ORIGEM HISTÓRICA DAS ACADEMIAS DE LETRAS
(por Vivaldi Moreira)
A Academia
original foi uma escola fundada em 387 a.C., próxima a Atenas, pelo filósofo
Platão. Nessa escola, dedicada às musas, onde se professava um ensino informal
através de lições e diálogos entre os mestres e os discípulos, o filósofo
pretendia reunir contribuições de diversos campos do saber como a filosofia, a
matemática, a música, a astronomia e a legislação. Seus jovens seguidores
dariam continuidade a este trabalho que viria a se constituir num dos capítulos
importantes da história do saber ocidental. A escola era formada de uma
biblioteca, uma residência e um jardim.
Pela tradição,
este jardim teria pertencido a Academus - herói ateniense da guerra de Tróia
(século XII a.C.), e por isso era chamado de academia.
As mais
conhecidas academias gregas foram a Antiga Academia, fundada por Platão, que
teve entre seus mestres o matemático Eudóxio de Cnido, e como discípulos, entre
outros, Aristóteles, Xenócrates e Espeusipo; a chamada Academia do Meio,
fundada pelo filósofo platônico grego Arcesilaus e a Nova Academia, fundada
pelo filósofo cético grego Carneades. Essa tradição que deu origem a todas as
academias e universidades de ensino superior do Ocidente foi interrompida com o
seu fechamento pelo imperador romano Justiniano em 529 d.C. Diversas academias
de poetas e artistas se estabeleceram na França e na Itália nos séculos XIII e
XIV.
A Academia
Platônica, fundada em Florença por volta de 1440, foi a mais famosa academia da
Renascença italiana. Ela se dedicou a aprofundar o estudo da obra de Platão, ao
aprimoramento da língua italiana e ao estudo de Dante. A Academia Francesa -
que serviu de modelo à Academia Brasileira e por extensão a Academia de Letras
e Artes da Serra, ES - foi fundada, em 1635, por iniciativa do Cardeal
Richelieu que obteve a autorização para seu funcionamento do Rei Luís XIII, com
a principal finalidade de tornar a língua francesa "pura, eloqüente, e
capaz de tratar das artes e ciências."
A Academia
Francesa tem cumprido essa missão, também, através das sucessivas edições de
seu Dicionário. Oito edições já foram realizadas entre 1694 e 1932, estando em
curso os trabalhos da nona edição. As entradas do Dicionário são conservadoras
e sempre ilustradas através de citações literárias; termos chulos, gíria e
expressões coloquiais são evitados. Essa mesma orientação foi seguida na
Gramática da Academia Francesa publicada em 1932.
Constituída por
quarenta cadeiras, cujos ocupantes perpétuos são eleitos, depois de se
apresentarem como candidatos a uma vaga, apresentando suas qualificações. O
novo acadêmico toma posse discursando em agradecimento à Academia e realizando
o elogio de seu antecessor.
Marcos
históricos recentes da Academia Francesa foram a eleição do primeiro
estrangeiro, Julian Green, romancista americano que escrevia em francês, em
1971, e da primeira mulher acadêmica, Marguerite Yourcenar, em 1981. Neste
último caso, a Academia Brasileira, com a eleição de Rachel de Queiroz em 1977,
antecedeu em quatro anos sua congênere francesa.
Já a Academia
Brasileira de Letras foi criada na segunda metade do século XIX, quando o Rio
de Janeiro já apresentava uma vida literária marcada pelas reuniões de
escritores e publicações de periódicos voltados para a literatura. Pontos de
encontro, como as livrarias Laemmert e, posteriormente, a Garnier, mantinham a
regularidade dessas reuniões.
A criação da
Academia foi ideia lançada por um grupo de jovens escritores, dando corpo às
propostas iniciais de Lúcio Mendonça e Medeiros e Albuquerque. Em 1896,
sucessivos encontros na redação da Revista Brasileira, dirigida então por José
Veríssimo, assumiram a forma de sessões preparatórias. Em 15 de dezembro,
Machado de Assis foi aclamado primeiro Presidente da Academia Brasileira de
Letras, e esta teve sua Diretoria e seus Estatutos definidos em 28 de janeiro
de 1897.