativa do projeto), ao Engenheiro Ernesto Balduíno que foi responsável em chefiar a equipe que construiu o obelisco, e ao Presidente da República, Epitácio Pessoa, que, em nome da Pátria, oficializou tão magnífico ato inaugural de um novo tempo para a consciência nacional.
Em sete de setembro de 2012 comemoraremos 90 anos do lançamento da Pedra Fundamental. Essa não é apenas uma comemoração dos moradores de Planaltina-DF. É, sim, uma comemoração cujo resultado concreto deve envolver a participação do Governo do Distrito Federal e do Governo Federal por meio de ações efetivas que tragam benefícios duradouros e não somente de caráter festivo e efêmero. Propõem-se, nesse momento, que o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) oficialize o tombamento desse obelisco como Patrimônio Nacional do Povo Brasileiro tendo em vista que ele é, efetivamente, o Marco Zero do Compromisso da República em mudar a capital federal.
Propõem-se, como conseqüência do Tombamento da Pedra como Patrimônio Histórico Nacional, que o GDF, em parceria com o Governo Federal e com participação da Administração Regional de Planaltina, criem um conjunto de ações comuns incluídas em um Calendário Nacional de Comemorações do BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL em sete de setembro do ano 2022, que envolve, entre outros itens, a divulgação e a preservação da Pedra Fundamental.
Também propõem-se que a Câmara Legislativa do Distrito Federal e o GDF edifiquem, ao lado da Pedra Fundamental, uma estátua do Deputado Lauro Müller como responsável por apresentar ao Plenário da Assembléia Constituinte de 1890 a Emenda que gerou o Artigo 3º da CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1891. Junto à estátua, que seja afixada uma Placa Comemorativa aos 90 Anos da Pedra Fundamental. Nessa placa sugere-se duas listas: uma com a nominata dos responsáveis por erigir o obelisco; e outra com a nominata indicando os 90 constituintes coautores da emenda citada. Justifica-se, igualmente, essas propostas por estarem relacionadas ao dispositivo constitucional do qual gerou a Missão Cruls (1892-1894) e o Lançamento da Pedra Fundamental em Planaltina (1922). Com esses atos comemorativos, estaremos homenageando, como Reconhecimento Público definitivo, os 90 congressistas signatários dessa emenda e a memória de Lauro Müller, personagem que até hoje é ignorada por autoridades e população de Brasília.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

PLANALTINA-DF (Reflexão sobre os 90 Anos da PEDRA FUNDAMENTAL em setembro de 2012).

Crítica à Razão Planaltinocêntrica

Prof. Xiko Mendes
(Historiador e membro da Academia Planaltinense de Letras).

Há mais de vinte anos convivo em Planaltina-DF com um discurso “planaltinocentrista”. Segundo seus diferentes enunciadores, essa cidade bicentenária cuja colonização inicial remonta às décadas de 1780/90, ou antes, é a Cidade-Mãe de Brasília. Mas o que isso significa? Nada! Pois isso nunca resultou, como contrapartida, em obras e projetos que preservassem de fato seu Passado e dinamizasse o desenvolvimento moderno da cidade. Esse discurso político é essencialmente etnocêntrico e segregacionista. E tal é sua estupidez pseudo-academicista que chega ao cúmulo de defender a “tese” de que Planaltina é quase o “centro do Mundo”, ou melhor, o centro fundante das tradições que antecedem a construção de Brasília.

Esse etnocentrismo sebastianista chegou ao absurdo de querer, sem base documental, inventar vínculos genealógicos que liguem a linhagem de famílias planaltinenses à Nobreza da Coroa Portuguesa e aos bandeirantes como Borba Gato. É um etnocentrismo repelente que se baseia em auto-glorificar uma suposta autoafirmação institucional de Planaltina. Mas não se sustenta na prática tendo em vista que hoje a cidade, com centenas de moradores, cuja maioria é imigrante e, por não descender de “berços nobres nativos”, também não se sente obrigada a seguir ou respeitar essa visão “tradicionalista”.

Esse discurso é dividido em duas vertentes: o Discurso Tradicionalista e o Discurso Anti-tradicionalista. Eles não são diferentes. Ambos se inspiram nessa paupérrima ideologia “autoafirmativista”, manipuladora dos Rituais Simbólicos de Planaltina. A verborragia “tradicionalista” pauta seu discurso na autoafirmação de que certas famílias nativas se acham quase donas da cidade e de todas as tradições construídas pelo Povo quando Planaltina era município de Goiás. Como a moderna historiografia defende, a Tradição é construção coletiva. E tem diferentes enunciadores e mediadores das manifestações culturais de que é o fio condutor simbólico. Por isso, não faz sentido sustentar o argumento de que tem famílias tradicionais e não-tradicionais; sendo as primeiras mais importantes e a quem se deve atribuir o privilégio de carregar na lapela o emblema das tradições planaltinenses. Essa auto-glorificação descabida resvala para o grotesco, pois ninguém mais, a não ser essa gente, concorda com a idéia de que esse Tradicionalismo ambíguo e atávico, deve prevalecer.

