PRÓLOGO PARA O MEU LIVRO DA VIDA
(Xiko Mendes)
Somos
a história que construímos ao longo da trajetória de nossa curta existência
terrena. O Livro da Vida não é como um caderno de escola onde usamos corretivo
ou passamos a borracha em tudo que escrevemos. No Livro da Vida, a releitura de
cada página muitas vezes nos faz chorar, outras vezes nos fazem rir sozinhos,
mas em qualquer das duas situações, é a caneta (livre-arbítrio) que utilizamos
na escrita da existência que define o que os outros falarão sobre nós, hoje ou
quando morrermos, e deixarmos aqui inscritos nas pedras (lápides) do mundo
nossos erros e acertos. Independente do que a Posteridade vir a julgar sobre
erros e acertos, uma coisa é certa: a Vida é sempre um livro inacabado, cheio
de rabiscos, correções pela metade, anotações (margem de erro) em
mosaico-labirinto, mas a vida nunca se reescreve em tintas diferentes daquelas
que escolhemos para pintar nossa felicidade ou tristeza.
O Livro da Vida
é um manuscrito-palimpsesto, inalterável e imponderável, sobre o qual nunca se
escreve nada que não seja consequência dos atos (certos ou errados) tomados
durante nossa existência. Podemos até tentar rasgar muitas páginas do livro de
nossa vida, mas elas persistirão, inquietas e movediças, trilhando, como
fantasmas sonâmbulos, noites de insônia (por arrependimento decidido tarde
demais) ou dias de tédio (por termos tomado decisões erradas ou irreversíveis).
No
Livro da Vida não há heróis ou bandidos, absolvidos ou condenados. Há sempre
alguém que reinventa o pecado para o eterno ritual de expiação de seus erros.
Há sempre alguém agindo como Cérbero fechando janelas e impedindo portas de se
abrirem para contemplarmos a beleza do mundo, o mistério da vida, nas bordas
fronteiriças do Universo. Mas, sempre e sempre mesmo, na última página do Livro
da Vida, como epílogo ou epitáfio, haverá sempre um espaço em branco para
usarmos a caneta de nossa existência e deixar nele nossas últimas palavras como
honras fúnebres: PERDÃO, REDENÇÃO, RECOMEÇO, AMOR, RESIGNAÇÃO...
O Livro da Vida
não é purgatório nem limbo, não é manual de escatologia do juízo final com
palavras ditadas por profetas
inconsequentes, mas nele há prólogo e epílogo sem determinismo teleológico
porque a Vida quer de nós mais que coragem, mais que arrependimento, mais que
desculpas para um fim com absolvição no leito de morte. A Vida quer de cada um
é atitude autocrítica e humanística para consigo mesmo e para com os outros,
ATITUDE COM HUMILDADE para mudar o que não é possível de se reescrever no Livro
da Vida.
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