Aliás, esse discurso só prevaleceu quando parte dessa elite tradicionalista governava Planaltina. Hoje, esse Discurso perdeu por completo sua legitimação política. Exemplo disso é que o povo dessa cidade vem elegendo deputados planaltinenses sem origem nessa “Nobreza Tradicional”. Deslegitimado nas urnas, esse discurso político tenta se sustentar celebrando a Pedra Fundamental, o Museu, a Via-Sacra e a Festa do Divino como mediadores simbólicos desse tradicionalismo démodé quando na verdade esses “pontos de referência” da Identidade planaltinense, hoje, são patrimônio coletivo formador da Consciência Brasiliense e Nacional. É de todos e não de alguns.

Na mesma linha discursiva, há os enunciadores do Discurso Pós-tradicionalista para os quais a Tradição é indispensável para Planaltina-DF autoafirmar-se. Porém, esse discurso não faz a Crítica da Razão “Planaltinocêntrica”. Ao contrário: para eles, certas famílias tradicionais dotadas de consciência nativista “xenófoba” (não gosta das mudanças trazidas pelos imigrantes), não apenas se acham “donas de Planaltina”, como querem manipular, em todo o tempo, a cultura e a história dessa cidade. Erram tanto quanto os tradicionalistas. Criticar famílias tradicionais sem oferecer uma opção discursiva consistente é um grave equívoco dos anti-tradicionalistas. Famílias tradicionais também são partes da matriz formadora do “Povo Planaltinense”.

Estou cansado de ver Pedra Fundamental, Via Sacra e Museu de Planaltina como únicos instrumentos mediadores da tradição pré-candanga. Junto a esses elementos, que são substratos da Cultura “Candangoiana”, há Vale do Amanhecer, Águas Emendadas, PADF (com seus típicos costumes sulistas), entre outros elementos de mediação simbólica que vão além do mero discurso tradicionalista.
Por isso, propomos aqui o Discurso “Planaltinista”: aquele segundo o qual, antes de Brasília, havia o “Sertão Planaltino” (termo cunhado pelo historiador Luiz Ricardo Magalhães em recente tese de doutorado). Planaltinistas, ao nosso modo de ver, devem ser todos aqueles que, além de criticar a “Razão Planaltinocêntrica”, quer conciliar tradição e modernidade numa trama simbólica mais complexa e anti-excludente, que ao mesmo tempo que considera o Passado colonial e pré-candango de Planaltina e de toda a região do Planalto Central como indispensáveis à formação do território do DF, enxerga nesse entrecruzamento cultural com os imigrantes a síntese final do “Homo Cerratense” (termo cunhado pelo historiador Paulo Bertran). Paracatu-MG assim como as cidades goianas de Luziânia e Pirenópolis, em primeiro plano, bem como Formosa-GO e Planaltina-DF, em segundo plano, são cidades matrizes dessa Cultura “Planaltina” que precede a existência corpórea de Brasília. Digo isso porque Brasília está presente no discurso político das elites do Brasil desde José Bonifácio (em 1823).

Os planaltinistas devem pautar seu discurso político e acadêmico como pós-tradicionalista, anti-personalista, anti-positivista e anti-segregacionista. Mas não em bases unitárias ou preconceituosas. O Planalto Central, antes de institucionalizar o DF, era uma ampla unidade histórico-cultural que rompia os limites da cartografia oficial e dele fazia parte regiões de Goiás, Minas e Bahia, que, juntas, se irmanavam na mesma tradição de uma Cultura Caipira, típica do Brasil Central, forjada pelo encontro entre o pecuarista dos currais do São Francisco e o minerador do Centro-Oeste.

Para usar um conceito muito usado por historiadores culturais, o Planalto Central é uma fronteira cultural. É um caso típico de hidridismo cultural desde o Brasil-colônia. E Planaltina nunca foi uma ilha. Portanto, ela, sozinha, não é o centro geo-histórico do DF. E nada mais metafórico que as Águas Emendadas para simbolizar esse encontro que funde – frisamos de novo – a tradição e a modernidade sem os abomináveis manipuladores de rituais simbólicos dos tradicionalistas e anti-tradicionalistas. Planaltina é de todos nós! É do Brasil! E viva os 90 anos da Pedra Fundamental como marco zero da consciência caboclo-modernista tupiniquim!